A aldeia indígena Bem Querer de Baixo, em Jatobá (PE), foi alvo de novos ataques no último sábado (8): a igreja católica da localidade sofreu uma tentativa de incêndio e teve vidros e portas quebrados.
É o segundo incidente do tipo em menos de dois meses: há 41 dias, a única escola e o único posto de saúde da localidade foram incendiados. Ontem, como no ataque anterior, ninguém ficou ferido.
Os prédios atacados estão próximos à área de conflito com posseiros, dentro da Terra Indígena Pankararus. Para lideranças dos índios, que temem represálias e pediram para não ser identificados, os atentados estão ligados à disputa por terras.
Em setembro, 12 famílias de posseiros que moravam na aldeia foram retiradas da área que ocupavam ilegalmente. A desocupação precisou de força policial, já que os posseiros se recusaram a cumpriram ordem judicial de deixar o local. Posseiros ameaçaram os índios, de acordo com relatos.
Os Pankararus afirmam que diversas casas que, segundo o acordo judicial, deveriam ser transferidas aos índios, foram queimadas. Eles também dizem receber ameaças de que os posseiros envenenariam as águas utilizadas pela aldeia.
“Sempre foi dito que nada seria deixado para o usufruto dos indígenas nessa comunidade. A tragédia sempre foi anunciada e nenhuma medida efetiva foi tomada até agora. Isso só vai parar quando os culpados forem identificados e punidos”, disseram os Pankararus, em nota.
Na tarde do último sábado, lideranças indígenas procuraram a polícia. O grupo registrou Boletim de Ocorrência na delegacia de Jatobá e pediu segurança.
Desde que lançaram a campanha virtual para arrecadar fundos para reconstruir a escola e o posto de saúde destruídos em outubro, os Pankararus relatam ameaças também nas redes sociais.
No sábado, no Instagram, um usuário publicou mensagens parabenizando os autores dos ataques à aldeia e afirmando que novas investidas contra os índios irão ocorrer.
“A igreja do Bem Querer de Baixo foi construída com o suor do povo que trabalha, com seu dinheiro, com seu suor, telha por telha. Você indígena que está indignado porque queimaram, só desejo algo. Trabalhe e faça uma para você. Ali é patrimônio do povo trabalhador do Bem Querer e não das escórias que vivem de querer o que é dos outros. Não precisa nem queimar, é só ir lá e derrubar. Ali é nosso. Parabéns, meu povo, ainda faltam as paredes”, diz o texto.
Os índios dizem que vão procurar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
“Hoje esse 'povo trabalhador' não passa de um povo criminoso. A escória dessa história hoje não somos nós, indígenas. A escória hoje é o ser humano capaz de destruir escola, unidade de saúde e agora profanar uma igreja. Nem o sagrado escapa desse ódio cego e doentio”, afirmaram os índios.
A equipe do Programa Estadual de Proteção a Defensores de Direitos Humanos solicitou providências legais à Polícia Militar, à Secretaria de Defesa Social e ao Ministério Público Federal.
“Dialogamos por telefone e oficiamos o comando da 4ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar); oficiamos, também, a Secretaria de Defesa Social, o Comando Geral da PM e a DIRESP (Diretoria Integrada Metropolitana da Polícia Militar); dialogamos e pedimos providências à procuradora da República, Maria Beatriz Ribeiro Gonçalves, que acompanha o procedimento do povo Pankararu. Pedimos à procuradora o reforço das nossas solicitações de policiamento ostensivo, para prevenir novas violações e, também, que ela requeresse à Polícia Federal as investigações necessárias para identificar e finalmente punir os responsáveis pelas violências e danos que têm ocorrido no território”, informou a equipe.
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