Desde a publicação de A Christmas Carol – livro do romancista inglês Charles Dickens, lançado em 19 de dezembro de 1843 – o Natal literário nunca mais foi o mesmo. No Brasil, a obra ganhou títulos como Um conto de Natal e Os fantasmas dos Natais passados, tornando-se um clássico natalino no país, assim como no resto do mundo. Lá no século XIX, por ocasião do lançamento, vendeu seis mil cópias em uma única semana. Eu me pego pensando na razão desse sucesso. Estamos nos trópicos, aqui em 2019, falando sobre uma história com 176 anos!
Acredito que a atualidade do texto esteja nessa necessidade humana de se questionar. Ou seja, uma necessidade atávica de revisitar o passado – em especial, ao final de cada ano – para projetar o futuro. Esse roteiro toca a alma humana profundamente, sobretudo nos finais de cada ciclo de 12 meses. Mas, pensando na literatura como instrumento de reflexão qualificada, quais seriam outros livros que nos trazem essa fascinação? Longe de querer criar uma lista dos livros que deveriam ser lidos em dezembro, me provoquei a enumerar quais são as cinco obras que eu gostaria de reler nesse mês. E, divido com você esse pequeno inventário afetivo. De leitora para leitora...
O CATADOR DE PENSAMENTOS: Esse é um livro infantil que todos os adultos deveriam ler. O senhor Rabuja é catador de pensamentos: bonitos e feios; alegres e tristes; inteligentes e bobos; barulhentos e silenciosos. Discreto, sai cedinho de casa e percorre a cidade em busca deles. Obra de Monika Feth, lançado pela Brinque-Book.
MULHERZINHAS: Publicado em 1868, a obra autobiográfica de Louisa May Alcott é incrivelmente atual. Ela conta a trajetória de quatro irmãs que vivenciam – entre 1861e 1865 – alegrias e conflitos familiares em plena Guerra Civil Americana. Para entender o feminismo do século XXI, ler as obras das precursoras é essencial. A leitura vai encontrar várias edições de editoras nacionais, mas recomendo a da Editora Zahar. Está linda!!
O QUEBRA-NOZES: Para mim, Natal não é Natal sem um bom ballet. E, quando penso em livros que inspiraram e continuam inspirando companhias de dança de diferentes gerações... impossível não lembrar dessa obra. Publicado em 1816 pelo alemão Ernest Theodor Amadeus Hoffmann e adaptada por Alexandre Dumas, o texto é a base da criação do terceiro e último ballet de Tchaikovsky. Transcorrido no século XIX na Europa Oriental, conta a história da pequena Marie e o irmão Fritz que são presenteados pelo padrinho e inventor com bonecos especiais...
MILAGRE NA RUA 34: Esse não será um livro fácil de encontrar. Embora faça esse alerta, já adianto que há exemplares em bons sebos do Brasil. Inspirador, traz a história de uma garota que foi criada para não acreditar em milagres até que um velhinho passa a viver na sua cidade, afirmando que é o verdadeiro Papai Noel. Escrito pelo roteirista, produtor e cineasta Valentine Davies, a obra pode ser vista em formato de filme que tem o mesmo título.
UMA MULHER NÃO É UM HOMEM: Com muito orgulho, a Primavera Editorial lançou o primeiro romance de Etaf Rum, que aborda a devastadora estrutura doméstica e a opressão das mulheres na cultura palestina. A autora, norte-americana de origem árabe, toma por base as próprias experiências para construir uma história multigeracional sobre a realidade feminina dentro de uma estrutura patriarcal. A narrativa traz, ainda, a jornada de uma jovem mulher que desafia o caminho limitado legado a gerações para reivindicar uma existência traçada com base em sua própria vontade. O best-seller do New York Times mexeu comigo desde o título, que é inspirado em uma frase misógina ouvida, repetidamente, por Etaf. Proferida por familiares mais velhos, o dito surgia sempre que ela expressava o desejo de fazer as próprias escolhas; sempre quando se rebelava contra as diretrizes sociais da comunidade palestina.
As personagens femininas, mesmo nos Estados Unidos, não contam com liberdade; o então sonho americano passa a ser realizado apenas pelos homens. O romance traz a perspectiva feminina, mostrando como a imigração para a América do Norte afeta essas mulheres. Um dado importante é que não se refere à religião, mas à cultura patriarcal que leva estruturas de poder abusivas para dentro do casamento e da estrutura familiar. Essa distinção é importante para que a obra, em tempos de preconceito contra o Islamismo, não seja usada para reafirmar noções erradas.
Espero que aproveitem a leitura!
*Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.
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