Alguns meses após a pandemia do novo coronavírus se instalar no Brasil, soou um alarme nos consultórios odontológicos. O estresse e a ansiedade gerados pela crise sanitária estariam provocando o aumento de pacientes com bruxismo e com as chamadas disfunções temporomandibulares.
Antes de avançar na questão é importante deixar claro o significado dessas duas condições. Bruxismo é um comportamento que envolve o apertamento ou o ranger dos dentes, que pode acontecer durante o dia, o chamado bruxismo de vigília, ou durante a noite, denominado bruxismo do sono.
Já as disfunções temporomandibulares abrangem alterações na articulação que abre e fecha a boca, a chamada articulação temporomandibular (ATM). Tem relação ainda com os músculos da mastigação e outras estruturas associadas.
"A sobrecarga do sistema nervoso pode manter quadros de dor em indivíduos mais vulneráveis", afirma Camila Megale, cirurgiã-dentista especialista em Disfunção Temporomandibular (DTM) e Dor Orofacial. De acordo com ela, existe uma relação significativa entre DTM, depressão e ansiedade. Além disso, diz Camila, a DTM tem maior incidência em mulheres de 20 a 40 anos. Os sintomas mais comuns são dor na face e na mandíbula, além de estalos ou ruídos ao mastigar. Outro sinal é a dificuldade em abrir e fechar a boca. De maneira semelhante, também existe uma associação entre estresse, ansiedade e bruxismo.
"Pessoas com alto nível de estresse têm seis vezes mais chances de desenvolver bruxismo", afirma. A DTM, diz Camila, tem mais incidência em mulheres de 20 a 40 anos. Os sintomas mais comuns são dor na face e na mandíbula, além de estalos ou ruídos ao mastigar. Outro sinal é a dificuldade em abrir e fechar a boca.
Ainda em abril de 2020, poucos meses após o surto da Covid-19 aterrissar no Brasil, Camila publicou um estudo sobre o impacto da pandemia na área da DTM e Dor Orofacial. O artigo foi produzido em parceria com outros dois pesquisadores, a doutora Juliana Stuginski-Barbosa e o doutor Paulo César Rodrigues Conti, da Faculdade de Odontologia de Bauru/USP. O trabalho já lançava a hipótese da relação entre a pandemia e o aumento de casos da área. "De fato, tantos os dentistas de modo geral, quanto os especialistas em DTM/DOF, têm percebido um aumento na procura por atendimento em função dessas condições", diz Camila, que também é professora associada do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.
Cirurgião-dentista e especialista em DTM/DOF, Marcelo Mascarenhas é um dos que confirmam o aumento de pacientes reclamando de sintomas associados à DTM e Bruxismo. "O isolamento social que estamos vivenciando pode desencadear ou aumentar o estresse, a ansiedade e depressão", diz. Portanto, além de tratamentos com medicamentos e fisioterapia, é aconselhado que o paciente diagnosticado com DTM tente entender e controlar a fonte da ansiedade/estresse. "O uso de técnicas de relaxamento proporciona o restabelecimento de uma conexão positiva com a realidade em relação à regulação das emoções, melhoria da angústia e diminuição do medo", diz.
Bernardo Scarioli, otorrinolaringologista e cirurgião craniomaxilofacial do Hospital Felício Rocho, ressalta que a DTM é uma área ainda pouco conhecida entre o público. Para complicar, sintomas como dores de ouvido, de cabeça e na face, muito comuns em pessoas com DTM, podem ser confundidos com outras doenças. "Por isso, a importância do paciente ser avaliado de forma ampla, e não tratar apenas o sintoma", afirma. Depois de diagnosticado bruxismo ou DTM, a recomendação é seguir o tratamento de um profissional especializado. E, claro, tentar controlar a ansiedade e o estresse.
Principais sintomas da disfunção temporomandibular (DTM)
Dor de cabeça
Estalos ao abrir e fechar a boca
Dificuldade para morder e mastigar alimentos
Fadiga muscular
Abertura limitada da boca
Travamento da mandíbula
Dor no ouvido
Zumbido
Correio Braziliense
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