Estar à frente de uma empresa com 85 anos de história, dos quais participo ativamente de mais de 70, me proporciona uma visão de como atuaram gerações de gestores que ora me estimulam e ora me fazem questionar até quando o Brasil vai suportar esse cenário.
Vendo as constantes promessas de reformas, também me pergunto até quando a necessidade delas - tão enaltecida nos debates eleitorais - irá eleger pessoas que, no dia seguinte à posse, enterram qualquer possibilidade de avanço real em prol da população. Entre as Reformas mais necessárias e imprescindíveis, eu citaria a Reforma Política, a Administrativa e a Tributária.
E diria até que considero a Reforma Política como a mais importante e mais necessária de todas elas - porque seria o "marco regulatório" que balizaria as demais reformas.
Nunca avançaremos em temas administrativos necessários enquanto tivermos políticos preocupados com a reeleição. Essa seria a primeira grande mudança administrativa. A tão ambicionada possibilidade de se reeleger, por reconhecimento das limitações temporais para um governante realizar suas atividades, tornou-se, na prática, uma "prisão administrativa".
A dinâmica operacional do Poder Público, focada em acordos de espaço e de prestígio, maculam qualquer probabilidade de gestão correta, eficiente e que pense verdadeiramente no povo brasileiro.
Para se manter no Poder por mais quatro anos, nossos gestores entram hoje num processo de dependência, onde a dura realidade das contas públicas é desrespeitada em prol do voto fácil. Rever o instrumento da reeleição e o mandato de quatro anos (tempo provavelmente curto para uma administração mais exitosa), deveriam ser objetivo prioritário da Reforma Política. Isso evitaria alguns acordos políticos, por vezes espúrios, que permitem o "leilão" dos Ministérios e secretarias, algumas vezes ocupados por personalidades que nenhum conhecimento demonstram para ocupar funções tão nobres e estratégicas para o País.
As medidas pouco populares, como cortes dos gastos, por exemplo, poderiam ser encaradas com menos medo e mais pragmatismo caso não existisse no ar um constante clima de campanha eleitoral.
O Brasil não suporta mais essa pesada carga administrativa que carrega, espalhada pelos Três Poderes. Nós não somos um País rico para manter um conjunto de regalias oficiais, pagas pelo contribuinte, como não se vê nas empresas mais bem sucedidas no mundo privado. Até porque, na outra face da moeda, sofrem pela penúria de recursos a saúde, a educação, o saneamento básico e tantas outras demandas de uma sociedade empobrecida.
Mesmo em meio ao desânimo frente à tal cenário, sigo acreditando que o cidadão brasileiro, inserido em uma democracia que, até certo ponto pode ser considerada jovem, irá aprender a votar olhando um horizonte mais longevo e, ao mesmo tempo, visando benefícios que vão além do próprio bairro - embora tal preocupação seja igualmente legítima.
*João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação
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