Coronavírus: morte de paciente em diálise acende alerta para risco de contaminação em massa

A primeira morte de paciente de diálise da Bahia por coronavírus acendeu sinal de alerta para a associação que representa os doentes renais em todo o país, que está cobrando do Ministério da Saúde, Governos e Prefeitura a criação de área de isolamento para esses doentes crônicos nos Hospitais de Campanha.

Eles não podem ficar isolados por causa do tratamento e precisam circular de 3 a 5 vezes por semana pelas cidades. Risco real de contaminação em massa de pacientes, famílias e profissionais de saúde.

Nota da Abrasrenal.

Pacientes renais em grande risco por causa do coronavírus. Abrasrenal cobra do Governo isolamento em hospitais de campanha

A Aliança Brasileira de Apoio à Saúde Renal (Abrasrenal) alerta para a necessidade de o Ministério da Saúde e os governos estaduais adotarem medidas especiais para atender o paciente renal durante a pandemia do coronavírus. A solicitação principal é que sejam montados nos hospitais de campanha de todo o Brasil um serviço especial para concentrar os doentes renais infectados pelo COVID-19.

O diretor-geral da Abrasrenal, Gilson Silva, alerta que além de ser grupo de risco para agravamento do coronavírus, os doentes renais estão mais expostos porque precisam circular pela cidade para receber o tratamento de diálise de três a cinco vezes por semana.

"Esse é um grupo significativo da população que é obrigado a usar transporte público e transitar para dialisar, se não morre. Eles têm uma exposição maior porque já são mais suscetíveis imunologicamente e, se forem infectados, expõem os demais pacientes das clínicas de diálise. Poucos estados, até o momento, planejam criar um espaço especial para internar doentes renais no hospital de campanha. Isso precisa ser implementado com urgência pelos Estados", destaca Gilson Silva.

De acordo com o último Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, há mais de 130 mil pessoas realizando diálise no país, em cerca de 700 clínicas. Até o momento, há um caso confirmado de paciente renal com COVID-19, nove suspeitos e um óbito entre os aguardando confirmação.

"A falta de realização de exames de diagnóstico de coronavírus em todos os pacientes suspeitos é um fator que aumenta ainda mais a nossa preocupação. Esses pacientes frequentam clínicas e dividem salas de diálise com outros 30, 40 doentes; todas as semanas. Em algumas clínicas, chegam a circular 400 até 500 pacientes. Precisam ir a postos de saúde para buscar medicamentos para anemia e doença óssea e também terão que ir para vacinação para gripe comum. Além disso, de acordo com o censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) 66% tem hipertensão ou diabetes, a idade média do renal é de 58 anos; sendo 35% deles acima de 65, ou seja, tem a maioria tem mais de um motivo para estar no grupo de risco", reforça o diretor-geral da Abrasrenal.

Realidade das clínicas - Gilson Silva expõe ainda uma preocupação adicional. A situação financeira da maioria das clínicas de diálise é sabidamente ruim, com muitas acumulando dívidas por atraso de repasses e subfinanciamento do SUS à terapia, sendo que as clínicas em todo o Brasil atendem prioritariamente pacientes provenientes do SUS. De acordo com os dados mais recentes da SBN, a média nacional está em torno de 80% pacientes SUS em tratamento nas clínicas de diálise no Brasil.

O presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), Yussif Ali Mere Junior, alerta que é emergencial que o Ministério da Saúde também tenha uma atenção especial com este setor, que garante a vida de mais de 130 mil brasileiros e brasileiras que dependem da hemodiálise para sobreviver. "Diante desse quadro de pandemia, nossa maior preocupação é tratarmos diariamente de um público com debilidades específicas, aliada ao grande potencial de mortalidade que o COVID-19 pode atingir nesses pacientes", ressalta Yussif Ali Mere Junior. Ele completa lembrando a grave crise financeira e os desafios que as clínicas prestadoras de assistência aos pacientes renais crônicos em diálise vivem historicamente.

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Naila Oliveira