Antônio Gomes dos Santos, o Toinho Pescador, é eternizado em obra literária como voz ativa em defesa do Velho Chico. Pescador artesanal desde os 12 anos, aprendeu o ofício com o pai Manuel Gomes dos Santos.
Quando Manuel faleceu restou ao filho a missão de assumir o comando da família. Por precisar trabalhar desde cedo, deixou a escola quando cursava o quarto ano do primário. Mesmo não tendo concluído o ensino primário, logo ficou conhecido através de seus poemas.
O poeta pescador agora é o personagem do livro “TOINHO PESCADOR – um poeta de Penedo”.
A autora do livro, a engenheira de pesca Maria de Fátima Pereira de Sá, conta que o objetivo principal de escrever a história de seu Toinho foi mostrar ao máximo de pessoas a vida de um trabalhador da pesca artesanal, fazendo justiça ao seu trabalho.
“Reuni ali informações de sua atuação como líder da categoria, tanto em relatos pessoais (que ele escreveu) quanto em publicações (impressas ou da internet) a que tive acesso. Ali estão informações da sua formação: como nasceu, onde estudou, como se tornou pescador (orientado pelo seu pai), obstáculos enfrentados desde a infância (pela condição de classe social e cor), sua formação como cidadão a partir das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, a “descoberta” da Bíblia enquanto “holofote” que ilumina as ideias e mostra as realidades, a influência da Pastoral dos Pescadores e o seu ativismo ambiental”.
Já muito conhecido em Penedo, entre os pescadores e ativistas ambientais, através da leitura da obra, o público e os pesquisadores vão conhecer, em uma perspectiva mais ampla e detalhada, as lutas das quais Toinho participou a partir do final dos anos 1970, contribuindo para colocar na constituição de 1988 as reivindicações dos pescadores.
O trabalho da autora, segundo ela, propõe trazer ao público parte da história da pesca artesanal no Brasil, principalmente, no Nordeste. O encontro com o pescador gerou em Maria de Fátima a necessidade de unir seus conhecimentos acadêmicos com a vivência de Seu Toinho, para colocá-los a serviço da pesca artesanal.
“Falar e defender os pescadores artesanais tem que ser paralelo à defesa de águas limpas, rios sem poluição, acesso a ambientes costeiros limpos, terrenos disponíveis aos pescadores e pescadoras próximos a estes ambientes”, destaca Maria de Fátima.
AUTORA: Com relação próxima ao Rio São Francisco desde sua infância, Maria de Fátima nasceu na cidade de Tacaratu, em Pernambuco, e segundo relata, em parte da sua infância, pode ver o rio São Francisco todos os dias.
“Minhas lembranças daqueles anos são da velha Petrolândia. O cais mandado construir por D. Pedro II quando lá esteve em 1877, a Estação de trem de onde partiam lentamente os vagões que iam até Piranhas, e a ferrovia que também foi construída por ordem do imperador na mesma ocasião. Não por acaso, mudaram o nome da cidade em homenagem ao tal. E a igreja de São Francisco de Assis? Lá recebi minha primeira comunhão quando eu já tinha 10 anos de idade. Uma imagem que nunca saiu da minha memória: homens descendo a rua em direção ao mercado público, com enormes surubins ou dourados capturados na cachoeira de Itaparica. Os peixes eram tão grandes e pesados que um homem levava apenas um exemplar em suas costas. Eles iam para o mercado municipal para comercializá-los, e as famílias iam comprar sua porção para a peixada fresquinha. Todas as testemunhas materiais destas minhas lembranças foram inundadas, afogadas nas águas do Velho Chico por decisão daqueles que viram ali a forma de conseguir energia elétrica das forças das águas com a construção da hidroelétrica. Agora, só enxergo um grande lago que aumenta o calor devido à evaporação do grande espelho d’água, de um azul brilhante, mas sem a força da correnteza. E, na minha opinião, a nova cidade não tem o encanto da velha por onde caminhei”, lembra.
Engenheira de Pesca formada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com especialização em Oceanografia pelo Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO/USP), Mestre em Ecologia e Recursos Naturais e Doutora em Ecologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar – SP), Maria de Fátima é professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde trabalhou no Centro de Ciências Biológicas (CCBi) e no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA).
Ela conta que foi conhecendo os vários trechos do rio São Francisco à medida que viajava por ele. “Há muito ainda a conhecer. As leituras que fiz para explicar vários fatos que Seu Toinho relata não alterou a minha percepção do rio, mas das pessoas que têm relação com o rio. E, com certeza, as intervenções, os projetos e o mau uso da bacia hidrográfica – pois o rio tem que ser visto como uma unidade, um ecossistema, aí sendo incluído o seu entorno e de todos os seus afluentes – são as comunidades ribeirinhas, que, em sua maioria, são formadas por pobres, pretos e desassistidos. Este é o caso dos pescadores artesanais”.
O livro TOINHO PESCADOR – um poeta de Penedo pode ser adquirido no site da Kotter Editorial e no site da Amazon.
Assessoria de Comunicação CBHSF
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