A emoção de sentir-se integrada ao bioma Caatinga despertou em dona Isabel Souza uma felicidade sem tamanho. A cadeira de rodas que usa há um ano, quando começou a ter dificuldade de locomoção, seguiu os caminhos da Trilha Ecológica, projeto de Extensão do campus Petrolina Zona Rural do IF Sertão-PE, que busca o despertar da consciência ambiental através do conhecimento.
Além de percorrer os cerca de 800 metros da Trilha, dona Isabel pode ver, tocar e aprender sobre propriedades e os valores de um bioma que é muitas vezes subestimado. Desde a última terça-feira (3 de setembro), a Trilha Ecológica passou a oferecer uma estrutura apropriada para receber pessoas com deficiência.
"A ideia da Trilha Inclusiva surgiu após contato feito por um cadeirante, que mostrou grande vontade de conhecer o projeto. Foi a partir daí que vimos a necessidade de fazer adaptações para torná-la acessível", explicou a professora Elizângela Souza.
Para isso, uma força-tarefa entre servidores e estudantes foi formada. A partir de pesquisas sobre quais adequações seriam necessárias, foi feito compactação e nivelamento do solo, inserção de rampas , produção de placas de identificação das plantas em Braile e Libras, além da instalação de linhas guia. "Fizemos adaptações de forma que não causasse tantos impactos para a fauna e a flora e que permita que todos sintam o ambiente como ele é de fato", afirmou a bolsista do projeto, Emanuela Beatriz Souza.
Antônio Carlos Mendes e Josoaldo Coelho, paratletas da Associação Petrolinense de Atletismo (APA) e deficientes visuais, também participaram da inauguração. Para eles, o momento foi de descobertas e aprendizados. "Eu nunca tinha vivenciado algo desse tipo. Para mim foi enriquecedor e gratificante, porque têm pessoas preocupadas com a acessibilidade", disse Josoaldo. "Por eu ser do interior, já conhecia algumas plantas, mas conhecia de nome. Hoje eu pude tocar nessas plantas, sentir a textura, sentir o cheiro. Você vai produzir uma imagem mais real e isso é muito bom", assegurou Antônio Carlos.
Além do aprendizado, a Trilha Ecológica é ainda uma forma de entretenimento e que deve estar à disposição e ao alcance de qualquer um. "Todas as pessoas são importantes para a preservação ambiental, com ou sem deficiência, e essa importância precisa ser ressaltada, no entendimento entre os conceitos de sustentabilidade e acessibilidade, levando-se em conta os direitos humanos", disse Elizângela.
A ideia do projeto da Trilha Ecológica nasceu por volta de 2013, quando foi iniciada a recuperação de uma área de caatinga degradada no campus Petrolina Zona Rural, a partir de iniciativa da professora Mary Ann Saraiva, com o apoio do Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia (CVT).
Em 2016, o projeto de Extensão "Revitalização da Caatinga nas Trilhas Agroflorestais", do professor Silver Jonas Farfan e do bolsista Ipojucan Miranda, teve como alguns dos resultados a criação da trilha ecológica, coleta de sementes, aula de produção de plantas nativas e posterior plantio, e a recepção de visitantes.
Atualmente, sob a coordenação da professora Elizângela Souza e já consolidada como um projeto forte da região, a Trilha Ecológica reúne 26 plantas nativas da caatinga identificadas, como a umburana de cambão, xique-xique, o pereiro, mandacaru, angico, jurema preta, coroa-de-frade, e até espécies ameaçadas de extinção, como o umbuzeiro, a baraúna e a aroeira.
O trabalho de estudantes e orientadores engloba a identificação das espécies, a coleta de sementes de plantas nativas, a produção e doação de mudas, além da recepção de visitantes. O grupo ainda realiza trabalhos fora do campus, como visitas a escolas, parques, condomínios, levando um pouco do conhecimento sobre as riquezas da Caatinga. Somente este ano, até o mês de agosto, a trilha recebeu cerca de 180 visitantes, promoveu a doação de mais de 700 mudas e mais de 1400 sementes.
Qualquer pessoa ou grupo interessado pode fazer a trilha ou solicitar mudas e sementes. Para isso, basta agendar através do e-mail [email protected]. O ideal é que sejam grupos de até 20 pessoas. A visita dura em torno de uma hora e meia e é recomendado aos visitantes roupas e sapatos fechados, boné, água e protetor solar.
Ascom
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