Embora seja um texto escrito e não gravado em áudio, parece-me estar ouvindo a resposta coletiva dos leitores complementando o presente título: ...MOSCA! O ditado popular indica que “há pessoas que falam demais, coisas que não deveriam falar”, e recomenda a cautela que elas deveriam ter em não sair espalhando pelos quatro cantos aquilo que ouviram e que era para manter em segredo, e assim deveriam ficar com a boca fechada! Mas, a intenção do presente texto é, justamente, levantar um questionamento sobre uma atitude inusitada que vem ocorrendo nos últimos tempos no Brasil – não lembro de ter visto em outras partes do mundo -, e que, diferentemente de manter a “boca fechada”, fala-se demais e com a mão estranhamente cobrindo a fala, como se algo suspeito e perigoso esteja sendo dito naquele momento! Contra FOTOS não há contraditórios... ou há?
Como são tantas as modernidades da atualidade, esse é um hábito que vem se incorporando com regularidade ao comportamento rotineiro das pessoas detentoras de status, desde o Presidente da República, Parlamentares, Ministros de Estado, técnicos de futebol e até mesmo os jogadores, os quais, invariavelmente, só falam colocando a mão sobre a boca na tentativa de se livrarem da leitura labial (vide a ilustração). A diferença parece estar no foco de cada um, ou seja, aquilo que querem passar ao interlocutor. E só o além sabe o que eles falam entre si, apesar de que, em alguns casos, às vezes o segredinho tem vindo à tona!
Se considerarmos que as pessoas normais não aplicam esse uso incomum nos seus diálogos, passa a todos um sentimento de que essa prática procura ocultar um mistério! O palavreado protegido dos jogadores e técnicos, pode-se até entender a pretensão de ocultar da imprensa e dos adversários as táticas e estratégias naturais do jogo ou, às vezes, algum palavrão contra a mãe do juiz... Mas, no campo da política e agora depois dos escândalos apurados pela Lava Jato, descobre-se que a mão protegendo o que fala ao seu vizinho ou ao telefone tem outra justificativa, por inibir a leitura dos lábios de diálogos às vezes pouco recomendáveis no universo político, sintomáticos de possíveis comprometimentos e de consequências até mesmo policiais. E aqui, repito: não há mistérios entre o céu e a terra, e a prova disso são os casos e mais casos descobertos semanalmente!
Essas desconfianças nos trazem à lembrança, pelo contido nos milhares de processos de corrupção em andamento, o reforço de um outro ditado popular que explica a exagerada ansiedade e uma fome insaciável de dinheiro dos muitos atores envolvidos, que os levam a caírem nas armadilhas cheias de iscas atraentes, tão adormecidos que não enxergam que “o peixe morre pela boca”! Tanto isso é uma verdade insofismável que palavras impróprias, inadequadas e colocadas na hora e local errados, tem se constituído em tragédia para muitos notáveis em decorrência de escutas ou câmaras ocultas que funcionam como anzóis perigosos... E por isso eles têm sido as presas fáceis das investigações!
Ainda que desprezados possíveis aspectos nebulosos, essa mania pode esconder verdades nem sempre muito agradáveis, principalmente por se tratar de personalidades que deveriam ter outro tipo de postura. Diria que, independente das reais intenções e objetivos criminosos que o tosco gesto queira disfarçar, ele é feio e deselegante para ser banalizado por autoridades que deveriam passar à população exemplos de decência e melhor compostura.
A conclusão objetiva a que se chega, é que os homens comprometidos com o comando e a liderança do País, do Estado ou do Município, tem de estar conscientes de que são os responsáveis por inspirar confiança no seu povo e zelar pelo fortalecimento de sua autoestima. Inversamente, a triste realidade atual demonstra que esses requisitos atingiram os mais altos níveis de declínio na sociedade, enquanto entre eles é mais relevante cuidar das ardilosas formas estranhas de dialogar sobre as suas indignidades.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
9 comentários
11 de Jun / 2017 às 23h11
Grande Agenor, você sempre dizendo aqui em seus Artigos aquilo que as pessoas gostariam de dizer pessoalmente a esses senhores... Eles sempre arranjando um disfarce: ora é uma mala, ora as próprias mãos, e você como sempre atento a todas essas coisas, vem aqui e nos brinda com um texto de grande responsabilidade e ponderações realistas, que no fundo no fundo cobra deles posições mais dignas do que tudo isso que assistimos ultimamente...!!!
