A maquiagem, quando no estrito uso a que se destina, é aquele importante componente que enriquece o universo da beleza feminina, com o poder de corrigir e transformar pequenos detalhes que nem sempre se constituem em defeitos físicos, mas, uma mera ansiedade de se mostrar mais bela e atraente. Por ser um item que promove as grandes diferenças, quando uma mulher a utiliza de forma excessiva perde um pouco do seu brilho, e as pessoas costumam insinuar, de maneira jocosa que, sem o uso desse artifício, seguramente “será difícil encarar aquela imagem ao amanhecer do dia seguinte”!
Ela é utilizada de forma bem acentuada, também, na caracterização dos artistas nos circos e teatros, de maneira a melhor representar os tipos e incorporar os personagens de cada espetáculo ou peça teatral, o que dá mais autenticidade ao desempenho artístico, tudo bem explícito.
À parte as amenidades que esse introito possa sugerir, a intenção da abordagem é analisar o quanto as atitudes e comportamentos das pessoas, principalmente daquelas que atuam no mundo político, estão revestidas das maquiagens que objetivam ocultar as verdades embutidas em ações nem sempre muito transparentes. É vergonhoso reconhecer que esses desvios negativos adquirem ascendência acentuada quando se encontram na gestão das verbas públicas, cuja aplicação é marcada por uma vocação de rateio irresponsável entre os comprometidos no processo, sempre priorizando a vantagem pessoal, e desprezando os consequentes prejuízos sociais que causam à população.
Aliás, essa particularidade nos traz à lembrança, por analogia, o motivo da música “Uma Pra Mim, Outra Pra Tu”, do Rei do Baião, o extraordinário Luiz Gonzaga:
“Cumpadre tú tará desconfiando.
Do compadre conterrâneo, fio do Véio Januário.
Não mas cumpadre, debaixo dos lençóis.
Só tem até venha a nós, nas contas do seu rosário.
Cumpadre fique quieto vai por mim.
Vamo lá que eu tô contando separando direitim (2x).
Uma pra mim, uma pra mim
Uma pra tu, outra pra mim
Uma pra mim, outra prá tú
Uma prá mim, outra pra mim”.
Na simplicidade dos versos do Gonzagão, percebe-se uma sábia profecia do regime de trocas e vantagens lucrativas que permeariam os grandes contratos públicos, e resultaram nos escândalos e crimes sem fim hoje investigados pela Lava Jato.
Apesar da área política estar recheada de verdades ocultas, no campo dos registros econômicos de uma Nação é onde se encontra o espaço propício para a maquiagem dos números que entorpecem e enganam a consciência de uma sociedade. Isso nos faz recordar que este país no ano de 2014 vivia sob os encantos de uma economia forte, contas públicas em dia, sem rombo orçamentário ou coisa que o valha! Não completou 60 dias da posse da Presidente eleita para um segundo mandato e logo eclodiu uma surpreendente crise econômica de grandes proporções, tornando evidente que tudo não passou de um bem arquitetado engodo contábil visando à continuidade de um projeto político.
O fraco governo atual não entra para a história por ter deixado de realizar algo importante para recuperar o país, além da ostentação e pose do seu presidente. Mas, bem que nos relatos históricos poderá lhe ser reservado um capítulo restritivo e condenatório por ter sido conivente, omisso e coparticipante nessa farsa, cujos números econômicos mentirosos favoreceram a eleição da chapa presidencial de 2014. Nela o Michel Temer entrou calado e saiu em silêncio, mas eleito Vice-Presidente da República! A única injustiça do impeachment é que deveriam ter sido cassados os dois e não apenas a Presidente, considerando ter sido chapa única.
Assim, como a MAQUIAGEM ENGANADORA exterioriza na mulher uma beleza às vezes inexistente, ou exibe uma imagem diferenciada nos políticos, o que engana a muitos, a ocultação da realidade econômica é um crime inaceitável e uma prática que deve ser definitivamente extirpada deste país.
O cidadão brasileiro precisa voltar a confiar naqueles que se habilitam à condução da vida pública nacional, não maquiados como podemos ver nessa ilustração, mas, como bons empregados do povo para o povo e, acima de tudo, conscientes de que estão com os destinos de uma nação na mão, e não como operadores de um circo.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.
9 comentários
26 de Aug / 2018 às 23h06
Realmente precisa mesmo acabar com essa enganação que fazem do povo o que querem. A realidade nos impõe uma nova forma de responder a essas figuras que promovem maquiagem para chegar ao poder, e chegando lá, todos já sabem o que acontece!
26 de Aug / 2018 às 23h09
Esta crônica achei genial, até porque a imagem supostamente infiltrada na bandeira brasileira, se observa um palhaço com o dedo em riste apontando para o povo e esperando que sejamos sensibilizados com uma aparência motivada pela alegria do palhaço. Ledo engano, porque acreditamos que até agora, os candidatos, em especial aos que pleiteiam a Presidência da República, repetem o mesmo engodo, com promessas de criação imediata de empregos, redenção de segurança, saúde e educação, até exclusão de nomes inscritos no SPC e SERASA. (continua).
26 de Aug / 2018 às 23h09
(Continuação) ...Chegamos à conclusão mais lógica, de que estão pensando que todos nós estamos com cara de palhaço. TEMOS SIM, QUE NÃO VOTAR EM QUEM JÁ EXERCEU CARGOS POLÍTICOS E FAZER UM ESFORÇO DE CONSCIÊNCIA PARA ESCOLHER O MENOS PIOR OU VOTAR NO SENTIDO DE QUE A SORTE ESTÁ LANÇADA. (Manaus-AM).
26 de Aug / 2018 às 23h13
A cada dia você se supera com as crônicas muito bem elaboradas que nos trazem a realidade do nosso dia-a-dia. Parabéns!
26 de Aug / 2018 às 23h18
Parabéns, meu nobre amigo e articulista AGENOR SANTOS. O Brasil precisa de homens como você. SHOW DE BOLA (Nordestina-BA).
26 de Aug / 2018 às 23h19
Uma excelente metáfora que que facilita o entendimento da situação da política e da gestão pública no país. Somos vítimas, mais do que nunca, da corrupção e do clientelismo praticado principalmente nas estatais brasileiras. Aquelas que deveriam ser o orgulho de um povo que as construiu e agora percebe que se tornaram o ninho de vigaristas que as tomaram de assalto. Este brilhante texto do cronista revela que estamos a beira do precipício. E a única corda que pode nos salvar é a ética na política. Difícil de se conseguir.FOZ DO IGUAÇU
27 de Aug / 2018 às 04h32
SEJA LA O QUE FOR, OU COMO FOR,A MAQUIAGEM É UMA FRAUDE,UMA VEZ QUE ELA OCULTA A REALIDADE.
27 de Aug / 2018 às 05h55
O texto ia bem.Aí vem a tona a ideologia reacionária do autor ao elogiar o impeachment de Dilma, exaltando assim o golpismo. Espero ter contraponto a isso nos breves artigos, por certo está na hora de voltarem tais, do professor Otoniel Gondim e o ativista Roberto Malvezzi, o esplendido Gogó.
27 de Aug / 2018 às 11h54
Bom texto. Precisamos de seriedade e verdade. Estamos à deriva na vida Pública. Pois nossos poderes estão podres e precisam ser amputados.