O aproveitamento das águas de uso doméstico, que saem do chuveiro e das pias de lavar pratos e roupas, e são usadas para irrigar frutas e, principalmente, forragens para os animais, está animando algumas famílias da comunidade de Canoa, região de Massaroca, no interior de Juazeiro. Como experiência-piloto, três famílias da comunidade estão utilizando esse sistema conhecido como bioágua. Tem dado tão certo que, em toda a região, serão instalados 20 desses sistemas.
Na propriedade de Dona Elza Nogueira, a bioágua irriga meio hectare de palma que alimenta suas cabras, ovelhas e galinhas. Assim como dona Elza, as demais famílias que receberão o sistema são contempladas com Quintais Produtivos adquiridos pelo Pró-Semiárido, projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), órgão da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado da Bahia (SDR), cujos recursos são frutos de uma parceria, por meio de um acordo de empréstimo contraído pelo Governo da Bahia junto ao Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).
"Essa água que era perdida, irriga bem a palma o tempo inteiro, aí a gente nem precisa comprar ração e ainda economiza (água) da cisterna", afirmou dona Elza, que já pensa em ampliar a área de cultivo para irrigar também algumas fruteiras que a família tem na propriedade.
A implantação desses sistemas na comunidade de Canoa, cuja irrigação é feita por gotejamento, foi coordenada pelo agrônomo Clérison Belém, colaborador do Irpaa, entidade que presta assistência técnica às famílias da região, por meio do Pró-Semiárido. Clérison explica o funcionamento do sistema, que recebe as águas da casa e, passando por canos, caem primeiro em uma caixa de gordura onde alguns resíduos são retidos; depois passam para um filtro biológico (uma espécie de tanque composto por camadas de palha seca, areia, brita e seixo). Este serve para reter partículas e filtrar a água que, em seguida, é canalizada e armazenada no tanque de reuso, para finalmente irrigar as plantas.
Clérison lembra que, na zona rural, o saneamento básico é praticamente inexistente e,com isso, as residências acabam produzindo poças de água que saem dos chuveiros e pias, podendo essas águas serem usadas na agricultura, especialmente quando se faz uma filtragem. O agrônomo, que pesquisou o sistema no interior da Paraíba, diz que o sistema de bioágua, que reutiliza as chamadas "águas cinzas", aproveita um potencial hídrico que era desperdiçado e que agora ajuda a fortalecer a tradição das famílias do sertão em cultivar forragens e fruteiras.
Seu Iremar Nogueira, agricultor e criador de cabras, está investindo também na criação de galinhas. Ele também foi contemplado com um bioágua e disse que, devido a seca, está irrigando suas forragens até três vezes por semana para que sua criação não sofra com a falta de alimento. "Isso tem sido minha sorte, porque com esse sol quente e sem chuva, eu tenho alimento para os bichos", disse o criador, ao se referir ao bioágua como uma salvação para o criatório que, no semiárido, representa a base da economia das famílias rurais.
Agência Chocalho
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