Nas margens do lado direito do Rio São Francisco, Juazeiro-Bahia, terra de João Gilberto e Ivete Sangalo, a figura de José Afonso da Cunha Martins não passa despercebido. Trata-se do ator e artesão e os seus inúmeros apelidos: Afonso Conselheiro, Minha Pedra.
Nascido em Patumaté-Bahia em 19 de fevereiro de 1948, Afonso Conselheiro completou 73 anos. Diz que adotou o Rio São Francisco e a cultura gonzagueano como filhos. O ator que vive em Juazeiro desde 1965, diz que um dos momentos mais produtivos de sua vida foi a gravação da novela da Rede Globo "Senhora do Destino". A novela está em exibição "Vale a Pena Ver de Novo" nos finais da tarde e Afonso contracena com atrizes Renata Sorah, Carolina Dickman e Suzana Vieira e o saudoso José Wilker.
"Diante da dificuldade em dar sustento a seus filhos pequenos, a jovem nordestina Maria do Carmo Ferreira da Silva deixa a pequena Belém de São Francisco, no interior de Pernambuco, disposta a encontrar na cidade grande uma forma mais digna de criar seus rebentos. Quando chega ao Rio de Janeiro, a retirante encontra uma cidade à beira do caos. Era dezembro de 1968 e o governo do país decretara o Ato Institucional número cinco, o AI-5. A história da novela parte desse fato", diz Conselheiro.
Afonso todo ano participa da Romaria de Canudos onde encarna as vestes de Antonio Conselheiro. "Não perco este momento de fé e resistência cultural. Antonio Conselheiro era um visionário", finaliza Afonso.
Confira texto de Valternilo Pimentel:
Estamos sempre divulgando gente boa e desta vez, focalizaremos o artesão José Afonso da Cunha Martins, mais conhecido por “Matusalém", apelido que ganhou quando participou da novela Senhora do Destino. Afonso achava um pouco constrangedor perguntar o nome das pessoas e então passou a chamá-las de "Minha pedra", apelido que também incorporou. Ele também é conhecido como Afonso Conselheiro (devido a sua extensa barba, cabelos compridos e por representar Antônio Conselheiro grande revolucionário de Canudos-Bahia). Afonso é natural de Patamuté, mais precisamente da Fazenda Boa Esperança, no interior de Curaçá.
O artesanato é uma técnica manual utilizada para produzir objetos feitos a partir de matéria-prima natural. Normalmente Afonso faz seu artesanato em lata dentro de sua própria casa ou em uma pequena oficina. A partir da Revolução Industrial, que iniciou na Inglaterra, o artesanato foi fortemente desvalorizado, deixou de ser tão importante, já que neste período capitalista o trabalho foi dividido colocando determinadas pessoas para realizarem funções específicas, essas deixaram de participar de todo o processo de fabricação. Além disso, os artesãos eram submetidos às péssimas condições de trabalho e baixa remuneração. Hoje, o artesanato voltou a ter prestígio e importância. Continua a buscar elementos naturais para desenvolver suas peças originadas do barro, couro, pedra, folhas e ramos secos entre outros. Em todas as regiões é possível encontrar artesanatos diversificados originados a partir da natureza típica do local e de técnicas específicas.
O artesanato é reconhecido em áreas como bijuterias, bordados, cerâmica, vidro, gesso, mosaicos, pinturas, velas, sabonetes, saches, caixas variadas, reciclagem, metais, brinquedos, arranjos, apliques, além de várias técnicas distintas utilizadas para a fabricação de peças.
"Eu, no entanto, desenvolvi o reaproveitamento de latas de cervejas e refrigerantes para a fabricação de canecas, chapéus, toalhas, camisetas e outras peças que podem ser utilizadas no lar, uso a precisão e traço nas mãos, em cada peça fabricada vejo naquela arte, uma parte do meu corpo que me conduz a felicidade de poder compartilhar com quem adquire o meu produto a um reconhecimento também pelo trabalho realizado, e a busca de mais outras obras, pois a vida do artista precisa de sensibilidade para perceber que muitas vezes a realização de uma pessoa pode estar marcada na peça criada e seus apliques podendo transmitir lembranças e até mesmo conquistando a ingenuidade de uma criança ao ver sua foto plotada na peça. Me sinto gratificado” conclui emocionado.
