Até o final do passado o registro era de um cenário caótico vivido nos hospitais dos municípios de Juazeiro, Petrolina e dezenas de outras cidades localizadas, no norte da Bahia e região do Vale do São Francisco, onde em alguns casos sequer há nos postos de saúde equipamentos de respiração.
Informações apontavam superlotação e mulheres gestantes ganhavam seus filhos de forma não humana, e mais reclamações de longas filas e meses para um simples atendimento.
O jornalista Leonardo Sakamoto avalia que "para o coronavírus, não faz diferença se o hospedeiro é rico ou pobre. Mas dizer que a infecção impacta ambos da mesma forma é achar que a população é idiota".
“Esperamos o melhor cenário, mas temos que nos preparar para um possível pior cenário, e sermos mais pró-ativos do que reativos”, diz a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, em comunicado no início de março.
O necessário Sistema Único de Saúde não conta com leitos e respiradores em número suficiente para absorver a demanda que se avizinha, lembrando que todos os outros problemas, das gripes comuns aos infartos e AVCs, não vão esperar na fila em respeito ao Covid-19.
Especialistas na área de saúde revelam: "a maioria dos estados e municípios brasileiros está despreparada para atender, na rede pública, casos graves de pacientes infectados pelo coronavírus, cujo destino principal são as Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) com equipamentos de respiração para ventilação mecânica".
As piores situações estão nas regiões Nordeste. Na ponta, as mudanças ainda começam a ser desenhadas de forma pontual num contexto em que nem o sistema público nem o privado têm grandes margens em relação à disponibilidade de leitos de UTI, onde poderão ser tratados casos graves da doença.
“Isso ocorre porque esses leitos são caros, e você precisa racionalizar para as necessidades. Os Estados têm que se adequar para essa demanda que virá. São modificações que temos que fazer hoje porque não dá pra esperar o número de casos aumentar para começar”, diz o infectologista da Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia.
A redeGN Blog Geraldo José, obteve a informação que os municípios, menos de 10% têm leitos de UTI, públicos ou privados, e os pacientes terão de ser encaminhados a hospitais de referência regionais em seus estados.
Embora na média nacional o SUS cumpra, no limite, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de ter o mínimo de um leito de UTI para cada 10 mil habitantes, dois terços deles (17 dos 27 estados) não chegam a isso, segundo dados do Conselho Federal de Medicina com base em números do Ministério da Saúde e do IBGE.
No total, contando UTIs do SUS e privadas, o Brasil tem cerca de 47 mil leitos, divididos meio a meio em cada sistema. Somando os dois, a média sobe para 2,1 a cada 10 mil pessoas, abaixo da necessidade que vem sendo observada nos países mais afetados.
O problema é que 75% dos brasileiros usam o SUS e só 25% têm plano de saúde, que atendem com folga os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) em todos os estados, com média de 4,8 leitos por 10 mil segurados.
Antes do início da epidemia no país, a taxa de ocupação das UTIs para adultos na rede pública já era de 95%, o que mantém sistematicamente os hospitais ligados ao SUS sob pressão. No setor privado, com mais leitos, a taxa é de 80%, segundo a Amib.
Nos casos graves de infecção pelo coronavírus, a experiência internacional mostra que os pacientes precisam de internação em UTIs por entre 14 a 21 dias, o dobro ou o triplo do tempo médio na rede pública em situações normais.
Nos outros casos, muito semelhantes a gripes, sequer é necessária a permanência em leito hospitalar, o que torna as UTIs o principal gargalo.
Outro complicador importante é que mais de 30% dos leitos de UTI são para crianças, e eles teriam de ser adaptados para adultos durante a crise da Covid-19.
"A questão é a distribuição desses leitos, levando em conta os dois sistemas [público e privado] e as disparidades regionais", diz Ederlon Rezende, ex-presidente e membro do conselho consultivo da Amib.
No Nordeste, apenas 2 dos 7 estados (Pernambuco e Sergipe) cumprem, no SUS, o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Nos sete do Norte, só Rondônia. Nos quatro do Centro-Oeste, apenas Goiás.
A expectativa é que o clima mais quente impeça a propagação do vírus nessas regiões. Mas isso não está demonstrado ainda, embora a maioria dos casos no Brasil ainda se concentre no Sul e no Sudeste.
Depois de assistir ao impacto do coronavírus na Itália, o Ministério da Saúde agora promete aumentar de 1.000 para 2.000 a instalação de novos leitos de UTI na rede pública, o que ainda não cobriria as recomendações da Organização Mundial da Saúde.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos encaminhados na sexta (13).
Para Gustavo Gusso, professor do Departamento de Clínica Médica da USP, as prefeituras terão de se organizar rapidamente para indicar o que fazer com os doentes graves, e para quais hospitais devem ser enviados sem expô-los muito a outras pessoas", afirma.
"Será preciso também segurar doentes menos graves para que não ocupem o lugar de outras pessoas nas UTIs."
Redação redeGN Foto: Ilustrativa
1 comentário
18 de Mar / 2020 às 09h17
Srs leitores. Particularmente aqui em Juazeiro, em situação normal, desde sempre, os postos de saúde, funcionam, ex: Não UPA, tudo misturado crianças, adolescentes jovens e adultos, todos misturados , não é possível, querer saúde melhor, mínima que seja, entregue às traças, sem gestão, porém, utilizam para ser cabide de emprego.