ARTIGO – UM PARLAMENTO SEM VOZ

Embora seja de importância fundamental como um dos três Poderes da República, é inegável o reconhecimento de que se acha extremamente desgastado, face a um somatório recente de fatos que marcam o desempenho individual e coletivo dos seus membros, além de uma credibilidade que se deteriora com grande progressão. Refiro-me ao Congresso Nacional! Mesmo assim, tenho o hábito, tal qual alguns poucos cidadãos deste país, de assistir ao debate parlamentar que ocorre na Câmara de Deputados e no Senado Federal, através das respectivas TVs institucionais, sempre alimentando a esperança de que na tribuna ou no plenário algo de bom aconteça, principalmente em defesa da pátria e dos seus filhos. Sei que é uma vã esperança!

Entristece ver que a conduta do Parlamento nacional raramente é regida por posições unicamente ideológicas ou partidárias divergentes, o que seria um perfil mais do que normal, considerando ser o repositório de todas as tendências. O que se tem testemunhado, porém, é que basta o Poder Executivo ter a necessidade de aprovar algo do seu interesse, e logo se iniciam as negociações pouco puritanas, manipulando os votos ao seu bel prazer e fixando as regras do jogo como desejado. Nesse estágio do jogo sujo e pouco democrático, a preocupação passa a ser a definição da moeda de troca que será utilizada:

a) os cargos representativos da máquina pública para familiares e apadrinhados?

b) Ministérios para os partidos?

c) as presidências ou vice-presidências de estatais, das quais eles usam e abusam?

d) ou ainda, se usa a moeda Real tupiniquim, ou aquela verdinha mais aceita nos Bancos dos paraísos fiscais? Na verdade, nesse jogo sujo, VALE TUDO!

Dentre as reformas de maior urgência e que por lapso omiti na última crônica - mas foi lembrada por alguns leitores -, e com a qual estou coeso, está a necessidade de redimensionar o tamanho de todo o Legislativo nacional, com extensão às Câmaras Estaduais e de Vereadores. Como se falar em ajuste fiscal nas contas públicas, se temos uma Câmara de Deputados Federais com 513 parlamentares e um Senado com 81, extremamente onerosos? Atrele-se a isso uma monumental estrutura de retaguarda, com um estupendo número de assessores, veículos, moradia, e tantas outras vantagens... De acordo com dados de julho de 2017, são 3.072 servidores, 1.640 ocupantes de cargos concursados de natureza especial (CNEs) e 10.804 secretários parlamentares. Cada gabinete pode contratar entre 5 e 25 secretários parlamentares, que prestam serviços de secretaria, assistência e assessoramento direto e exclusivo nos gabinetes dos Deputados em Brasília ou nos Estados. Seria mais que razoável e condizente com a real capacidade do país, reduzir a Câmara dos Deputados Federais para um máximo de 250, e o Senado Federal para um máximo de 41 senadores. Como podem ver, essa matemática não dá conta de tantas contas a pagar. Diga-se de passagem, contas totalmente inócuas, sem sentido e retorno zero.

Um detalhe chama a atenção do mais simples observador de uma sessão em Brasília: enquanto alguns tiram aquele leve cochilo, entre os que estão acordados 80% estão sempre ao celular, 15% conversam entre si ou se cumprimentam nas breves caminhadas pelo recinto e apenas 5% debatem os temas em pauta ou procuram dar um mínimo de sentido ao Parlamento. Mais impactante, ainda, é observar que dentre esses 5% que falam, tem aqueles que usam da palavra para informar que estiveram visitando este ou aquele município de sua base eleitoral, que a esposa do Prefeito aniversariou e ainda pedem que a sua intervenção seja divulgada nos órgãos de comunicação da Casa: Rádio, TV e na Voz do Brasil! O mais grave é que, enquanto falam tamanha idiotice e inutilidade, às vezes está em andamento uma Votação Nominal de alguma PEC ou Medida Provisória da maior importância, e a sequência é interrompida para comunicados de nenhuma relevância! Outro absurdo: por que só “trabalham” de terça a quinta? O mínimo que deviam fazer era ter um comportamento mais decente, até porque sabem que estão sendo filmados!

Pode transparecer que tenho ojeriza ao Congresso Nacional, o que não é verdade. O fato concreto é que a sua existência institucional dá legitimidade ao Sistema Democrático, e que dele jamais poderá prescindir. Contudo, deveriam estar implícitos em todos os seus atos e atitudes, as marcas da responsabilidade e da integridade e, sobretudo, do respeito pela instituição.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).