Há uma frase que se tornou histórica, a qual afirma que “o Brasil não é um país sério”, e que terminou por ser incorporada ao linguajar mordaz do povo brasileiro, quando, numa visão crítica ao deparar-se com situações inusitadas e contestáveis, faz questão de repeti-la sempre, talvez como forma de consolo ou conformidade! Embora consagrada como de autoria atribuída ao Presidente da França Charles De Gaulle, essa insinuação foi sempre reprovada, por não se admitir que um Estadista do seu nível jamais se pronunciaria de forma tão deselegante com relação a um país que visitara em 1962, quando recebeu as mais festivas e dignas homenagens, como uma das grandes lideranças Aliadas durante e após a 2ª. Guerra Mundial, ao lado de Franklin Roosevelt e Harry Truman (EUA), Winston Churchill (Inglaterra) e Josef Stalin (União Soviética).
Sem uma explicação convincente, contudo, eis que o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho, embaixador do Brasil na França entre 1956 e1964, genro do ex-presidente Artur Bernardes (1922-1926), lança um livro sob o título “Um embaixador em tempos de crise” (Livraria Francisco Alves Editora, 1979), no qual confessou ser o autor da frase que se tornou tão famosa. Inexplicavelmente, o ônus da expressão recaiu até hoje sobre os ombros do General De Gaulle! Também, pudera, se dissesse que o autor era esse embaixador, que fama teria a tal frase? Talvez nenhuma.
Por acreditar neste País e visualizar toda potencialidade que possui para galgar posições respeitáveis no contexto mundial num futuro promissor, esforço-me para não aceitar a razoabilidade daquela que seria uma infeliz definição dada pelo Embaixador brasileiro na sua debochada sentença.
Lamentavelmente, porém, a realidade dos acontecimentos políticos e administrativos nos exibe um país que, em alguns momentos, anda na contramão da história. É óbvio que uma Pandemia desse porte fragiliza até mesmo as grandes potências mundiais e, assim, temos de buscar coerência e ações integradas.
E nessas circunstâncias, é complicado para qualquer mente em normal estado de sanidade, conceber que uma Nação de menor porte e ainda com uma enorme gama de problemas Sociais, de Educação, Saúde e Segurança, esteja se comportando com arrogância e prepotência, num individualismo que nada constrói de positivo. Longe de uma atitude de patriotismo, o que se assiste é uma vocação direcionada a assegurar posições políticas internas pelo Poder. Ou seja, o que importa é satisfazer a vaidade pessoal de cada um!
Enquanto há países que encaram com mais seriedade e respeito a utilização da Vacina que permitirá a autodefesa contra esse vírus, e já começam a sua aplicação, estamos aqui numa disputa em busca de quem será o pai da criança. Como políticos adultos que são, deveriam estar solidários à dor de tantos que ainda choram as perdas de entes queridos, e não preocupados com uma disputa eleitoral presidencial, antecipada em dois anos.
Em paralelo a tudo isso, e diante da luta de cientistas, médicos, enfermeiros e servidores de Hospitais, que não só viram tantas mortes como deram as suas próprias vidas nessa batalha viral, o Presidente usa de um ato oficial solene, com direito a desatar fita verde-amarela, e a presença de vários Ministros de Estado, para inaugurar com toda pompa a exposição do seu terno e o vestido da 1ª. Dama, usados quando da sua posse em 1º. de janeiro de 2019! “Seria cômico, se não fosse trágico”! Ou melhor, ridículo! A nossa história não merecia ser humilhada com um detalhe tão inexpressivo!
Pensar que, com apenas dois anos de governo essa indumentária oficial da posse já adquiriu ares de peças de museu, diria que o Presidente está pessimamente assessorado ou o seu egocentrismo está extrapolando todos os limites da grosseria, nada significando para o povo brasileiro.
A linguagem de leilão contida no título desta crônica não se prende basicamente ao valor monetário, mas, sim, a uma análise conceitual para MAIS ou para MENOS sobre o tipo invulgar dessa iniciativa, visto que diverge das prioridades que estão a depender da ação mais enérgica do Governo. Deixo a avaliação a critério do leitor: QUEM DÁ MAIS... QUEM DÁ MENOS?
