Em 2013, Pedro Lucas Feitosa, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Ao voltar para a sua casa, no Crato (Cariri cearense), Pedro Lucas já sabia como dar vazão à admiração que nutre por Luiz Gonzaga: ele criaria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.
Três anos depois, o espaço na rua Rua Alto da Antena, no distrito de Dom Quintino, reúne cerca de 100 objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. Pedro Lucas guia as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton, de 8 anos. Além de vinis do artista, o museu exibe sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga.
Esta história virou filme e ganhou a Europa, foi exibido nos Festivais Internacionais, em Londres e Italia. Agora a história de Pedro Lucas será exibido na Mostra de Cinema de Outro Preto, Minas Gerais.
Com 20 anos de jornalismo, sete deles dedicados à cobertura internacional, Sérgio Utsch prefere dizer que é um contador de histórias. Mesmo em situações difíceis, como guerras, atentados e crise de refugiados, o correspondente mineiro sempre busca abordagens humanas, tentando explicar, como ele mesmo destaca, um pouco das complexidades de uma determinada cultura.
É com esse olhar do contador de histórias que Utsch se aventurou no cinema, estreando como diretor no curta-metragem “O Menino que Fez um Museu”, um dos destaques da programação da Mostra de Cinema de Tiradentes e que também será exibido na 13º Mostra de Cinema de Ouro Preto, Minas Gerais, nesta segunda, dia 18, na Sessão Cine-Escola.
A oportunidade surgiu quando chegou em suas mãos um vídeo de um garoto cearense de 10 anos que criou um museu dedicado ao músico Luiz Gonzaga.
“Pedro Lucas é também um contador de histórias. É ele quem conduz o filme com seu jeito divertido na maneira como narra a história dele, do museu e dos personagens de Dom Quintino, distrito de Crato, Ceará. Somos apresentados, por exemplo, a Dona Rita, cujo marido escreveu na porta de casa ‘Rita, não ponha as roupas no varal’. Apesar do aviso, ela continua botando as roupas”, registra o jornalista.
Utsch admite que fez o filme pensando em festivais internacionais, receoso de que a abordagem doce e esperançosa pudesse soar exagerada pelos brasileiros. Em Londres, onde mora atualmente, ele exibiu o filme na embaixada do país.
“O Brasil é muito bombardeado lá fora. Não somos esse inferno todo. Há muitos problemas, mas não dessa forma como os próprios brasileiros pintam o país, sempre se colocando para baixo. Meu filme busca dar uma quebrada nisso”, salienta Utsch.
No interior do Ceará, um menino então com 10 anos transforma uma casa de barro no primeiro museu de sua cidade. O documentário mostra a história de Pedro Lucas, um pequeno brasileiro orgulhoso de suas origens e muito sensível em relação aos problemas do Nordeste.
O Museu Luiz Gonzaga, além de uma homenagem ao cantor, é uma viagem pela comunidade, pela cultura nordestina e pelos sentimentos de Pedro Lucas. O filme foi gravado em 2016 e finalizado em 2017 por uma equipe de profissionais brasileiros e britânicos em Londres. É resultado de uma tentativa de mostrar um Brasil desconhecido pelo mundo e por muitos brasileiros.
Fonte: Paulo Henrique Silva-O Dia
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