Da escova de dente aos pneus, passando pelo sapato e o filtro do cigarro, o plástico é um material onipresente em nossas vidas — e, considerando a forma como o consumimos, isso não é um bom sinal. A mais nova tentativa de reduzir sua presença em nosso cotidiano começa na próxima quarta-feira, quando os supermercados do estado do Rio, onde já havia um limite de duas sacolas plásticas gratuitas por cliente, não serão mais obrigados a oferecer nem isso.
Cerca de 6% do consumo global de combustível fóssil é destinado atualmente à fabricação de plástico, e este índice pode chegar a 20% até 2050, segundo a Agência Internacional de Energia. Trata-se, portanto, de um artigo que contribui para a emissão de gases estufa. Muitas vezes é descartado depois de ser usado apenas uma vez, sem passar por um processo de reciclagem.
O Brasil serve de mau exemplo na área. É o quarto país com maior produção de plástico — 11,3 milhões de toneladas anuais, atrás apenas de EUA, China e Índia —, e recicla somente 1,23% do material, de acordo com levantamento da ONG WWF. A média mundial é de 9%.
— Faltam políticas públicas eficientes para reciclagem e engajamento da sociedade. Muitas pessoas não separam os resíduos em suas casas — lamenta Glaucia Olivatto, pesquisadora do Departamento de Química e Meio Ambiente da USP. — O plástico não precisa ser totalmente eliminado. É usado com sucesso no setor hospitalar e na embalagem de alimentos, mas precisamos cobrar da indústria materiais cuja produção tenha baixo impacto ambiental.
O país também esteve entre os seis Estados-membros da ONU que, no ano passado, não assinaram um acordo global para limitar a produção de plástico de uso único, uma medida que poderia incentivar pesquisas científicas que desenvolveriam alternativas ao material, além de novas técnicas de reciclagem. A medida foi aprovada por 187 nações. Procurado pelo GLOBO, o Ministério do Meio Ambiente não justificou o veto brasileiro.
Na falta de um tratamento industrial adequado para o plástico, o mar transforma-se em lixeira. Uma pesquisa realizada pela PUC-Rio no ano passado mostrou que a Baía de Guanabara é uma das regiões do mundo com maior concentração de microplásticos — as partículas inferiores a 0,5 milímetro. São 7,1 itens por metro cúbico, segundo amostras coletadas perto da Ilha do Fundão, do Museu do Amanhã e do Aeroporto Santos Dumont.
No mundo inteiro, a ONU estima que até 12 milhões de toneladas métricas de plástico entram no mar todos os anos. Uma marca da negligência mundial é a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, um depósito de detritos no oceano entre a Califórnia e o Havaí. Neste território, que é três vezes maior do que a França, boiam cerca de 1,8 trilhão de peças de plástico.
A superfície do oceano não é o limite do material. Sacolas e embalagens de balas foram encontradas em uma expedição em maio na Fossa das Marianas, a 11 quilômetros de profundidade, também no Pacífico. Os microplásticos chegaram ainda ao Ártico, carregados por ventos e, depois, misturados à neve.
O Globo
1 comentário
11 de Jan / 2020 às 18h15
Há milênios isso ocorre, por falta de educação e fiscalização. Sobre essa história de o Brasil ser o quarto, isso é mentira de ONGS interesseiras. E o Japão? Conta outra.