Artigo - Não se entende patavina
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo". Esta é uma das diversas inquietações de Clarice Lispector (1920 – 1977), escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira.
O momento pelo qual passa o Brasil tem provocado inúmeros questionamentos e reflexões. Tem brasileiro entendendo, não entendendo e outros entediados com o 'tsunami' de acontecimentos negativos ocorridos ultimamente no país. Nunca na história se viu com tanta freqüência a incerteza se transformar em certeza e vice-versa. Como diz a expressão idiomática utilizada na Roma antiga, mas bastante atual e comumente empregada quando se desconhece um assunto: "Não se entende patavina"...