Até seria compreensível que depois de algumas dezenas de anos de vigência da legislação que define a estrutura de um segmento do Sistema Institucional, e que estabelece as regras gerais de direitos e obrigações dos que dele dependem, seja submetida a uma revisão que a modernize para que o desempenho seja mais eficiente no cumprimento dos seus objetivos finais. Essa atualização, dentro desse conceito, até poderia ser classificada como “Reforma”. Mas, em linhas gerais, as teses que ora alimentam a pretensão de realizar alterações profundas nos princípios que regem a aposentadoria dos trabalhadores, são carentes de fundamentos verdadeiros e legítimos. Ou seja, precisam ser melhor analisados, e não apenas submetidos e metidos de goela abaixo de quem verdadeiramente trabalha neste País.
É muito débil e vergonhoso o argumento de que a Previdência Social está quebrada e que não terá recursos para garantir os salários dos aposentados, principalmente no futuro, quando se sabe que há um débito superior a 400 bilhões de reais da parte de empresas, Bancos, Prefeituras e Estados, numa demonstração de que há irresponsabilidade, permissibilidade e tolerância conveniente a certos interesses. Pelas redes sociais está circulando um áudio divulgado por entidade dos Auditores Fiscais da Receita Federal, dando conhecimento à população de que não há déficit na Previdência e sim desvios contábeis de valores arrecadados e direcionados para finalidades bem diferentes dos fins a que deveriam se destinar. Se não é verdade, porque o governo não desmente a denúncia? O fato é, desde muito tempo, ou melhor, em todo tempo, sempre quem pagou a conta foi o trabalhador.
Lembrando a prática do bom cronista Acordadinho, gostaria de enriquecer a compreensão do tema, recordando o sentido de IMPREVIDÊNCIA: que não possui previdência; sem previsão; ausência de prevenção; desleixo, descuido, inadvertência, incúria, negligência. Acrescentaria: má gestão! O conjunto de todas essas deficiências, somadas à impunidade dos grandes devedores que não somente não recolhem as suas obrigações devidas por lei, como ainda cometem o crime da APROPRIAÇÃO INDÉBITA pela retenção dos valores que descontam dos seus empregados, são fatores suficientes para invalidar todos os argumentos justificadores e enganadores exibidos na Reforma da Previdência pretendida pelo Governo.
É notório que a corda sempre quebra do lado mais fraco e assim os nossos trabalhadores estão à mercê de uma brutal violação nos seus direitos. E o que mais fragiliza o debate que a sociedade deseja que seja feito, é saber que nas estratégias para obter a aprovação na Câmara vale o uso de todas as armas. Por exemplo, antes da votação da Reforma Trabalhista, a imprensa anunciou: “o Governo destrava as nomeações”, significando que elas seriam colocadas a serviço da compra de votos na Câmara. Após aprovada, contrariamente, aqueles que não cumpriram o compromisso assumido de votar, obtiveram como resultado a demissão dos seus nomeados nos diversos cargos da Administração Federal! Negociação é um componente do processo político, mas usar da barganha que onera o Estado é prática indecente e reprovável, e outros tantos adjetivos que prefiro não citar para não manchar esse texto.
Agora, a meta em andamento é a Reforma da Previdência. Para viabilizar a sua aprovação a primeira manobra do jogo baixo, também já está em campo. Em ato solene o Governo assinou Medida Provisória – um instituto constitucional previsto somente para situações de “relevância e urgência” –, ampliando a renegociação dos débitos previdenciários das Prefeituras, de 60 meses para 200 meses (quase 17 anos!), mais a redução da multa e juros em 80%! Ora, doutores, se a Previdência Social está falida e convive com déficit, essa decisão, diante dos rigores da Reforma encaminhada, representa uma incongruência e uma insanidade contra o trabalhador brasileiro! Significa que serão cerca de 5.570 Prefeitos a pressionarem os seus parlamentares!
Nesse contexto, conclui-se que a nação está diante de uma reforma cheia de IMPREVIDÊNCIAS que afetam duramente os direitos de aposentadoria do cidadão brasileiro, mas não priorizam a eliminação dos desvios que atingem a estrutura da nossa Previdência Social. Espera-se que os senhores congressistas tenham sensibilidade e responsabilidade para separar o joio do trigo na condução dessa Reforma. O difícil são os tipos que lá estão se disponibilizarem a fazer essa fácil separação.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
6 comentários
21 de May / 2017 às 23h11
Grande Cronista, você citou dois motivos cruciais para torar no meio qualquer administração: má gestão e falta de pagamentos dos devedores que no caso da previdência chamamos de APROPRIAÇÃO INDÉBITA. A partir desses dois pontos tudo que acontecer será chamado de imprevidência, irresponsabilidade, e acima de tudo falta de gerenciamento que só sabem ter contra nós trabalhadores assalariados que nem direito a nos aposentar teremos mais...!!!
21 de May / 2017 às 23h23
Este texto nos leva a entender a necessidades de PROVIDENCIAS urgentes junto à população para fazer a leitura com os olhos e Inteligência ativa do que com os ouvidos. Parabéns Irmão! Excelente texto. (Salvador-BA).
21 de May / 2017 às 23h41
O desmoronamento das conquistas dos trabalhadores do nosso País, é um fato incontestável. Por outro lado, o enfraquecimento financeiro da Previdência, prende-se ao fato dos reflexos da má gestão, porque somente políticos são escolhidos pelo Governo para uma gestão sem conhecimentos técnicos e, o pior, permitir o não cumprimento de suas responsabilidades e ficam sem pagar as suas contribuições, a exemplo dos MUNICÍPIOS, ESTADOS, BANCOS E GRANDES EMPRESAS, deixando o ônus aos trabalhadores e pequenos empresários que não escapam das cobranças implacáveis. INFELIZMENTE, É A DURA REALIDADE.
22 de May / 2017 às 06h49
O ser humano é complexo. Tem gente que merece o nome de LADRÃO. Tem gente que mente, engana, trai, usa máscaras e ardis, e acha que está correto fazer isso. Cada um pensando em seu umbigo. São vidas que não valem a pena. Só deixarão na terra herdeiros de suas mazelas, tristes seres sem nenhum futuro. (Histórias de Pilão Arcado)
22 de May / 2017 às 07h41
A troca de palavras que o cronista usou simplifica o que acontece em toda esta crise da (im)previdência brasileira. E ainda podemos lembrar, Agenor, que a medida que foi sendo unificado o regime previdenciário brasileiro, casos emblemáticos de desvio de verbas ocorreram e embora identificados os autores pouco se recuperou. Mas talvez a pior situação tenha sido que categorias ligadas ao poder público conseguem se aposentar com vencimentos integrais, algumas com categorias especiais, aumentando ainda mais a injustiça previdenciária. Que deverá ser paga pelos demais que tem teto fixado. Continua.
22 de May / 2017 às 07h42
Continuação.....E ainda mais que os pedreiros, carpinteiros, coletores de lixo e outros pesados serviços não tem categoria especial. Seria ótimo um revisão destes conceitos. FOZ DO IGUAÇU-PR