Faculdades portuguesas exigem nota mais baixa no Enem do que brasileiras

Sem conseguir ser aprovada em Engenharia nas Universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp), Ana Marcela Costa, de 18 anos, já pensava em fazer cursinho pré-vestibular para mais uma tentativa. Por sugestão da irmã mais velha, aproveitou a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentar uma vaga em Portugal e, para sua surpresa, foi aprovada em uma das mais renomadas instituições do país, a Universidade do Porto. Com universidades tradicionais e reconhecidas mundialmente e custo de vida atrativo, Portugal tem atraído cada vez mais jovens para a graduação. A seleção com uso da nota do Enem e a exigência de pontuação mais baixa do que muitas universidades brasileiras têm facilitado essa migração.

Para alunos e educadores, o cenário é reflexo da falta de informações sobre o processo e o custo, já que, mesmo públicas, as instituições portuguesas cobram taxa de anuidade. “Fiz o Enem, mas não tinha cogitado vir para Portugal quando estava no ensino médio. Fui aprovada na UFRJ (federal do Rio de Janeiro), mas meu pai achou (a cidade) perigosa. Foi uma surpresa boa a aprovação aqui”, conta Ana Marcela, que está no 2.º ano de Engenharia Eletrotécnica. Para entrar na Universidade do Porto, a estudante paulista precisava de uma nota mínima de 120 pontos na escala portuguesa, o que corresponde a 600 no Enem. Para a UFRJ, por exemplo, a nota de corte para o curso de Engenharia Eletrônica foi de 770 no ano passado.

Além da prova, as instituições portuguesas também avaliam o histórico escolar dos candidatos. O Enem passou a ser utilizado como seleção pelas instituições portuguesas em 2014 e 1,2 mil brasileiros já foram aprovados para estudar no país europeu. Neste ano, são 35 universidades que adotam o exame. “Muitos jovens querem estudar fora do Brasil pela qualidade dos cursos e a experiência de uma nova cultura, uma troca com outras nacionalidades. Mas, para muitos, ainda parece uma realidade distante”, diz Edmilson Motta, coordenador do Colégio Etapa. Para ele, a baixa procura faz com que a pontuação necessária para a aprovação não seja tão alta. “Um aluno que consegue 600 pontos no Enem está competitivo para as vagas de lá. Aqui, nem tanto.”

Em Direito, por exemplo, um dos cursos mais concorridos no Brasil, a nota de corte mínima do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) no ano passado foi de 676 pontos, na Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Para estudar nas universidades de Lisboa, Porto ou de Algarve, a nota exigida é 600. “A medida em que os alunos enxergarem Portugal como uma possibilidade, a tendência é que essa nota mínima deixe de ser um pré-requisito e seja necessário um desempenho maior para a aprovação”, diz Carlson Toledo, diretor do Colégio Porto Seguro.

Estadão