Sete meses após o início da pandemia no Brasil, vivemos hoje uma aparente maior tranquilidade. Hoje se conhece melhor o vírus e o sistema de saúde está mais preparado para combater seus efeitos perversos. O número de mortes no país cai paulatinamente, reduzindo o medo que as pessoas têm do vírus. Chegamos aqui com custos elevados. São cerca de 150 mil mortos e um índice de mais de 690 mortos por milhão de habitantes no Brasil.
Num conjunto de 191 países para os quais o Our World in Data dispõe de informações, o Brasil possui a sexta maior proporção de mortes, ficando atrás de San Marino, Peru, Bélgica, Espanha e Bolívia. Nada a se orgulhar. Apesar do isolamento social, pode se considerar que a proteção da população no Brasil foi um grande fracasso. É notório que o presidente da República atrapalhou muito, com seu discurso irresponsável. Os governadores e os prefeitos tiveram papel importante na contenção e os meios de comunicação foram fundamentais na promoção do autocontrole da população. Ainda assim, esses esforços não foram suficientes para reduzir as mortes como seria possível, como mostra a experiência internacional.
Entre os países de maior quantidade de mortes por milhão de habitantes, o Brasil, junto com o Chile, o México e o USA foram os que conseguiram evitar uma alta densidade de mortes entre os 13º e 41º dias após atingir uma morte por milhão de habitantes. Evitaram picos elevados, como ocorreu na Itália, UK, Bélgica e Espanha. De nove países, incluindo-se esses todos citados (exceto San Marino), o Brasil foi o de menos mortes por milhão no dia de pico da pandemia (maior número de mortes por habitante). Nesse dia morreram apenas 5,15 pessoas por milhão de habitantes.
Na Bélgica, esse número atingiu 24,63 e no Peru 22,66. A alta densidade populacional desses países em poucas cidades grandes e a maior circulação de pessoas por áreas maiores do país devem explicar esse fenômeno. As pessoas circulam por áreas espaciais menores em países mais pobres, assim como moram mais espalhadas em países muito grandes, como o Brasil. Isso foi um ponto positivo para o nosso país, pois fomos bem sucedidos em “achatar a curva,” como se dizia no início da pandemia.
Por outro lado, nesse grupo estamos sendo o país com a segunda maior dificuldade em reduzir as mortes ao passar o pico. Entre esses 9 países de número elevado de mortes, somente o México havia as reduzido menos que o Brasil após 74 dias do pico (período máximo disponível para o Brasil). Nesse momento, as mortes no Brasil ainda eram 55,7% daquelas encontradas no pico. Nos E.U.A. e UK esses percentuais eram 21,8% e 7,2%, respectivamente. Depois do México e do Brasil, o Chile foi quem menos reduziu a quantidade de mortes 74 dias após o pico, levando-a para 21,1% (incluiu-se apenas 54 dias para esse país, pois não dispõe de 74 ainda). Essa incapacidade de reduzir as mortes no Brasil deve decorrer também do excessivo relaxamento do isolamento social.
As pessoas se descuidaram muito. Mas, obviamente, o fato de ter várias ondas espaciais de ciclos de infecção com cronologia diferentes também leva a essa queda lenta de mortes diárias. Enfim, poderíamos ter feito muito melhor, mas a sociedade se comportou razoavelmente bem. No entanto, cabe ainda manter o isolamento para não perder o controle dos impactos do coronavírus.
Alexandre Rands Barros-Economista
Espaço Leitor
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