É muito estimulante quando alguém, além de ler a crônica e comentar, ainda oferece ao autor o desafio para abordar um tema da sua preferência. Assim é que o leitor Carlos Fernando, num comentário, solicitou: “Numa próxima crônica, sugiro tratar da transparência, termo usado com ênfase pelos gestores em passados. Falar em transparência é fácil, a forma de ser transparente na gestão é que interessa à sociedade”. A afirmativa é autêntica, visto que reflete comportamento muito comum no universo político, quase sempre recheado de distorções na prática.
Com a devida vênia do Acordadinho, copiarei a sua boa prática de buscar a definição etimológica para certas palavras, a fim de facilitar o prévio entendimento.
Transparência – (Figurado) Particularidade do que não possui duplo sentido; que se apresenta com clareza; limpidez.
Transparência – (Política) Preceito através do qual se impõe à administração pública a prestação de contas de suas ações, através da utilização de meios de comunicação.
A Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios, deve estimular a sua relação com o cidadão através da ampla divulgação dos seus atos, visto que essa obrigação já está contida na própria Constituição Federal de 1988, no art. 37, onde se lê que: “[...] obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, PUBLICIDADE e eficiência”.
Ainda que a composição do título desta crônica ofereça a possibilidade de dupla variação para a palavra TRANSPARÊNCIA, na definição dada para o seu sentido “figurado” já se vê que ela “não possui duplo sentido” e, assim, ao passar informações usando os artifícios da fraude, da ocultação da verdade e da falsidade dos números, o ato se caracteriza como uma violência torpe e indesejável. A palavra, no seu sentido “político” fundamenta a obrigação moral daqueles que exercem a administração pública de darem divulgação dos seus atos de gestão, prestando contas à sociedade com lançamentos contábeis legítimos e verdadeiros, e não maquiando valores e passando índices falsos, como, costumeiramente, temos assistido por uns e outros que andam por aí, e todos nós sabemos que eles existem!
É uma verdade incontestável que a violação desses princípios tem raízes fincadas ao longo da nossa História. É como se o mal exemplo estivesse passando de pai para filho. Os recalcitrantes se defendem dos seus desvios, no que convencem os seus seguidores mais sectários, justificando que os graves erros recentes e atuais não são únicos porque outros governos também praticaram tais ilícitos no passado. Essas ponderações apenas nos remetem ao ditado “é o sujo falando do mal lavado”, o que é inaceitável.
A dimensão da grave crise econômica que ora o país atravessa é exatamente o resultado da falsa pujança de uma economia forjada em dados mentirosos, com o intuito de dar continuidade a um projeto político sem coerência com os interesses da nação. Embora não veja o atual Governo com competência e credibilidade para retirar o país do fosso em que se encontra, principalmente pelo fato da maioria dos membros que integram a sua equipe se achar comprometida com os mesmos desvios de moralidade política que, no conjunto, inspiraram a deposição do governo anterior, estou convencido de que a grave situação herdada não encontrará solução num passe de mágica. Fala-se em antecipar as eleições, e logo surge a pergunta inquietante: Para eleger quem?
Apesar de todo esse contexto, reconheço a necessidade de reacender a chama do otimismo e voltar a acreditar no país, fatores fundamentais para a construção de um novo cenário nacional. Vai ser preciso, porém, que o cidadão utilize com muito critério a lupa que vai lhe mostrar a “clareza e limpidez” dos Relatórios de Gestão Fiscal dos administradores das Instituições Públicas, bem como para enxergar com mais profundidade o caráter do político à sua frente, o que o ajudará a identificar entre a TRANSPARÊNCIA real e a APARÊNCIA enganadora de suas atitudes e ações. E como bem afirmou o leitor, “a forma de ser transparente na gestão é que interessa à sociedade”.
