A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões de Crédito realizou nesta quarta-feira (16), em Brasília, a segunda audiência pública para investigar as razões pela cobrança de juros sobre operações com cartão e cheque especial que chegam, em média, a 400% ao ano. Representantes de empresas credenciadoras de cartão de crédito e o acadêmico Gustavo Loyola, que foi presidente do Banco Central (Bacen), apontaram, como principais "vilões" das altas taxas pagas por lojistas e consumidores, questões como a verticalização da indústria (do crédito), a elevada margem de lucros dos bancos (os chamados "spreads bancários") e a pouca concorrência no setor.
"Esta comissão começa a produzir resultados ao jogar luz sobre uma questão que é complexa, chamando a atenção não só das autoridades reguladoras – que é caso do Bacen e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) – como também dos diferentes participantes dessa indústria", avaliou o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), relator da CPI. Conforme destacou o vice-líder do governo do Senado, o colegiado e a sociedade querem entender quais são os custos que levam à fixação de juros considerados abusivos, no país. "Que, em alguns casos, chegam até 1000% ao mês, conforme indica relatório do próprio Banco Central", acrescentou o relator.
Para Fernando Bezerra, "é fato que existem distorções" a serem enfrentadas ou por medidas dos órgãos reguladores ou por iniciativas legislativas. "Que possam melhorar o ambiente de negócios no país e deem respostas aos usuários de crédito que, de fato, não entendem o porquê da cobrança de índices tão elevados quando a taxa básica de juros (Selic) está próxima a 6% ao ano", destacou o senador.
Além de Gustavo Loyola, participaram da audiência pública – presidida pelo senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) – o diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), Ricardo de Barros Vieira; o presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), Rafael Pereira; o economista-chefe da Stone Pagamentos S.A., Vinícius Carrasco; o presidente da Redecard S.A, Marcos Magalhães; a diretora jurídica e de Relações Governamentais da Cielo S.A., Louangela Bianchini Colquhoun; e o vice-presidente da Getnet – Adquirência e Serviços para Meios de Pagamento S.A., Plínio Patrão. Também foi convidado pela CPI, o diretor da Pagseguro, Rômulo de Mello Dias, que não compareceu ao debate.
REGULAÇÃO – A atuação do Banco Central para a melhoria da regulação do setor e a aberturado mercado às chamadas "fintechs" (empresas do ramo de tecnologia que atuam no sistema financeiro) foi reconhecida durante a audiência. A questão dos "spreads bancários" foi destacada pelo ex-presidente do Bacen. "É um dos mais elevados do mundo assim como a inadimplência, que também está entre as maiores", afirmou Gustavo Loyola. "No ranking dos mais altos spreads, o Brasil só fica atrás de Madagascar (ilha localizada na África)", reforçou Rafael Pereira (ABCD).
De acordo com Ricardo Barros, a maior inadimplência registrada pela associação é no cartão rotativo. "Em torno de 33%", disse o diretor-executivo da Abecs, que apontou a necessidade de educação financeira aos usuários de crédito no país.
Para Vinícius Carrasco, os juros que chegam aos lojistas ainda prevalecem muito altos. "Esta é a raiz do problema", afirmou o economista-chefe da Stone, que completou: "Quanto mais houver concorrência no setor, menor serão os curtos para os varejistas e os consumidores".
Na primeira audiência pública realizada pela CPI dos Cartões de Crédito, no último dia 9, foram ouvidos representantes de consumidores e lojistas. Conforme o Plano de Trabalho do senador Fernando Bezerra Coelho, o terceiro debate da comissão ocorrerá no próximo dia 30, com a participação de representantes de bancos públicos e privados.
Ascom Senador FBC
1 comentário
17 de May / 2018 às 21h19
CPI dos Cartões de Crédito? E tendo como Relator (até parece piada...) Fernando Bezerra Coelho? Tá de brincadeira, né? Este foi denunciado em 2016, no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de recebimento de propina de pelo menos R$ 41,5 milhões das empreiteiras Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa. Ao meu entender não seria colocar a RAPOSA para tomar conta de um GALINHEIRO?