A Mielopatia Degenerativa Canina (MDC) é uma enfermidade que acomete cães idosos de várias raças e é muito estudada no mundo inteiro, principalmente por suas semelhanças com a esclerose lateral amiotrófica em humanos.
No Brasil, o primeiro estudo sobre a frequência do gene relacionado à mutação, que é considerada fator de risco ao desenvolvimento da doença em animais da raça Pastor Alemão, foi realizado na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) pela médica veterinária Cássia Regina Oliveira Santos, egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinária no Semiárido (PPGCVS), que foi publicado recentemente na revista internacional Plos One.
O artigo publicado é resultado da dissertação intitulada “Investigação da Mutação no Gene da Superóxido Dismutase 1 (SOD1:C.118G>A) Associado à Mielopatia Degenerativa Canina na raça Pastor Alemão”, realizada por Cássia durante o mestrado, sob orientação do professor Durval Baraúna Júnior e coorientação do professor João José de Simoni Gouveia. A pesquisa é considerada pioneira no País por ter investigado a frequência do gene relacionado com a mutação em uma proteína associada ao risco de desenvolvimento da doença em cães da raça Pastor Alemão no Brasil. “O objetivo do estudo foi verificar a distribuição dessa mutação na população de cães da raça pastor alemão no Brasil”, conta a pesquisadora, que é servidora da Univasf e atua no Hospital Veterinário Universitário (HVU).
O estudo investigou a presença da mutação associada com a MDC numa população com 97 cães saudáveis, entre 1 e 12 anos, em canis de Pernambuco, Bahia e Santa Catarina. A pesquisadora fez a genotipagem dos cães para o gene SOD1. Quando esse gene possui a mutação descrita no artigo significa que o animal possui o risco de desenvolver Mielopatia Degenerativa. “A identificação desse alelo é importante para, dentre outras coisas, constatar como a mutação está distribuída numa população. Isso já foi feito no mundo para diversas raças, inclusive para o Pastor Alemão, mas não tinha sido feito no Brasil ainda para essa raça”, explica.
Cássia diz que não encontrou cães homozigotos (aqueles que apresentam duas cópias do alelo mutante, uma em cada cromossomo) para a mutação na população estudada, mas a genotipagem permitiu observar uma frequência relativamente alta do alelo mutante nesses animais. A ocorrência e frequência desse alelo, forma em que o gene pode se apresentar e se manifestar, foram descritas no artigo publicado na Plos One, periódico classificado com Qualis A1 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Fiquei muito satisfeita com a publicação do estudo na revista, porque o trabalho foi feito com bastante dedicação. E como não havia estudos sobre essa raça no Brasil é uma importante contribuição para a medicina veterinária e as pesquisas na área”, destaca Cássia.
A MDC é uma enfermidade degenerativa, que causa paralisia progressiva ascendente e costuma manifestar seus sintomas com mais frequência em cães idosos, especialmente em raças de grande porte, a exemplo de Boxer, Welsh Corgi Pembroki e Huski Siberiano, entre outras. O diagnóstico é presuntivo e de exclusão e apenas é confirmado após a morte do animal, por meio de análise histopatológica da medula espinal. No entanto, Cássia explica que o animal pode ser homozigoto para a mutação e nunca vir a manifestar os sintomas da MDC. Segundo ela, a presença do gene com a mutação, quando conhecido, é um fator de risco para a doença. O estudo da médica veterinária da Univasf contribuirá para outras investigações epidemiológicas e para a melhoria de práticas de reprodução e manutenção da variabilidade genética nos criadouros da raça Pastor Alemão no País.
Ascom Univasf
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