Antigo morador de Juazeiro na década de 60 e no esplendor da juventude estudou no Colégio Rui Barbosa, Colégio Dom Bosco e Colégio Estadual em Petrolina-Pe. Em 1969 resolve viajar à São Paulo onde trabalha como Operador de Caldeira, na Laborfarma como embalador, foi informante no Instituto de Energia Atômica na USP-Cidade Universitária, ajudante de mecânico na Água Funda. Retornando a Juazeiro no ano de 1975, onde trabalhou em banca de revista de Moailton Lopes e depois numa loja de discos com Moanilton Mesquita Lopes, em Senhor do Bonfim, sendo que um dia montou uma loja de discos de sua propriedade e de seu irmão. Logo depois retorna à Fazenda Boa Esperança onde torna-se criador de ovinos com seu pai. Neste foi convidado por Gildemar Sena para fazer o papel de Antônio Conselheiro nos 100 anos do massacre de Canudos ocorrido em 1997 e, até hoje é o convidado a exercer esta representação de “ Conselheiro” herdando, portanto, o apelido.
Afonso Conselheiro também foi um carnavalesco fervoroso, lembra que em 1960 entusiasmado com o carnaval de rua juntou-se com colegas e faziam a diversão nas ruas e ainda não tinha despertado o carnaval nos clubes. Anos mais tarde, a convite de amigos frequentadores dos clubes Sociais, resolve acompanhá-los tanto na Sociedade Apolo Juazeirense e 28 de Setembro durante à noite e a Sociedade Artífices Juazeirense durante as matinês.
O seu Bloco de Carnaval foi “ Os Pirados” constituído de homens e mulheres que tinham como vestimenta uma mortalha azul com a logomarca de um negro com cabelo Black Power e barba em cor branca, com cerca de 30 componentes alguns com instrumentos de percussão e muito samba. A concentração era no Largo Dois de Julho; recorda-se de algumas pessoas que deram o sustentáculo do Bloco como: Expedito Alves, os irmãos Durval (In Memorian ) Bernadeth de Dona Almerinda, Pinguim, “Seu Lobo”, Pinduca, Josias Gomes, Professor Arimatéia, Carlinhos de “Rachosa”, Zé Mucine, Hildelbrando,Tavares (In memorian ) Carlinhos meu irmão, “Biba”, e toda sua família, enfim nosso bloco era muito unido. Com o decorrer dos anos os jovens tiveram que procurar seu próprio rumo para ter sua independência, culminando com sua dissolução e deixando muitas saudades.
Afonso decide, não participar mais de bloco percussivo e passa brincar seu próprio carnaval. Em 2000, por ter seu visual exótico de Antônio conselheiro, recebe convite do Presidente do Grupo Cultural “Comando Virgulino“, Crisóstomo Lima (Zó), tornando-se figura de destaque da agremiação.
AFONSO ATOR: Sua barba branca e cabelos esvoaçados resultaram no convite para participar da novela Senhora do Destino da Rede Globo. Inicialmente, Afonso integrou oficina de interpretação, fez testes e sendo aprovado, ganha o papel de Matusalém, rendendo-lhe o apelido e o carisma dos fãs espalhados por todo Brasil.
Por: Valterlino Pimentel (Pinguim)
Redação redeGN Foto Arquivo
1 comentário
20 de Feb / 2021 às 14h48
Deixo aqui meus parabéns a esse conceituado blog como também parabenizar Valterlino Pimentel (pinguim) por essa excelente matéria que fala do nosso inestimável Afonso "O conselheiro " - Parabéns equipe Redegn..