A Fundação SOS Mata Atlântica percorreu 356 km do Rio Paraopeba, importante afluente do Rio São Francisco, um ano após o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG) para analisar a qualidade da água e os impactos dos danos causados ao meio ambiente.
A expedição ocorreu entre os dias 7 e 17 de janeiro de 2020, antes das fortes chuvas que caíram em Minas Gerais. A análise foi feita em 23 pontos situados entre os municípios mineiros de Brumadinho e Felixlândia e os resultados mostram que a água está imprópria e sem condições de uso em todo o trecho percorrido.
Em fevereiro de 2019, logo após a tragédia, a SOS Mata Atlântica também realizou uma expedição ao longo do Paraopeba para avaliar os dados da lama de rejeitos de minério no rio, que deságua no lago da Usina Hidrelétrica de Três Marias, construída no Rio São Francisco.
A coordenadora da expedição e gerente da causa Água da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, explica que o rio continua impróprio e sem condição de vida e, em função das chuvas volumosas na região, metais pesados foram levados a pontos mais distantes do local da tragédia. “A situação do Paraopeba piorou. Com as chuvas, os rejeitos mais finos e os solúveis alcançaram áreas mais distantes de Brumadinho. Constatamos concentrações de metais pesados para o Baixo Paraopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo”, afirma.
De acordo com Malu Ribeiro, alguns pontos, que logo após a tragédia estavam ruins, este ano apareceram como péssimos. E poucos tiveram melhora. Conforme o relatório, em 11 pontos, a presença de rejeitos e contaminantes não permite a presença de vida aquática. Nos 23 analisados, nenhum apresentou qualidade da água boa ou ótima e estão em desconformidade com a legislação para consumo. “O ecossistema da bacia foi alterado. Não vimos aves e mergulhões, por exemplo. Em alguns pontos, o oxigênio na água estava em nível adequado à vida aquática, mas a vida não voltou porque os metais pesados estão muito intensos”, diz Malu.
Outro indicador medido foi o número de colônias de bactérias que têm capacidade de decompor matéria orgânica. “Elas foram encontradas em nível bem baixo e a presença delas indica a saúde do rio. No entanto, o que percebemos foi que mesmo com a volta do oxigênio, a vida no rio não voltou”, explica Malu Ribeiro.
A análise também detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Para o cobre, a concentração foi 44 vezes superior; para o manganês, 14 vezes superior. Para o ferro, que não deveria existir num rio de Classe 2, como é o Paraopeba, a concentração encontrada chegou a 15 vezes a estabelecida pela legislação. “As chuvas na região acabaram revolvendo os contaminantes dos rejeitos e os níveis de metais se mantém elevados em diversos pontos”, esclarece Malu Ribeiro.
Apesar de já esperar por um resultado ruim, alguns resultados do relatório chamaram atenção. Em nove pontos de coleta a qualidade passou de ruim para péssima em relação ao mesmo relatório feito em 2019 logo após o rompimento da barragem. “Muito pouco mudou e infelizmente as cicatrizes continuam abertas, no ambiente e na vida das pessoas”, avalia Malu Ribeiro.
Malu explica que a condição da qualidade da água do rio Paraopeba é sazonal e como a condição do rio é frágil uma recuperação completa é ainda mais difícil de prever. “O ideal é que haja um monitoramento sistemático e frequente com sistema de alerta porque em algumas épocas uma parte do rio pode estar apta para o banho e outras atividades, mas em outras pode ser que isso mude. Toda movimentação influencia na qualidade das águas”, finaliza.
CHBSF
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