O resultado global das eleições de 2016 escreveu uma nova página na história recente do Brasil, pela importante lição que o eleitorado endereçou à classe política, principalmente a uma certa corrente que estava com um choro piegas e um discurso inconsistente invocando a tese do golpismo como bandeira, e que insistia em dizer que o povo daria a resposta nas urnas, a qual foi dada, realmente, de forma contundente e esmagadora. Arrisco a dizer que, com certeza, a mensagem das urnas em nenhum momento teve qualquer vestígio de aprovação ao governo atual que assumiu o país, mesmo porque além de alguns percalços na formação da equipe com vários nomes de possíveis clientes da Lava-Jato, as medidas adotadas visando recolocar o país nos rumos da normalidade ainda não produziram os resultados necessários e ansiosamente desejados pelo povo.
A verdade é que a votação foi sintomática da total desaprovação ao sistema político que dominava o país, corroído no cerne de sua estrutura ética e moral, o que se traduziu como um legítimo referendo popular ao impeachment votado pelo Congresso, e que jogou por terra a frágil e débil tese do “golpismo”. As evidências indicam que até hoje procuram uma nova palavra no vocabulário para substituí-la como mote dos discursos na fase pós-eleitoral!
O povo pode até errar por algum tempo, mas não irá errar o tempo todo. Esse é o grande valor do sistema democrático, que faculta ao povo promover as transições mais inesperadas no domínio político dos governos em todas as esferas institucionais, dos Municípios, Estados e Governo Federal. Quando mais convencidos estão da eternização no poder, o sentimento popular de respeito e dignidade expressa toda a sua força e vontade, surpreendendo as expectativas iludidas de muitos políticos.
Permita-me, caro leitor, que reedite trechos de duas crônicas minhas postadas neste Blog em 2013 e 2014, cujas abordagens tiveram o condão de antecipar possíveis tendências no perfil do eleitorado, bem como as possíveis cobranças em eleições futuras:
2013 - “Que se preparem e se reciclem os futuros pretendentes políticos na escola da moralidade, pois os fatores partidários terão pouco peso no confronto com os valores éticos que a sociedade vai cobrar nas próximas eleições”;
2014 - “Essa será a hora em que todas as suas decepções, frustrações e desencantos, estarão colocados diante de muitas análises e reflexões, pois em suas mãos estará o compromisso com a mudança de rumos do Município, do Estado ou da Nação, ou mesmo a manutenção do modelo político e de gestão ora vigente. Essa será a hora de dar um basta ao mercantilismo que se faz com o voto e ao populismo inconsequente que humilha a população mais carente”.
Os textos de alerta acima, em tom de quase presságio, mostraram-se uma realidade bem presente no resultado do último pleito, tanto no perfil imaginado para o comportamento do eleitor, como nas mudanças que ele cobrou no modelo político antes vigente, embora ainda não se possa afirmar que o perfil ético dos eleitos tenha mudado alguma coisa... Tomara até que tenha mudado mesmo, para que o Brasil passe a ser visto lá fora de uma forma menos desprezível, onde o quesito roubalheira seja substituído pelo da honestidade, e por resultados positivos em favor da população.
Alguns fatos novos introduzidos pela legislação e que vigoraram nas eleições de 2016, também foram determinantes para um redesenho da campanha eleitoral, como a não participação da contribuição financeira pelas empresas aos partidos e candidatos, uma nova disciplina de controle dos meios de propaganda através da proibição de outdoors, placas pelas vias públicas – que impactava negativamente o visual -, e ainda os tradicionais “santinhos” que espalhavam sujeira por toda a cidade. Um dado importante foi a queda das “famosas doações” em quase 50% num comparativo entre as eleições de 2012 e 2016. Mas, todos sabem o porquê de ter caído tanto!
