ARTIGO 220 – BRASIL: UMA MONARQUIA E MUITOS REISINHOS!

Está no currículo escolar, e foi assim que todos nós aprendemos, que em 15 de novembro de 1889 foi Proclamada a República Federativa do Brasil, pelo Marechal Deodoro da Fonseca, liderando a insatisfação geral devido ao autoritarismo, por mais democracia e as evidências de corrupção no Governo do Imperador D. Pedro II. Corrupção...? Ora, então essa praga é histórica e vem se repetindo desde então, além de se coadunar exatamente com o que diz um ditado popular, de autor desconhecido: “Quando a história se repete, preste atenção. Há uma lição que você precisa aprender, que talvez ignorou da primeira vez”.

Mas, como se vê, a nossa monarquia não durou muito tempo, como algumas que ainda existem nos nossos dias, as quais tem papel mais figurativo e representatividade histórica do que poder de governo. A do Brasil teve uma duração de apenas 67 anos, de 1822 a 1889, com dois Imperadores, pai e filho, D. Pedro I e II. O surgimento do movimento pela Proclamação da República foi inspirado na ansiedade de mudanças profundas, não somente no sistema de governo, mas, sobretudo, no anseio de novas práticas políticas.

Na essência do regime de governança, obviamente que as instituições foram estruturadas e diferenciadas das tradições monárquicas. Contudo, como não poderia deixar de acontecer, algumas características sempre são herdadas, principalmente quando se trata dos defeitos inerentes ao sistema, especialmente na ostentação da opulência nos cargos. Muitos já ouviram ou emitiram comentários como o da frase seguinte, diante da pose de certas pessoas que circulam com aparência superior ou aquelas que atendem nos órgãos oficiais exibindo desmesurado poder: “parece que tem um rei na barriga...”!

No presente caso, a frase reflete, talvez com uma certa carga de humor, apenas um detalhe do comportamento que lembra o fausto comum aos súditos do Reino. Mas, na realidade hoje vivenciada, existem situações muito mais graves dentro de nossa fragilizada e tumultuada República, que deixam de produzir humor e acarretam custos elevadíssimos aos Municípios, aos Estados e à Nação. As exceções são poucas ou raríssimas, e o que temos de forma bem abundante são os gestores que embarcam nos sonhos da gastança desenfreada do dinheiro público, sem controle e sem limites, como se o poder da assinatura fosse o alimento do próprio ego e da fantasia pessoal de cada um.

Quando lembro das imagens do Eduardo Cunha e do Renan Calheiro na caminhada pelos corredores do Congresso, entre os seus Gabinetes até o Plenário, acompanhados por um séquito de seguranças e tendo ao lado os parlamentares chamados de “Papagaios de Pirata”; quando recordo da pompa da carreata de veículos oficiais conduzindo os Senhores Ministros ao Palácio para uma reunião de trabalho ordinária com o Presidente da República; quando lembro da forma tão singular como os aviões da nossa Força Aérea Brasileira-FAB são utilizados ao bel prazer de Deputados, Senadores e Ministros, como, aliás, o fez recentemente o atual Ministro da Justiça Alexandre Moraes, ao usar um desses aviões em 11 de outubro para passar o feriado do dia 12 em sua residência em São Paulo e disse que tinha uma “suposta” agenda oficial para 13/10 (!); a Folha de S. Paulo informou (e este Blog noticiou), que desde 2010 foram custeadas pela Câmara 1.283 viagens ao exterior de Deputados Federais, para 69 países, com predileção por Estados Unidos, Suíça e França; parece brincadeira, mas três Deputados Federais teriam ido a Nova York, por conta do Governo, para serem homenageados por brasileiros que lá residem...! Atitudes que se revestem de indecência e estupidez!

É pouco ou querem mais abusos e mordomias? Como se vê, estamos diante de uma Côrte infestada por indignos sem qualquer consciência com o princípio da austeridade nos gastos, para os quais não tem PEC 241 ou 55/16 que dê jeito ou que venha a controlar essa febre de esbanjamento do dinheiro público. Pelo que se tem notícia, o uso do “cartão corporativo” é outra festança irresponsável: 154 milhões de reais na gestão Dilma e 50 milhões de reais na gestão Lula, só em gastos secretos! Com certeza não foi diferente em governos anteriores e não será na nova Corte recém instalada.

Diante dessa tragédia característica de má formação de caráter de uma maioria que só nos envergonha, sou constrangido, por uma convicção que me domina o íntimo, a afirmar de que ainda temos no país UMA MONARQUIA E MUITOS REISINHOS...! Dentre eles alguns a se perguntarem: “Que Rei sou eu” ?

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).