A pandemia de covid-19 deixou muitos políticos inseguros quanto à largada da campanha e, de quebra, a sensação de que, se o eleitor já estava distante deles antes de o novo coronavírus entrar em cena, agora, é que não pretende chegar perto.
A saia justa é geral: se eles se aventuram no corpo a corpo com a população, podem terminar com a pecha de negacionistas em relação à pandemia — e perdendo votos. Porém, não ir para a rua deixa aquela sensação de campanha morna ou quase parando, algo que também afasta o eleitor, especialmente, nas cidades do interior do país. E, assim, eles também perdem votos.
A insegurança em relação à pandemia é grande. Em especial, depois que a pesquisa do instituto Datafolha mostrou que 20% dos paulistanos consideram, inclusive, não comparecer para votar em 15 de novembro, data do primeiro turno, com receio da infecção pelo novo coronavírus. Com esse percentual, considerado alto, a aposta dos partidos é a de que o eleitor só sairá de casa para votar se a campanha esquentar. Se for “morna”, o público não vai votar e, aí, a abstenção tem tudo para ser maior do que nos pleitos anteriores.
O Datafolha mostrou que 34% não se sentem nada seguros para votar em 15 de novembro. Outros 42% consideram que terão alguma segurança. Apenas 24% se declararam muito seguros para ir até as zonas eleitorais. Por isso, o candidato, seja qual for, além de convencer o eleitor a optar pela sua proposta, terá que tentar fazer com que esse cidadão vá à urna.
Porém, como ainda há 30 pela frente, até a eleição, a esperança é a de que a pandemia arrefeça e o eleitor ganhe mais confiança para comprir seu compromisso cívico. “Quando a campanha esquentar, as pessoas vão votar”, garante o deputado Carlos Zaratini (PT-SP), candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Jilmar Tatto (PT) na corrida à prefeitura paulistana.
Por enquanto, a ordem entre os candidatos é apresentar a própria mensagem. Em Recife, por exemplo, a candidata do PT, Marília Arraes, largou na campanha com uma “bicicletada” no centro da cidade, onde as referências ao partido deixaram a desejar e ganharam destaque as máscaras de proteção.
No geral, os candidatos têm a certeza de que será preciso equilibrar a presença na rua com as mensagens nas redes sociais, que já ganharam mais importância na última eleição e, agora, nessa temporada que mistura campanha com pandemia, caminham para a consagração. “Nas maiores cidades, a campanha será mesmo com o uso massivo da internet. O desafio será levar o eleitor para a urna e não só por causa da pandemia. A abstenção vem crescendo. O que vamos precisar ver, depois das eleições, é se a pandemia vai aumentar mesmo essa abstenção ou será a desculpa da vez”, salienta o cientista político Creomar de Souza.
ABSTENÇÕES: As abstenções vêm numa crescente, se consideradas as últimas eleições presidenciais, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2010, foram 18,1%. Em 2014, representou 19,39% do eleitorado, algo em torno de 27 milhões de brasileiros. Em 2018, o número foi recorde: 21,3% dos cidadãos não escolheram um candidato a presidente da República, o que equivale a 31 milhões de pessoas. Em 1989, a abstenção, segundo dados da Justiça Eleitoral, chegou a 12 milhões, 14,4% do eleitorado.
ABSTENÇÃO: A abstenção, diz Creomar, está diretamente relacionada ao “grau de divórcio entre a sociedade e a representação política”. Este ano, será na reta final da corrida eleitoral, em novembro, que os candidatos e seus marqueteiros vão trabalhar com mais afinco para convencer as pessoas a saírem de casa para votar. E, em tempos de covid-19, o papel da Justiça Eleitoral em assegurar a proteção dos seus eleitores será fundamental para ajudar nesse convencimento da população. “A Justiça Eleitoral tem cumprido seu papel, mas tudo tem contribuído, hoje, para afastar o eleitor, desde a descrença no sistema, até a lógica dos extremos que tem marcado a política. Veremos como será em novembro”, avalia.
Correio Braziliense
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