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
14 comentários
13 de Dec / 2020 às 23h01
Esta crônica me fez lembrar de duas frases que meu pai utilizava. A primeira é que, dependendo do contexto, “Papagaio come milho Periquito leva fama”. No caso específico, o diplomata Carlos Alves de Souza Filho, só confessou autoria da frase, no momento que lhe era conveniente (lançamento do seu livro), sem deixar de explorar o prestígio do presidente Charles De Gaulle. A segunda, “Brasileiro tem memória curta”, entre os quais eu me incluo, pois já não me lembrava do terno e nem do vestido que o Presidente e a Primeira-dama usaram na posse em 1º. de janeiro de 2019.
13 de Dec / 2020 às 23h25
Tenho que concordar com a assertiva que o Brasil não é um País sério, porquanto se corrobora com as atitudes dos Mandatários, extorquindo, pra não dizer assaltando, o erário, em detrimento das necessidades sociais impostas, principalmente, pela pandemia, por exemplo: desvio escancarado de dinheiro público, super faturamento e desperdício de materiais e insumos médicos... e nenhum dos responsáveis recebe qualquer punição. Em um País sério, esses facínoras já teriam sido punidos, exemplarmente. Sem contar com o aval do Presidente roborando as falcatruas de seus filhinhos. (Maceíó-AL).
13 de Dec / 2020 às 23h27
Crônica irreparável, sob todos os aspetos. Ela retrata o despreparo desse presidente! Simplesmente ridículas as suas opiniões sobre os assuntos mais sérios que estão nos trazendo as maiores angústias. (Salvador-BA).
13 de Dec / 2020 às 23h30
Ridículo, Agenor. Ou melhor: deprimente. O embaixador tem razão; pelo menos atualmente, "o Brasil não é um país sério". (Salvdor-BA).
13 de Dec / 2020 às 23h34
Vamos para uma regrinha: +x- = ? e -x+ = ?. Entenderam? Caso contrário por que tenho que entender essa vitrine?
13 de Dec / 2020 às 23h39
A Impressão que tenho é que estamos em um filme de comédia pastelão, o presidente atual não tem capacidade mental de conduzir o país literalmente o Brasil não tem Presidente, só um Bobo da corte. (Uauá-BA).
13 de Dec / 2020 às 23h45
Como você mesmo disse, amigo. Estamos andando na contramão da história, e isso é lamentável! (Rio de Janeiro-RJ).
13 de Dec / 2020 às 23h54
Estamos sendo governados por um Psicopata!! (Salvador-BA).
14 de Dec / 2020 às 00h12
Você me fez evocar lembranças boas do São João, nos leilões na quermesse durante o novenário? "Quem dá mais"?? Saudade... na expectativa de 2021. Sua crônica toca num ponto assustador, Agenor: Estamos vivendo um tempo de total inversão, ou a falta, de valores, prioridades, princípios da administração pública e princípios humanitários. Infelizmente... Fico assustada diante de tanto egoísmo... Mais vale o figurino da posse do que a resolução de problemas cruciais para os brasileiros. Embora discorde do diplomata burro brasileiro, o presidente só faz demonstrar que vive de "brincar de (continua)
14 de Dec / 2020 às 00h13
(continuação) ...de governar", sem nenhuma seriedade. E a gente que sofre. Mas, o povo o elegeu, né? Agora é aguardar os próximos capítulos dessa novela de baixíssimo nível! Como dizia papai, "a cada dia sua agonia". (Uauá-BA).
14 de Dec / 2020 às 07h57
Já pulou do barco?Vc fez arminha!!!
14 de Dec / 2020 às 10h20
Penso ser uma leitura equivocada. Que o Brasil não é sério, isso ficou constatado com nossos políticos, juristas, sindicatos, movimentos sociais, mensalão, lava jato, etc... Tentaram quebrar o País, intimidar a população e roubaram até onde deu. O que precisamos ao meio de tantas informações contraditórias de médicos, especialistas, instituições oficiais, imprensa e políticos corruptos é a certeza que tomaremos uma vacina que deixe realmente a população imunizada. (Salvador-BA).
14 de Dec / 2020 às 11h13
Parece um filme cômico de qualquer republiqueta. O trágico é que vivemos nela e ainda percebemos palmas insanas. (Salvador-BA).
14 de Dec / 2020 às 11h14
Muito boa a crônica, mano Agenor... (Assis Chateaubriand (PR)