A Cia Biruta realizou nos dias 9, 10, 11 e 12 deste mês formação em técnicas de iniciação teatral para jovens do Território Quilombola Águas do Velho Chico, situado em Orocó-PE. Foram quatro dias intensos de troca entre a cultura quilombola e os saberes teatrais do grupo que comemora, este ano, 10 anos de fazer teatral no Sertão do São Francisco.
A oficina foi para o grupo uma verdadeira vivência de imersão na comunidade nesses quatro dias, onde participaram do dia a dia dos moradores, como destacou o diretor, a ator e produtor Antonio Veronaldo, um dos ministrantes da oficina: "A oficina proporcionou para gente uma vivência que fortalece nosso fazer artístico e seu sentido. Foi muito importante poder acompanhar a vida da comunidade, comer junto, conversar e presenciar suas lutas, a exemplo do dia em que participamos da comemoração do resultado do julgamento do decreto 4887/03 no STF, que reconheceu a constitucionalidade da demarcação dos territórios quilombolas, uma comemoração simples, mas espontânea, que reuniu jovens e as pessoas mais velhas para cantar, dançar, improvisar versos acompanhados de batuques, tudo para celebrar a vitória quilombola.
Compreender a luta quilombola dentro da comunidade faz toda diferença para que nós que somos um grupo da periferia da cidade e busca no seu fazer esses laços comunitários."
Um iniciativa realizada de forma independente pela Cia Biruta, a oficina se deu de forma itinerante, percorrendo as quatro comunidades que compõem o território: Mata de São José, Umburana, Remanso e Viturino, promovendo a iniciação teatral como forma de expressão e comunicação em torno das questões de identidade. Para a atriz e produtora cultural, Cristiane Crispim, levar a oficina às comunidades foi um modo de estimular o desenvolvimento dessa linguagem o território, para que o teatro possa contribuir como uma ferramenta pedagógica popular de afirmação e reflexão sobre ser quilombola, "foi muito bonito vê os jovens do território interagindo, pensando e debatendo questões como 'quem eu sou?' e 'o que é ser quilombola?' e se descobrindo, principalmente, descobrindo sua presença expressiva como ferramenta de comunicação, reflexão e debate acerca de suas questões de sua cultura e sua luta."
Utilizando as associações quilombolas e os espaços ao ar livre em integração com ecologia do lugar, a metodologia proposta pela Cia Biruta buscou integrar a corpo, território e cultura dentro do contexto quilombola e a partir de materiais oferecidos pelos jovens a oficina foi uma verdadeira troca de experiências: "Compartilhamos procedimentos que costumamos usar na nossa comunidade, na nossa pesquisa teatral e na nossa busca estética. Somos do contexto da periferia urbana, mas nossa metodologia se abre ao diálogo com as questões quilombolas a partir do momento em que escolhemos que nosso teatro tem, cada vez mais, a ver com o sentimento de pertencimento e a compreensão das identidades ribeirinhas e sertanejas em seus processos históricos e sociais. Aprendemos e temos muito mais ainda a aprender com os quilombos", afirmou Cristiane Crispim.
A Cia Biruta celebra em 2018 dez anos de trajetória e preparou uma programação que iniciou em janeiro com a residência artística em palhaçaria com Cia Dois Palitos (SP), sendo a oficina em Orocó a segunda ação da celebração que culminará em maio, mês de seu aniversário. O grupo está em processo de criação de um novo espetáculo para criança na linguagem de palhaças e de pesquisa em teatro adulto, intitulada "Canudos: território navegante" e prepara-se para, dentre outras ações, apresentar as novas montagens até lá. Para acompanhar as ações do grupo e saber mais sobre a programação dos 10 anos siga o perfil: https://www.facebook.com/ciabiruta e o instagram: @CiaBiruta.
Ascom
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