11 de Jun / 2017 às 23h21
Um abraço, caro Agenor, por mais uma boa crônica. (Salvador-Ba).
11 de Jun / 2017 às 23h24
Realmente esse péssimo comportamento demonstrando claramente o cochicho, outrora era considerado uma tremenda falta de educação. Por outro lado, é notadamente um fato indiscutível que o comportamento e atitude tem um reflexo contundente que exprime a retidão e exemplo que os representantes do povo deveriam se adequar e não procurar com avidez se locupletar com o erário público, e o pior, com polpudas propinas levando ao desequilíbrio financeiro Estados, Municípios e Instituições, ocasionando o sofrimento insofismável dos funcionários públicos e aposentados como está ocorrendo (Manaus-AM).
11 de Jun / 2017 às 23h35
500 mil por semana um presidiário ......A recebia de Miseu Temerariu para ficar calado e Moru não sabia ou não ???? Aeciu falou que pode matar quem falar ????Graças a Internet com bons blog e Facebook o povo sabe tudo. Parece que terça a Justiça vai preder Aeciu ???Moru eh amigo de Aeciu ??
11 de Jun / 2017 às 23h44
Amo Luiz Inácio Lula do Luz para Todos. Amo partido dos Trabalhadores porque sou assalariado e o PT foi o partido que mais trabalhou para melhorar a vida do trabalhador. Amo Lula pelo Samu. Amo Lula pelo MCMV. Amo a vida
12 de Jun / 2017 às 08h29
Como sempre, você acertou o alvo, Agenor. Realmente nos tornamos um país em que o subterfúgio suplanta a honestidade. Sabemos que em determinados situações, sigilos são necessários. Contanto que sirvam para o bem estar e contenham objetivos honestos. Mas , esta não é a realidade. Principalmente na política. Chegamos ao ponto de de um julgamento montado para não eliminar a última tentativa de uma reforma no Brasil, mantendo políticos corruptos que se dispõe a esta reestruturação.E infelizmente parece que foi a única alternativa.Chegamos na situação de torcer que a ilegalidade gere soluções.
12 de Jun / 2017 às 11h33
Essas "tramas inconfessas" poder-se-ia (como diria o homem das mesóclises, um tal michel, o temer - em minúsculas mesmo) disciplinar como inadmissíveis dentre as autoridades públicas pois esses servidores, em realidade, são serviçais do povo, posto que em seu nome e/ou por sua delegação, exercem tais cargos e funções (em tese). No campo esportivo (ou desportivo), após a invasão televisiva, com um sem número de câmaras filmando as partes até intestinas de tudo e de todos que participam dos espetáculos, camuflar ou esconder comentários pode até ser fundamental para o êxito das disputas.
12 de Jun / 2017 às 11h36
...Cabe notar que a CF-1988, em seu Art. 37, dispõe o seguinte: "Art. 37- A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)..." - grifei. Ora, publicidade às escondidas é fuxico, futrico, mexerico... terminologia e comportamento não disciplinado nem compatível com o exercício de cargo público.
12 de Jun / 2017 às 11h42
...Isso sem menosprezo às demais condicionantes do Artigo do citado Diploma Legal, como se percebeu nos acontecimentos dos fatos recentes de nossa putrefata política (a partir da sessão do Congresso onde houve a cassação da ex-presidente e o apartamento da pena contígua ao artigo que embasou a cassação, descaradamente propagado pelo então presidente do CN e levado a efeito/sacramentado pelo então presidente do stf. Tudo sob a aquiescência dos tribunais superiores (que se minuscularizaram), como se os doutos ministros, parlamentares e demais autoridades estivessem num happy-our entre amigos.