Em 2019 comemoramos o centenário do nascimento de Nelson Gonçalves, talvez o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Não tenho a pretensão de narrar sua atribulada e vitoriosa vida, mas apenas relembrar marcantes fatos que povoaram fortemente sua existência.
Nasceu no ano de 1919, em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, filho de pais portugueses imigrantes após a primeira guerra mundial, recebendo o nome de batismo de Antonio Gonçalves Sobral. Aos seis anos de idade mudou-se para São Paulo, onde foi vendedor de jornais, engraxate, fez vários bicos e quase não frequentou as bancas escolares sendo a vida sua mestra. Mais tarde tentou, sem êxito, ser lutador de boxe. Seu modo atropelado de falar deu-lhe o apelido de metralha.
Com 18 anos, depois de muita luta, foi contratado pela emissora de rádio PRA5, no centro de São Paulo, começando a aparecer ao lado dos grandes ídolos Chico Alves, Orlando Silva, Carlos Galhardo e Silvio Caldas, todos já consagrados na época. A voz de Nelson ultrapassou as fronteiras de São Paulo e do Rio se extendendo por todo território nacional.
Em 1958 com sua carreira no auge, teve seu curso interrompido por conta do consumo de drogas, vivendo um período de grandes dificuldades até ,o ressurgimento em 1971. Fez uma dupla vitoriosa com o compositor Adelino Moreira, gravando entre outros sucessos A volta do Boemio ( que vendeu um milhão e quarenta mil cópias no seu lançamento ), Escultura, Argumento e A Flor do meu bairro. Ainda em parceria com Adelino compôs Mariposa, Ouro em pó, Nosso Amor e Eu te amo.
Ao longo da vida colecionei todos seus discos e tinha uma predileçao por Flor do meu bairro que, a pedido de amigos, costumava cantar quando nos reunìamos, depois de minha segunda dose.
Em 1986 vivi um momento de muita alegria quando era diretor de futebol do Santa Cruz. Havíamos conquistado o campeonato pernambucano e para comemorar o feito programamos uma festa na nossa sede social com um show de Nelson Gonçalves. O presidente do clube, meu amigo Zé Neves, doente na ocasião, não podendo comparecer, pediu-me para representá-lo e colocar o escudo tricolor na lapela do convidado. Ao fazê-lo confidenciei ao ouvido que era um grande fã seu e que gostava de cantar A flor do meu bairro .IDe imediato ele virou-se para o conjunto que o acompanhava e pediu a música, acrescentando : “ vamos cantar juntos”. E assim o fizemos até o final quando êle calou-se e me fez concluir sózinho. Infelizmente não tinhamos na época celular para gravar a cena, restando apenas o testemunho de minha mulher Beth e os amigos que lá estavam e presenciaram o fato.
Afirmo, ao prestar-lhe essa homenagem, e sem nenhum medo de errar que, no cenário da música brasileira, Nelson Gonçalves foi estrela de primeira grandeza, era gago ao falar, mas cantando sua voz fluía forte e contínua, saindo sem muito esforço, quase não alterando a serenidade de seu semblaqnte. Era como se fôsse um trovão num céu de brigadeiro.
Sylvio Belém, procurador aposentado
1 comentário
14 de Jan / 2020 às 05h28
BONS TEMPOS QUANDO O QUE SE CANTAVA,ERAM MUSICAS DE VERDADE,E PARA SER CANTOR TERIA DE TER,ANTES DE MAIS NADA ::GOGÓ !