A divisão dos caminhoneiros em relação a uma nova greve a partir desta segunda, 10, pode enfraquecer o movimento. Ao contrário do que ocorreu em maio, quando a paralisação começou com apoio da população e até das empresas (do agronegócio e transportadoras) por causa do aumento do preço dos combustíveis, desta vez a categoria pode ter um movimento isolado, pautado pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux. Na semana passada, ele suspendeu a aplicação de multas para quem descumprir a tabela de preço mínimo de frete.
Nos grupos de WhatsApp, os motoristas estão reticentes quanto à efetividade da greve neste momento e discutem os prós e contras da medida. Entre aqueles contrários à paralisação, o argumento é que o período é de pouca carga e que a safra ainda não começou. Ou seja, uma greve agora teria pouco efeito no dia a dia das empresas e na economia.
Eles também ponderam que o País esta às vésperas do início da administração de Jair Bolsonaro. Muitos querem dar um tempo para o novo presidente começar os trabalhos, e quem sabe tomar decisões favoráveis à categoria. Outros caminhoneiros entendem que deixar passar em branco o revés sofrido com a decisão do STF pode demonstrar franqueza do grupo, já que a decisão tem sido vista como uma grande derrota dos motoristas. Para esses, a paralisação é a única solução.
Numa tentativa de apaziguar os ânimos, o líder dos caminhoneiros Wallace Landim, conhecido como Chorão, postou um áudio do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que será o novo ministro da Cidadania do governo Bolsonaro. Ele afirma que, apesar da decisão de Fux, a lei continua valendo e é ilegal não cumprir a tabela.
O deputado alerta, porém, sobre os riscos de a categoria perder força com uma greve agora. "Greve deve ser uma arma para ser usada em último caso." O fato é que há uma insatisfação muito grande entre os caminhoneiros, que aumentou com a liminar contra as multas.
"A greve não está fora do radar, mas é o último recurso", disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. "O movimento está bem dividido entre os que querem um confronto direto com o STF e os que acham que ainda tem espaço para avançar pela negociação."
Mas a paralisação não está descartada, disse Alexandre Fróes, de Santa Catarina. "Estamos em conversa direta com o futuro ministro (da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas) e com o capitão (o presidente eleito, Jair Bolsonaro)."
Para Litti, há como avançar pela área administrativa. Ele defende que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) acelere os trabalhos para implementar um sistema eletrônico de controle do pagamento do frete. Hoje existe um documento obrigatório para os serviços de transporte por caminhão chamado Código Identificador da Operação de Transporte (Ciot).
A proposta é que ele só seja emitido se o preço do frete estiver de acordo com os pisos mínimos. Assim, não seria mais necessário fiscalizar em rodovias nem aplicar multas.
om informações do Estadão Conteúdo
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