O atual repertório musical das festas juninas abarca ritmos novos e antigos. Os mais apegados à música contemporânea dispõem de apresentações ligadas ao sertanejo mainstream e às novas variações do forró. Aqueles em favor de preservar a essência do arraiá ainda têm opções de eventos arraigados no baião, xote e rojão.
As alternativas de são-joão tradicional, entretanto, estão cada vez mais escassas, sugere o especialista Antenor Ferreira, professor do departamento de música da Universidade de Brasília (UnB). “Celebrar festas juninas é tradição familiar. Os pais passam aos filhos. Mas, como os jovens estão perdendo o interesse pelos ritmos típicos, os grupos tradicionais tendem, não a desaparecer, mas a diminuir muito”, acredita o pesquisador.
Para o professor, as festas juninas se mantiveram espontâneas até o início dos anos 1990, quando tomou espaço o forró universitário, gênero que ainda preserva características do xote — diferentemente do sertanejo universitário, “que nada tem a ver com a tradição nordestina”, segundo o acadêmico.
A vendedora Raquel Santos, 27 anos, frequenta festejos juninos desde pequena. Aguarda o ano todo pelo são- joão. Ela acha importante que as festas abracem tantos os ritmos mais populares quanto os mais tradicionais. “É uma forma de atrair as pessoas que não querem deixar de irem às festas sem deixarem de ouvir o que gostam”, declara.
“As festas juninas foram mudando ao longo dos anos e a gente quis acompanhar essa transformação”, conta a organizadora do evento Ana Paula Leite, integrante do grupo Mães Amigas de Águas Claras. “Pensamos em fazer uma festa para a família, que agradasse dos mais novos aos mais velhos”, explica.
A inserção dos novos gêneros na festa caipira agrada ao grande público, o que garante a agenda cheia dos músicos durante o período junino. Representante da vertente eletrônica do forró, Xand Avião acredita que o gênero está em boas mãos. “O forró está muito bem representado, temos o Safadão e a Solange, entre tantos outros que estão estourados aí no Brasil. Somente neste são-joão, eu e minha banda vamos fazer 34 shows, será uma correria intensa e muito boa”, comentou o potiguar em entrevista ao Correio.
Alceu Valença, por outro lado, recorre a repertório típico do Nordeste. Apesar de não se considerar tradicionalista, ele faz questão de preservar alguns costumes. Durante o período de festas juninas, ele canta “somente aqueles gêneros desenvolvidos no agreste e no sertão que ajudaram a consolidar o forró como gênero principal do são-joão, na linha de Gonzaga, Jackson, Dominguinhos e tantos outros. E tome baião, forró, coco, xote, rojão, embolada, martelos e toadas”. O pernambucano critica a inserção dos novos gêneros no tradicional período. “Hoje, há uma relativa descaracterização dessas festas em função de certa perda de identidade”, avalia.
Em linha similar de julgamento, a artista local Carol Carneiro fica com agenda cheia no são-joão e acha necessário vestir o figurino nas festas típicas. “Nesta época, deveriam valorizar melhor essa tradição brasileira, essas músicas que falam de coisas ligadas à terra, à natureza, ao romantismo”, opina a pé de serra que se apresenta munida de viola caipira, zabumba e triângulo.
Ela é cética quanto a uma possível ameaça às músicas típicas. “Existe uma cultura de resistência. Se depender de mim, não acaba. O baião vai se levantar. Ele sempre se levanta e vou trabalhar para isso”, diz, citando verso de Luiz Gonzaga. No período que compreende junho e julho, Carneiro chega a fazer 15 show ao mês na capital. Mas, para ela, é são-joão o ano todo.
A artista aguarda lançamento de DVD gravado na Funarte e se prepara para apresentação no 1º Festival de Brasília da Poesia Brasileira — Transepoéticas, que ocorre sexta no Museu Nacional da República.
Correio Braziliense/Robson G. Rodrigues*
1 comentário
07 de Jun / 2018 às 13h44
Olha, eu até concordo com ele só que as atrações sao escolhidas pelo Povo.. Só toca o que o povo quer, vai fazer o que? Vai colocar bandas que nao querem?