Essas pequenas alterações na lei já agradaram a sociedade, uma vez que, legalmente, os Partidos não foram manipulados pela força do dinheiro, nem sempre de origem muito recomendável, cujo apoio se constituía no instrumento motivador de vínculos subservientes a acordos e barganhas suspeitas. O aperfeiçoamento do processo político-eleitoral demandará ainda muito tempo, mas já houve um relativo progresso. Não tenham dúvidas os senhores políticos, que o eleitorado estará, doravante, mais amadurecido e consciente da força que o seu voto representa.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
9 comentários
06 de Nov / 2016 às 23h08
Pois é Grande Cronista, aos poucos parece que a coisa vai se ajustando, principalmente porque a grana vai encurtando. Grana de quem por falar nisso? Precisa responder...? Não deixou de ser um grande passo o que vimos nessas eleições recentemente. Mas, ainda falta muito para chegarmos ao patamar ideal da transparência como deve ser em tudo aquilo que tenha o nosso dinheiro...!!! A esperança é de que um dia eles tomem jeito...!!!
06 de Nov / 2016 às 23h15
Bem fundamentada. Reforçando o desprestígio dos políticos, dois vitoriosos confirmam a tese: João Dória, não é político e elegeu-se no primeiro turno e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, que durante a campanha deixou bem claro que não era político e não buscava o apoio deles. No domicílio do Lula os tucanos elegeram o prefeito e o próprio enteado não conseguiu se eleger vereador. Michel Temer tem uma missão difícil, herdou um país em concordata (quase falência), e para colocá-lo novamente nos trilhos vai doer muito. (Manaus-AM).
07 de Nov / 2016 às 01h06
Nos pequenos municípios a compra de votos continuou por debaixo do pano, principalmente para a eleição de vereador. Pessoas que não dão uma bala-doce a uma criança, ou uma migalha a um mendigo, se elegeram a vereador com votação extraordinária. Milagre em eleição não existe, existe coisas misteriosas. Quem teve pouco dinheiro para gastar perdeu.
07 de Nov / 2016 às 02h19
O pior de uma sociedade manipulada pelos donos de TV eh ver pobre defendendo Ricos que sempre manteve esses pobres se lascando.
07 de Nov / 2016 às 02h26
A verdade ninguem fala, a maioria que ganhou sao Ricos e socios ou donos de TV, radios e Jornais. Milionarios nao precisa de doacoes e vao ficar mais rico e o pobre mais pobre. Salvador: ACMs. Petrolina: Coelhos. Sao Paulo: Doria. Rio de Janeiro: Crivela. Saia da Globosta e leia o blog do Nassif e o Conversa Afiada
07 de Nov / 2016 às 02h30
"O país está quebrado", mas tem a 6ª maior reserva cambial do planeta. "O país está quebrado", mas deu aumento de 41% para o judiciário, que vai onerar os cofres públicos em 55 bilhões em 3 anos. "O país está quebrado", mas injetou 20 BILHÕES na privatizada Oi, que está falindo e sonegou 65 bilhões. "O país está quebrado", mas as velhas raposas não cortam UM CENTAVO nos salários astronômicos, nos benefícios imorais e tantas outras regalias dos três poderes. Em vez disso, corta em cima dos DIREITOS do povo. O país gasta 45% do orçamento para pagar JUROS aos banqueiros. E os super-ricos, que
07 de Nov / 2016 às 02h35
Manipulaçao pura. O PMDB sempre teve o maior numero de prefeitura, mas nunca ganhou uma eleicao para presidente. Cunhas PMDB com milhoes na Suiça sabe dar golpe. Falta a mulher de Cunhas na cadeia de Xilindro
07 de Nov / 2016 às 07h20
Realmente, Agenor, você já estava prevendo esta situação quando editou suas crônicas em 2013 e 2014. E baseado nesta sua conclusão, que os partidos pouco interessam, e sim a honestidade, podemos entender por que o radicalismo político, que causam o embate entre "nós e eles", "pobres e elites", também está sendo substituído pela compreensão que não existe "esquerda" ou "direita", mas apenas a discussão sobre a maior ou menor participação do estado.Que apenas comprovou ser corrupto e incompetente. Por isto o impeachment foi a única alternativa. FOZ DO IGUAÇU-PR
07 de Nov / 2016 às 14h43
Parabéns Agenor. Desde Já, peço vênia ao nobre colega, para mencionar trechos das crônicas sobre eleições, em meu artigo na pós eleitoral. (Maracás-BA).