Em manuais de jornalismo, a objetividade e a isenção dos jornalistas são aconselhadas fortemente. No manual de redação do Estado de São Paulo, de 1997, consta, já no primeiro capítulo, a sugestão do repórter ser objetivo e isento, pois seu papel é de mediação da realidade dos fatos com o leitor. No entanto, como ser isento quando o mundo se aproxima de seu colapso pelas próprias ações humanas?
Como não se posicionar diante da destruição, da ganância, das desigualdades e injustiças? Passados quase 30 anos da publicação do guia, veículos hegemônicos ainda corroboram para a visão de que o jornalista deve se manter neutro perante a realidade que se desenrola sobre ele – como se isso fosse possível.
A ideia da objetividade já é questionada por muitos profissionais e pesquisadores, como é o caso de Fabiana Moraes e Márcia da Silva. No artigo “A objetividade jornalística tem raça e gênero: a subjetividade como estratégia descolonizadora”, as autoras discutem que essa suposta objetividade do jornalismo está ancorada em ideias patriarcais, capitalistas, ocidentais e voltadas para os ideais da Modernidade. Tais marcos atravessam a forma como nos relacionamos com a natureza, acarretando injustiças ambientais que se perpetuam até hoje...