Não é só o Ministério Público Federal ou a Polícia Federal que estão focados em publicizar os gastos e desvios desenfreados de recursos públicos. Um grupo formado por programadores, hackers e comunicadores está empenhado em lançar a Operação Serenata de Amor. O batismo remete a um caso icônico na política e faz referência a um dos objetivos do projeto. “Existe um caso icônico chamado caso Toblerone, onde uma ministra sueca comprou uma unidade do chocolate com dinheiro público e sofreu as consequências disso. É o nível de combate à corrupção que vamos alcançar. Queremos saber se um simples bombom está sendo desviado”, diz a descrição da página de financiamento coletivo do projeto, no Catarse, ativo até novembro.
A Operação Serenata de Amor deve ser “deflagrada” em fevereiro. O grupo se refere, inicialmente, ao desvio de recursos da cota de atividade parlamentar, aquele benefício que deputados e senadores ganham para custear os gastos exclusivamente vinculados ao exercício da atividade no Congresso Nacional. O valor do benefício varia conforme o estado da federação representado, por causa do preço das passagens aéreas, e está relacionado ao valor do trecho entre Brasília e o estado que o parlamentar representa. O cientista de dados Irio Musskopf, idealizador do projeto, esbarrou nesse cálculo pouco acessível e decidiu criar um robô que pudesse identificar as irregularidades cometidas com o recurso da cota parlamentar, que chega a R$ 45 mil para alguns deputados. Eduardo Cuducos, sociólogo e designer, e Felipe Cabral, fundador do financiamento, dividem a autoria do projeto com Musskopf. Hoje, oito pessoas trabalham no núcleo da operação, o Core Team, mas o projeto também conta com voluntários. “Nosso objetivo é fazer um robô. No momento, a gente cruza os dados, analisa o sistema de modo manual, encontra a irregularidade de forma manual e investiga quais são os padrões para ensinar ao robô. O trabalho é manual de aprimoramento do sistema, identificação de irregularidades, limpeza do banco de dados, cruzamento de dados do próprio Google e da Receita Federal para conferir CNPJ”, adiantou Pedro Vilanova, um dos realizadores do projeto e supervisor de comunicação.
O robô fará o cruzamento dos dados constados nas notas fiscais apresentadas em bancos de dados diferentes, podendo assim encontrar desvios, anomalias e possíveis casos de corrupção. “A gente pretende gerar forma de visualização fácil disso, como se fosse um site, onde jornalista conseguisse investigar deputado ou alguém ali. Temos vontade de construir dossiê, fazer denúncia ao MP. A ideia é que a gente tome conta dessa conceituação política e que as pessoas consigam enxergar os gastos públicos de maneira mais simples. Esse é nosso primeiro passo. A ideia é que esse modelo seja replicado para qualquer lugar que exista mínimo de transparência”, explicou Vilanova, citando como exemplo o Senado Federal, secretarias de Estado e até mesmo empresas de capital privado. A operação aceita a contribuição de voluntários, seja no adestramento do robô, ou no desenvolvimento do sistema que fará a leitura dos dados.
No primeiro caso, o interessado entra em contato com o grupo, que enviará um formulário com casos suspeitos. A pessoa preenche como investigaria – onde foi a compra, se é ilegal realiza-la – e manda de volta o relatório. Neste momento, os responsáveis pela Serenata de Amor pegam os casos e repassam a referência para o robô. “Se as pessoas quiserem participar da construção do sistema, tem extensão que pode ser utilizada. Tem um UPI construído onde podem ser consultados dados. O trabalho é feito de forma transparente e qualquer pessoa pode entrar e participar, encontrar uma funcionalidade, uma ideia nova. Tem espaço para desenvolvedores, comunicadores e pessoas de outras áreas”, acrescentou Vilanova. De acordo com dados coletados pelos responsáveis, no ano passado os gastos totais com a cota de atividade parlamentar foram de R$ 213.668.049,56.
1 comentário
28 de Sep / 2016 às 17h09
Trapaça entre PMDB, PSDB e assemelhados é assunto de estrito interesse dos salteadores, que só discordam sobre qual o melhor caminho para espoliar economicamente os assalariados e manter os líderes populares indefinidamente afastados da competição pelo governo. Imaginar que os arrufos entre eles expressam pudores democráticos ou é autoengano ou tentativa de empulhar a boa fé dos democratas. Judas! Judas! Judas!