20 de janeiro de 1963, dia de São Sebastião, 10h de um domingo: Vitalino Pereira dos Santos perdia a batalha contra a varíola, doença infecciosa altamente contagiosa causada por um vírus, muitas vezes transmitido pelas gotículas de saliva, que acarretou na morte do maior ícone da representatividade popular do Nordeste brasileiro.
Nesta quarta-feira, o falecimento do mestre completa exatos 58 anos. Ele morreu, aos 54 anos, na casa de taipa onde morava, no Alto do Moura, em Caruaru, Agreste pernambucano. Anos depois, em 1971, foi inaugurado no local o Museu Mestre Vitalino.
Primeiro ceramista a ter real destaque no país e até internacionalmente, Vitalino foi pioneiro em retratar o cotidiano do povo da zona rural utilizando o barro. Suas peças traduzem os costumes nordestinos, como a vaquejada, o violeiro, os retirantes e as lavadeiras. É chamado de Mestre justamente por ter deixado seguidores.
Filho dos lavradores Marcelino Pereira dos Santos e Josefa Maria da Conceição, Vitalino nasceu no sítio Ribeira dos Campos, distrito de Caruaru, perto do Rio Ipojuca, Agreste de Pernambuco, no dia 10 de julho de 1909. Ainda criança, aos 6 anos, fez seu primeiro trabalho com as sobras de barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos, que eram vendidos na Feira de Caruaru. A peça ganhou o título de "Um gato maracajá trepado numa árvore, acuado por um cachorro e o caçador fazendo pontaria". Uma senhora do Recife comprou a obra por dois tostões.
No ano de 1924, na adolescência, o escultor dedicou-se à música. Passou a tocar pífano e criou a banda Zabumba Vitalino. Alguns exemplares do instrumento de sopro utilizados por ele estão expostos no Museu Mestre Vitalino. A partir dessa época, o artista começou a tratar de temas e elementos folclóricos regionais. Daí pra frente, criou definitivamente seu estilo de obra figurativa, tornando-se uma das referências da cultura popular brasileira.
Em 10 de dezembro de 1931, aos 22 anos, Vitalino casou-se com Joana Maria da Conceição, com quem teve 16 filhos. Seis sobreviveram: Amaro, Manuel, Severino, Antônio Vitalino, Maria Pereira dos Santos e Maria José Pereira dos Santos. No final da década de 1940, após 17 anos de casamento, ele saiu do sítio Ribeira dos Campos, ao lado da sua família, e se mudou para o Alto do Moura, onde viveu o restante da vida.
O reconhecimento da obra do Mestre Vitalino ganhou mais relevância após a sua morte. O artesão deixou um legado para a arte e a cultura brasileiras. A produção do caruaruense passou a ser iconográfica e serviu de inspiração para a formação de várias gerações de artistas populares.
O Museu do Homem do Nordeste (Muhne), a Editora Massangana, a Cinemateca Pernambucana e o Cehibra (Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade), vinculados à Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), contam com memórias do Mestre Vitalino.
O acervo do Museu do Homem do Nordeste é composto por 118 peças do artista, com sete delas cedidas ao Museu Cais do Sertão, localizado no Recife Antigo. No Muhne, há várias obras de Vitalino expostas. Em comemoração ao centenário do artesão, em 2009, o Museu do Homem do Nordeste lançou o livro "Vitalino menino" - roteiro de Walter Ramos e ilustração de João Lin -, que abriu a coleção Brincadeiras de Mestres.
A Editora Massangana também publicou o livro "Mestre Vitalino" em 1986, da autora Lélia Coelho Frota. Outro exemplar sobre o artista - "Vitalino: um ceramista popular do Nordeste", escrito pelo autor René Ribeiro e publicado pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais em 1972 - está presente no campus Derby da Fundaj, na Sala de Leitura.
Redação redeGN Foto PMC
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