Nelson Teich: 'A vida é feita de escolhas. E hoje eu escolhi sair'

"A vida é feita de escolhas. E hoje eu escolhi sair.” Foi assim que o ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, abriu o seu pronunciamento após anunciar, nesta sexta-feira (15), que estava deixando o cargo. Ele passou menos de um mês à frente da pasta e saiu sem dizer de forma específica o motivo dessa decisão. 

Embora não tenha entrado nesses detalhes, nos bastidores fala-se que a saída dele estaria ligada à insistência do presidente Jair Bolsonaro em colocar a cloroquina e a hidroxicloroquina como protocolo de tratamento para a Covid-19, inclusive nos casos leves e moderados.

Médicos, pesquisadores, cientistas e autoridades nacionais e internacionais, contudo, dizem não haver provas claras de que a medicação é realmente eficaz no combate ao novo coronavírus. Mais que isso, pode causar efeitos colaterais graves, sobretudo cardíacos.

Outro ponto divergente entre Teich e Bolsonaro seria em relação ao isolamento social, ao qual o presidente já disse ser contra e, nesta semana, classificou academias, salões de beleza e barbearias como serviços essenciais sem sequer consultar o então ministro.

Em seu discurso de despedida, Teich disse ter feito o seu melhor e não poupou elogios aos profissionais que atuaram junto com ele nesse período. "Agradeço pela honra e o prazer de estar ao lado dessas pessoas, que me apoiaram e trabalharam pelo bem estar do País, disse.

Teich fez questão de frisar a atuação do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e do Congresso Nacional de Saúde (Conas). "A saúde é uma questão tripartite. Conas, Conasems, com secretários estaduais e municipais. O Ministério da Saúde vê isso como essencial tanto na parte estratégica como na execução”, completou.

Quando assumiu a pasta, no lugar de Luiz Henrique Mandetta, exonerado pelo presidente Jair Bolsonaro, Teich foi apontado como defensor do empresariado médico, sem experiência no Sistema Único de Saúde. Nesta sexta (15) ele fez questão de falar sobre a sua ligação com o setor público, sobretudo na formação educacional.

Ele destacou a importância do trabalho conjunto do governo federal com os conselhos de secretários estaduais e municipais de Saúde, lembrando que o Sistema Único de Saúde é “tripartite”. Terminou defendendo o Sistema SUS, observando que é “cria do sistema público”.

O agora ex-ministro fez um balanço da sua curta gestão. Começou destacando que “não é simples estar à frente de ministério como este num momento difícil”. Mas ressaltou as ações que realizou, como o plano de diretrizes para o distanciamento, o plano de testagem e as medidaas de apoios aos locais mais afetados.

“Deixo um plano de trabalho pronto para auxiliar os secretários estaduais e municipais a tentar entender o que está acontecendo e pensar próximos passos. Quais são os pontos que precisam ser avaliados, os pontos críticos para considerar na tomada de decisão”, declarou.

Teich elencou também o programa de testagem, que está “pronto para ser implementado”. “Isso vai ser importante para entender a situação da covid-19, o que é fundamental para definir estratégias e ações”, acrescentou.

O ex-ministro enfatizou a importância da ida a locais muito afetados pela pandemia. “É fundamental estar na ponta, entender o que acontece no dia a dia, ver o que está sendo feito. Este entendimento foi importante para desenho de ações implementadas em seguida. Cada cidade que a gente vai a gente está melhor preparado para o desafio”, disse.

Ele lembrou que, para além das respostas à pandemia, atuou também em outros temas. “Traçamos aqui um plano estratégico. As ações foram iniciadas e [isso] deve ser seguido. É importante lembrar que durante este período temos foco total na covid-19, mas temos um sistema que envolve várias outras doenças. Em todo tempo que a gente trabalhou e passou por este momento, todo o sistema é pensado em paralelo."  

Ele terminou agradecendo o presidente Jair Bolsonaro pela oportunidade à frente do Ministério da Saúde e também aos profissionais da área. “Agradeço os profissionais de saúde mais uma vez. Quando você vê o dia a dia das pessoas, você se impressiona. Ao lado dos pacientes, correndo risco”, pontuou.
 

Folha Press