Artigo: As águas, o bem e o mal
Faz tanto tempo, mas eu recordo como se fosse anteontem. Era uma manhã belíssima. Em nome da natureza, o sol, normalmente escasso no mês de julho, parecia pedir desculpas aos recifenses pelas centenas de mortes e pela destruição, quando a cidade se afogou nas águas da cheia de 1975.
Tudo invertia a lógica do cotidiano. Remei um barco sobre a \Ponte da Capunga inundada. Famílias transferiam-se para o teto das casas, enquanto observavam o lento crescer do nível das águas da enchente. Cobras e peixes nadavam nas pias e banheiras das residências. Não havia água potável nem luz em muitos bairros do Recife, cidade afinal vencida pela cheia. Tanto desmantelo. Acreditei que o inferno era feito de homens insensatos e das águas revoltas dos rios. O Capibaribe e o Beberibe, nossos orgulhos, seriam também a nossa perdição. ..