Agricultura familiar supera desafios climáticos e produz alimentos variados no Nordeste brasileiro

Apostando na diversificação de culturas e nas plantações irrigadas a partir da transposição do rio São Francisco, os agricultores familiares do Nordeste vêm contribuindo para o desenvolvimento da atividade na região. Essa é a análise realizada pela equipe da Expedição Agricultura Familiar 2019, que em novembro percorreu os estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe.

"As atividades estão mais desenvolvidas, e vão desde a fruticultura até a piscicultura, passando por apicultura e criação de gado leiteiro, entre outras. No entanto, as famílias sofrem com uma deficiência de assistência técnica, além do problema principal, a estiagem, que é muito presente na região. Eles dependem das reservas de água e dos canais do rio São Francisco para conseguir abastecimento, tanto para si próprias e para os animais, quanto para a agricultura também", detalha o integrante da expedição João Maroni.

Exemplo deste cenário é Pernambuco. Em Petrolina, uma das regiões mais afetadas pela seca, os agricultores familiares investiram na rotação de culturas e criações como meio de garantir renda durante todo o ano. "Pela própria sazonalidade desse tipo de atividade, eles intercalam as culturas, implantando piscicultura, fruticultura e criação de galinhas", explica Maroni. No estado, a agricultura familiar corresponde a uma área de 2,3 milhões de hectares, a maior ocupação territorial para a atividade em um estado brasileiro (52%), enquanto a média geral do país é de 23%, segundo mostra o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O quadro se repete no estado da Bahia, na cidade de Juazeiro. Na região do semiárido, a falta de chuvas também desafia o produtor familiar. Com isso, as associações de produtores vêm contribuindo para o desenvolvimento das atividades, ao agregar 166 mil agricultores no estado, que ocupam uma área total de 2,5 milhões de hectares, de acordo com o IBGE.

Rio São Francisco – desenvolvimento através da irrigação

A transposição do Rio São Francisco e de outros canais também vem colaborando para o crescimento do cultivo de áreas irrigadas na região Nordeste. Em Alagoas, o destaque é para a fruticultura, com plantações de banana e goiaba, entre outras. "Os produtores começaram a desenvolver uma fruticultura bem estabelecida, obedecendo boas práticas de manejo, e já estão colhendo os primeiros frutos, com um grande potencial de futuro". No Rio Grande do Norte, o plantio de hortaliças, como o coentro, e frutas típicas do Nordeste abastece os mercados locais, especialmente a capital, Natal.

Mel, o "ouro do Semiárido"

A apicultura do Piauí se consolida a partir da produção familiar no estado. Terceiro maior produtor de mel do país, com 45 mil toneladas/ano, o estado exporta mel orgânico certificado para Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, França e Holanda – as vendas externas responderam por 87% do mel produzido em 2018, de acordo com a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis). O Piauí conta com 12 mil famílias de apicultores, e cerca de 350 mil colmeias. "Encontramos uma organização coletiva dos produtores, com sistemas de apoio, assistência técnica e análises de mercado. Eles criaram estruturas para fazer tanto o manejo adequado na propriedade quanto da comercialização", conta Maroni.

Associativismo e agroindústrias

Ainda no Piauí, o associativismo contribui para a organização da produção e comércio de ovinos e caprinos, outro carro-chefe da produção familiar no estado. "A maior parte dos rebanhos ainda é vendida viva, para cidades como Teresina, por exemplo. Os produtores estão começando a montar estruturas para beneficiar a carne, como abatedouros, e com isso comercializar a carne congelada, com melhor valor", detalha.

O potencial das associações também foi observado em Sergipe, onde os produtores estão investindo na melhoria de seus negócios por meio de pequenas agroindústrias. "Muitas ainda estão em busca de certificação e apoio para beneficiamento e comercialização. Estes produtores têm potencial para desenvolver a agricultura familiar de forma bastante ampla, para que possam aumentar a renda, ter uma vida melhor e investir na propriedade", finaliza o jornalista.

Próximos roteiros

Terminadas as visitas aos estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe, a Expedição segue para sua última fase. A equipe da Expedição Agricultura Familiar vai ao estado do Amazonas, na região da capital, Manaus. Ao todo, a Expedição passará por 13 estados e percorrerá mais de 30 mil quilômetros.

Sobre a Expedição

A Expedição Agricultura Familiar, em sua segunda edição, é desenvolvida pelo Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo (AgroGP) e pretende fornecer um diagnóstico nacional sobre o setor. O projeto conta com a parceria e apoio do Sistema Confea/Crea (Conselho Federal e Regionais de Engenharia e Agronomia), do Sicredi, da Fetaep (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná) e da FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).

Ascom