Chega de falsidades e mentiras!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
9 comentários
15 de Jan / 2017 às 23h05
Esse Artigo Grande Agenor, tem a pergunta que não quer calar: Para eleger quem? Esse é o X da questão. A vida por si só nos ensina que muitas vezes “as aparências enganam”. E como poderá haver transparência por enganadores? Já sei, será forjada e mentirosa como todas na maioria, e quando menos esperamos a casa cai, os números vem abaixo, e nós como sempre sofremos as consequências dessas imoralidades a cada dia sempre crescentes...!!!
15 de Jan / 2017 às 23h13
Blog 247brasil eu vi que o Traidor Mxeu Temi junto com Cunha PMDB ta lascando com os pobres com mortes e fome e ajudando os ricos. Isto eh transparencia e injustiças. Recebeu 10 milhões da Odebrecht e não devolveu e a TV cheia da grana para ficar com bico calado. Por isso Lula tem que voltar.
15 de Jan / 2017 às 23h18
O que está errado no Brasil é o Sistema, amigo! O sistema político. Enquanto não resolvermos isso, tudo tende a se repetir...sempre... (Salvador-BA).
15 de Jan / 2017 às 23h20
Os rumos a serem trilhados é bem por aí amigo Agenor Santos, Parabéns pela excelente matéria!!! (Barra do Mendes-BA).
15 de Jan / 2017 às 23h22
Excelente esta explanação sobre a aparência, mormente na de ordem pública, contudo até hoje só vi uma real e verdadeira transparência na área política, foi nos tempos da parabólica, que acabou com a demissão de um Ministro. (Rio de Janeiro-RJ).
15 de Jan / 2017 às 23h33
Sempre você, com muita propriedade, aborda assunto em evidência como TRANSPARÊNCIA E APARÊNCIA. Ocorre que não é apenas no cenário político e nas administrações públicas da União, Estados e Municípios. Os reflexos vem atingindo outros segmentos como os Planos de Saúde, a exemplo do que posso afirmar. Como participante da CASSI-BB, fui recomendado por um médico RADIOTERAPEUTA DO HOSPITAL A.C. CAMARGO-SP, RECONHECIDO NO TRATAMENTO DE CÂNCER, que fosse submetido a sessão de RADIOTERAPIA IMRT, método menos evasivo e evita efeitos colaterais agudos, por ser portador de um câncer de próstata...
15 de Jan / 2017 às 23h34
[...] Tive três NÃO AUTORIZAÇÃO E UM INDEFERIMENTO SEM EXPLICAR A RAZÃO, partindo do crivo de Chefias suspeitas, sem transparência, QUE NÃO AVALIAM QUE ESSE PLANO DE ASSOCIADOS, está recebendo por pagamento dos seus sócios, recursos financeiros na ordem de 40 milhões mensais desde DEZ/2016 até 2019. E, até o momento não apresentaram aos sócios a TRANSPARÊNCIA DESEJADA POR TODOS. É DEMAIS UMA SITUAÇÃO DESTA QUE ESTAMOS VIVENDO NESTE CENÁRIO LÚGUBRE DE UM BRASIL QUE URGE POR NOVOS DESTINOS. (Manaus-AM).
16 de Jan / 2017 às 07h32
Realmente, estamos em uma difícil encruzilhada na vida pública brasileira. Precisamos dos que estiveram em péssimos governos anteriores, como opção aos que lá estiveram e foram afastados. Mas a chave do sucesso, Agenor, você mostrou de forma clara : a Transparência deve se opor as aparências. E não vai resolver nada no momento trocarmos os que sobreviveram no poder, pois se outros entrarem o populista sistema político brasileiro vai boicotar e o caos será maior ainda. Pois políticos pensam de forma partidária. E nós não temos estadistas. Apenas interessados pelo poder.FOZ DO IGUAÇU-PR
16 de Jan / 2017 às 10h20
Perfeito Agenor, como seria bom que a transparência das ações políticas fizesse parte do dia a dia do universo político do nosso Brasil. (Aracaju-SE).