À sombra de uma tenda, várias pessoas formaram um círculo em volta de um recipiente com terra. Uma a uma, elas depositaram sementes no recipiente, proferindo desejos. “Eu desejo amor”. “Eu desejo igualdade”. “Eu desejo respeito”. Esse foi o ponto de partida para o 7º Fórum de Mobilização Antimanicomial do Sertão do Submédio São Francisco (FMA), que teve início ontem (31) junto com a 4ª Mostra de Atenção Psicossocial (MAP) e cujas atividades continuam até amanhã (2). O evento é promovido pelo Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão (Numans), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e acontece no Complexo Multieventos, localizado no Campus Juazeiro (BA).
Com o tema “Em defesa da Atenção Psicossocial: resistir e lutar!”, o 7º FMA e a 4ª MAP trazem uma programação variada. No primeiro dia, foram promovidas diversas oficinas, além de uma ágora inaugural, que discutiu o “Protagonismo e empoderamento dos usuários e familiares em Saúde mental: uma via para resistência e luta”. O evento conta com outras duas ágoras, apresentações de trabalhos, rodas narrativas e apresentações culturais de música e teatro, que serão realizadas hoje e amanhã.
Segundo a discente do mestrado em Psicologia da Univasf, Grécia Nonato, que participa da organização, as discussões propostas no evento buscam evidenciar a necessidade da luta pela Atenção Psicossocial. “A gente vem percebendo alguns retrocessos no campo da saúde mental, não só nessa região, mas no país inteiro. Diante disso, essa edição traz a marca da garra e da militância que a gente precisa ter, de não perder o que já foi conseguido e garantir que outros direitos sejam efetivados”, declarou Grécia.
Ainda segundo a organizadora, o 7º FMA e 4ª MAP têm aproximadamente 600 pessoas inscritas, do Vale do São Francisco e de outras cidades do Nordeste. O evento mobiliza estudantes, professores e pesquisadores da saúde, bem como profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Juscelina Teixeira é assistente social do CAPS Infantil de Petrolina (PE) e participa do Fórum de Mobilização Antimanicomial pela segunda vez. Ela visitou a tenda montada pelo projeto “Sentindo na Pele” da Univasf, que convidou os participantes para simularem a experiência vivida por deficientes físicos, visuais e auditivos. A assistente social colocou uma venda e uma bengala e circulou pelo hall do Complexo Multieventos como se fosse deficiente visual. Para ela, a experiência foi marcante. “Uma coisa é você ter a visão e passar por esse momento. Outra coisa é não ter a visão e viver aquilo. Eu me emocionei e parei, porque não estava mais suportando. Mas, foi muito boa a sensação de conhecer a realidade”, contou Juscelina.
A residente em Saúde da Família da Univasf Josi Oliveira organiza o evento desde a segunda edição, e foi uma das pessoas que atraíram os participantes para a mística de abertura. De acordo com ela, as sementes plantadas no início do Fórum demonstram a crença no fim dos manicômios e o desejo para que sejam disponibilizadas outras alternativas de cuidado em saúde mental. “O que a gente quer colher não é o fruto da exclusão, do descuido com o outro e da arbitrariedade que acontece dentro dos hospitais psiquiátricos. O que a gente quer colher é cuidado e liberdade”, afirmou.
Ascom
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