Por Sheynna Hakim Rossignol
Uma crise sem precedentes na história recente angustia o mundo neste momento. Temos visto, em tempo real, grandes potências sendo impactadas brutalmente por um vírus perigoso que revelou, sobretudo, a fragilidade de muitas nações em combater e dirimir os abalos provocados por uma pandemia desconhecida.
Há cerca de cinco semanas, nós, brasileiros, começamos a sentir na pele os efeitos colaterais dessa guerra. E isso tem sido desafiador.
Digo isso porque enquanto acompanhamos pela mídia o trabalho de autoridades políticas e médicas em busca de uma solução para o problema, temos de nos preocupar, antes de tudo, com a nossa saúde e, também, com nosso trabalho.
Nesse aspecto, o isolamento social impôs aos líderes das empresas uma tarefa extremamente complexa: gerir à distância com eficiência, manter a equipe engajada, desenvolver estratégias de curto prazo para superar a crise e, no meio de tudo isso, administrar a nossa vida em casa.
A mudança do nosso cotidiano, que com a quarentena passa a ser cada vez mais dentro de casa, pode ser um tanto angustiante para aqueles que nunca tiveram a experiência do home office. Porém, com algumas mudanças nos hábitos, uma boa comunicação e o apoio da família ou de pessoas próximas, é possível ver um outro lado deste momento tão difícil e o enfrentá-lo da melhor forma possível.
Um bom exemplo veio do meu próprio lar. Tenho uma filha que fez três anos durante o isolamento. Para minha surpresa, mesmo sendo nova, entendeu muito bem o que estava acontecendo. Fizemos uma festa virtual, inclusive com a recreação do "Tio Snoopy" e ela e seus amigos se divertiram muito. No início do isolamento, conversamos que eu trabalharia de casa durante um tempo, por causa do coronavírus. Ela, então, passou a observar a minha rotina e saber quais momentos poderia pedir minha atenção, ou quando eu estaria ocupada e eu também tive que me adaptar, tentando deixar o intervalo no meio do dia, como nosso momento para almoçarmos juntas e conversar.
Com apoio do meu marido, conseguimos dividir as tarefas e os horários de quem cuidaria dela, da casa e das refeições. Essa sustentação familiar foi fundamental para criar uma rotina dentro de casa. Até mesmo minha filha passou a contribuir para isso. Um exemplo é que toda vez que ela via que minha garrafinha de água estava vazia, a pegava e, sem falar nada, a enchia na cozinha e trazia de volta. Passamos também a cozinhar juntas depois do trabalho e aos finais de semana, hábito que nunca fez parte da nossa rotina.
Já no âmbito do trabalho também foi preciso nos adaptar como equipe e nos manter engajados. Como fazemos parte do segmento de serviços essenciais, afinal todos precisamos de gás, registramos de uma semana para outra um crescimento de 35% nas vendas de botijões por meio do aplicativo e um aumento de quase 10 vezes no número de usuários acessando o nosso aplicativo, o que exigiu da empresa uma resposta rápida para absorver esse volume repentino.
Como consequência desse aumento nas vendas, previmos também um crescimento nos atendimentos de clientes e revendedores via telefone, situação que rapidamente conseguimos resolver ao implantar o atendimento à distância, com todo o time trabalhando de casa. Além disso o time de tecnologia também teve que se adaptar. O volume de acessos cresceu de tal forma que tivemos que reforçar nossa infraestrutura tanto no aplicativo do consumidor, como no portal do parceiro.
Para administrar tudo isso, intensificamos ainda mais a nossa comunicação. Antes, sentávamos todos juntos, próximos um do outro, e nos falávamos o tempo todo. Agora, os gestores fazem calls diário para comunicar o que estamos fazendo e quais os desafios do dia. Também passamos a fazer com mais frequência um all hands, uma reunião com a empresa toda que costumava ser feita mensalmente. Muitos benefícios vieram a partir daí.
Logo na primeira video chamada com a participação de todos a gente pôde conversar sobre o que estávamos vivendo e como a crise do coronavírus nos afetava, não só como empresa mas como indivíduos também. Com cada um contando como está lidando com a situação, nós nos aproximamos e fortalecemos ainda mais o nosso time. Ideias surgiram e foram implementadas rapidamente. Os Chamosos puderam levar cadeiras e monitores para as casas deles, demos uma ajuda de custo para todos, dado o aumento de utilização dos recursos de casa e fizemos inclusive iniciativas para ajudar nossos fornecedores de frutas, plantas e limpeza. Todas ideias que surgiram do grupo.
A comunicação também se tornou mais efetiva, já que a distância nos impede de mantermos uma conversa direta o tempo todo. Dessa forma, para cada reunião, passou a ser necessário um preparo maior para facilitar a troca com os demais colegas. E passamos também a ser mais pontuais no início e fim das reuniões.
Todo esse entrosamento mostrou ainda um lado importante da nossa equipe que, mesmo em momentos difíceis, é capaz de usar todo o seu potencial para enfrentar os desafios. Para conseguir suportar o aumento do volume de trabalho, tivemos também que alterar os turnos e os próprios times se voluntariaram para fazer hora extra. Um empenho que reflete uma equipe consciente e engajada em uma hora em que essas suas qualidades são essenciais.
Foi justamente nas primeiras semanas de confinamento que percebi que também era preciso refletir sobre o que eu estava fazendo e quais eram as minhas prioridades nesse momento. Estava trabalhando mais de 12 horas por dia e quase não via minha filha ou passava tempo com a minha família. Quando terminava o trabalho, estava cansada demais e minha filha já estava dormindo. Então, no primeiro fim de semana de folga que tive, comecei a refletir e vi que era necessário trazer mais equilíbrio para este momento e ter uma rotina mais saudável. Assim, o trabalho continua sendo uma prioridade e eu ainda fico ocupada com ele de oito a 10 horas por dia, mas agora tenho tempo de dar atenção a quem está ao meu redor, além de participar das tarefas da casa.
A quarentena e o novo coronavírus podem ser temerosos, mas com apoio, uma boa organização e comunicação, vamos enfrentar esse momento angustiante e levaremos mudanças positivas para nossas vidas tanto do lado pessoal quanto profissional. Seja uma rotina mais saudável, uma consciência maior sobre a gente, ou uma conexão mais forte com nossa família e equipe. Juntos, vamos passar por isso.
*Sheynna Hakim Rossignol é Presidente do aplicativo Chama no Brasil, marketplace que conecta revendedores de botijões de gás a clientes lançada em dezembro de 2016.
1 comentário
13 de May / 2020 às 05h44
que se pode esperar do BOLSONARO terrível, cronicamente inviável? Só horror, balbúrdia, insanidade, trevas e barbárie, na melhor das hipóteses. Passou da hora de interditá-lo. FORA BOLSONA, JÁ!