Roberto Malvezzi (Gogó)
Estávamos no auge do Regime Militar. A tortura e as mortes aconteciam sem que a sociedade soubesse. Então, num sábado à noite, D. Paulo Evaristo Arns foi celebrar uma missa na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Jardim Paulistano, São Paulo. Ali, numa roda miúda, nos disse que um jornalista tinha sido assassinado nas dependências do Exército. Era Vladimir Herzog. Então, a Arquidiocese de São Paulo tinha lançado uma nota para ser lida em todas as missas dominicais. Era uma denúncia corajosa e franca dos porões da ditadura e da morte de Herzog.
Para muitos especialistas, ali começou a derrocada do Regime Militar, isto é, havia um espaço que os generais não controlavam. Era exatamente o interior dos templos católicos.
Hoje a CNBB pede a todas as dioceses do Brasil que leiam a carta denúncia contra as reformas do governo Temer, particularmente a da Previdência. Mas podem ser incluídas aí a PEC do Fim do Mundo, a terceirização geral dos trabalhos e a reforma trabalhista. A CNBB é clara: as reformas atendem o mercado, mas atentam contra o povo.
Alguns cardeais, vários bispos, muitos padres e muitos leigos apoiaram o golpe contra a democracia que possibilitou esse ataque destrutivo aos direitos do povo. O governo anterior tinha problemas éticos, políticos e econômicos, mas nunca atacou os direitos do povo. Esse tem o dobro de problemas éticos, políticos e econômicos, mas tem o detalhe de querer destruir tudo que o povo brasileiro construiu em termos de civilidade desde Getúlio Vargas, passando pela Constituinte Cidadã de 1988 e também nos últimos governos.
Quem sabe a leitura das cartas nos templos, nas missas, nas procissões, durante a Semana Santa, inclusive, demonstrando claramente a intenção desse governo de crucificar novamente nosso povo, seja o primeiro passo de reação a esse golpe, assim como foi a carta de D. Evaristo Arns no Regime Militar.
6 comentários
11 de Apr / 2017 às 09h15
Finalmente a igreja católica se posicionou em favor do povo sofrido. Estou aguardando os evangélicos.
11 de Apr / 2017 às 10h38
se a igreja apoiar os petralhas deixo de ir nas missas.
11 de Apr / 2017 às 12h42
Quando se mistura religião e política, coisa boa não sai. E se for política comunista, que massacra o povo, pior ainda.
11 de Apr / 2017 às 15h59
Já estava na hora da CNBB se posicionar. Este posicionamento da CNBB não é de mistura politica com religião e sim de DEFESA DOS DIREITOS DO POVO, duramente conquistados. Até onde sei o governo que está massacrando o povo não é de politicos comunistas, mas sim de politicos que estão mais dispostos a defender os rentistas e a elite. O que vejo são politicos varias vezes delatados entregando nosso patrimonio ao mercado exterior, e para empresas corruptas. Podem ir a missa, pois a igreja defende o povo, e não um partido. Aliás, melhor desligar a TV e ir à missa, pois será preciso muita oração.
11 de Apr / 2017 às 17h11
Sempre tive curiosidade em saber qual a profissão e em que trabalha esse rapaz aí. Só curiosidade mesmo.
12 de Apr / 2017 às 09h46
Historicamente a Igreja Católica eve um posicionamento de Direita (conservador e vicioso), porém, uma ala progressista, ligada a "Teologia da Libertação", tem se relacionado com os Movimentos Sociais, defendido as bandeiras da esquerda, como: Interesse público; direitos sociais; ética na política e combatido as mazelas sociais impostas pela selvageria do Capitalismo.