Apelando por socorro, as comunidades tradicionais da Bahia relatam e elencam a quantidade de problemas e prejuízos que vêm enfrentando com o avanço de empresas mineradoras e eólicas.
Além das empresas responsáveis pela extração de minérios instaladas há anos no território, com o avanço das eólicas diversas comunidades enfrentam desafios de convivência e denunciam ações abusivas que, segundo eles, tem provocado a morte de nascentes e contaminação de rios, entre outros problemas.
Sem desconsiderar a importância da energia limpa gerada pelas eólicas e pelas usinas solares, ambas em franca expansão no país – no último 15 de junho, foi atingida a marca de 19 GW de capacidade instalada de energia eólica, através dos 726 parques eólicos com 8.585 aerogeradores. Na média mensal, esse valor é suficiente para abastecer 28,8 milhões de residências por mês, correspondendo a 86,4 milhões de pessoas. Desde 2019, a energia eólica é a segunda fonte da matriz elétrica brasileira e a estimativa é de que até 2024, o Brasil terá pelo menos 30 GW de capacidade instalada de energia eólica. No entanto, o crescimento de novas fontes de energia, muito necessárias, principalmente mediante a crise energética vivenciada nos últimos anos devido às secas e aos longos período de estiagem, precisam estar em consonância com as questões ambientais, desde o momento da sua instalação até o seu funcionamento. Este é o entendimento de comunidades inteiras, e de representantes de órgãos fiscalizadores como o Ministério Público e os Comitês de Bacia.
Além da forte atuação das mineradoras, do total de parques eólicos distribuídos em 12 estados, 201 estão instalados na Bahia, que é o Estado com mais parques, totalizando 2.261 aerogeradores. A moradora da comunidade Itapicuru, na cidade de Jacobina (BA), Claudiana Pereira Silva, relata com tristeza o avanço do processo de mineração e degradação ambiental. “Temos mineração há mais de 100 anos dentro da comunidade e isso nos chama a atenção principalmente para as nossas nascentes e terras. Como todos sabem, água é essencial para a vida e para o meio ambiente. Aqui, temos serras muito bonitas de muita natureza, mas tudo está sob o domínio da mineração, causando um grande impacto dentro das comunidades do Itapicuru, Jabuticaba e Canavieira, em Jacobina. A região é a chamada caixa d’água de Jacobina. No local existem quatro rios nos quais não corre mais água e a maioria das nascentes já secou. As poucas que existem ainda estão sob a ameaça de contaminação, o que já aconteceu em uma delas”, conta.
Representando a Articulação Estadual Fundo de Fecho de Pasto Regional Senhor do Bonfim, Carlos Eduardo Cardoso destaca que nas áreas dos municípios de Antônio Gonçalves, Pindobaçu e Mirangaba, as nascentes que abastecem as principais barragens das cidades baianas de Jacobina, Ponto Novo, além de mais 30 municípios, estão ameaçadas. “Todo esse território está sob forte ameaça. Em Correntina também estão acabando as nascentes. Nós das comunidades de fundo de pasto desenvolvemos agricultura familiar e as comunidades estão ameaçadas. Então pergunto: e se perdemos essas nascentes? Vamos ficar com sede? Porque o rio São Francisco está morrendo e não tem condição de abastecer toda essa região. As comunidades vão focar no São Francisco depois que todas as nascentes morrerem? Então é preciso pensar que estamos em uma bacia de água doce e ela está acabando. Será que vamos permitir? E nossos filhos e netos não vão achar mais nada e correr para o Rio São Francisco que está morrendo? ”, reclamou Cardoso...