Eleições - Sabe o que é né...

Sabe o que é, trabalho de moto-táxi e minha habilitação vence o mês que vem, tu não tem como me ajeitar uma grana para eu poder renovar não? Lá em casa tem cerca de 20 votos, fora os dos parentes de minha mulher. Quebra esse galho aí que a gente caminha com o senhor. Tu tá doido, quer complicar minha vida? Não sabia que isso caracteriza compra de voto? Vamos deixar de proporcionar e criar condições de você e outros seus conterrâneos terem condições de pagar dezenas de habilitações, por conta de uma necessidade pontual e o pior, para praticar um crime?

E aí companheiro, como estão as coisas? A família vai bem, seu pai e sua mãe, como estão? Quero contar com o apoio de vocês este ano. Estarei disputando uma vaga da Câmara de Vereadores e você sabe como é né, precisamos do apoio dos amigos. Rapaz, que coincidência, estava procurando um candidato para votar mesmo. Mas, sabe o que é, é que tive que arrancar alguns dentes e precisava de alguém para me ajudar a pagar uma prótese dentária, uma chapa. Me ajuda aí que te garanto os votos tudo lá de casa e da casa de minha sogra também. Oxi homi, eu também tô cum dente faltando. Tu pensa que uma das coisas que eu quero se for eleito não é isso não? Vou botar os dente tudo também. Faz o seguinte, tu pede os voto do teu povo pra mim e se eu ganhar eu troco o dente de todo mundo na tua casa. Tá feito?

Carlão! Quanto tempo. Levou um pedaço sumido cara. O que tem feito? Olha, você, sua mulher e seus meninos já estão na minha lista como votos certos, viu? Este ano vou tentar mais uma vez entrar como vereador. Depois eu passo lá em tua casa para te dar uns santinhos pra tu pedir voto pra parentaiada toda. Passa mesmo, minha muié vai conversar com tu sobre nossa laje. Tu lembra daquela vez que tu me deu aqueles saco de cimento? Pois é, tu acredita que num deu nem pra começar. A muié lá em casa vai querer te ver mesmo. Que é isso Carlão, nós temos que nos preocupar é em construir uma cidade melhor e mais justa, onde todos tenham acesso aos serviços essenciais, inclusive trabalho para poder ganhar seu dinheirinho e comprar quantos sacos de cimentos quiser. Hoje não pode mais fazer aquilo que a gente fazia no passado não.

Alô, é Otoniel? Ô Otoniel meu brother, sabe o que é, é que vai ter uma parada lá na Fest Folia e eu queria descer com a galera, mas sabe o que tá pegando, é a zorra da falta dos trocados. Já apelei pra todo mundo, até pra mainha e não consegui a teteia ainda. Tem como tu quebra esse galho para o amigo. Tu sabe né, lá em casa todo vai contigo todo ano. Agiliza um abadá pra gente aí papa e lá na frente nós paga. Tu quer me botar no pau de fumo é foguinho. Tá doido bisonho, quer lascar com meu time seu Zé Mané. Além de eu não ter grana pra isso, vai que alguém descobre, daí quem se lenha sou eu não é tu não. A gente ganhando a vereança aí nós tamo por cima da carne seca. Vou patrocinar até show do Chiclete com Banana. Mas por debaixo do pano, claro.

Num vô vota em nenhum desses ladrão. Só quer o nosso voto. A gente pede um cimento, uma cesta básica, um abadá e os safados negam tudo. Só querem venha a nós, a vosso reino nada. Aqui pra eles, vou votar em branco se nenhum desses fdp quebrar a minha.

Todo ano de eleição é assim. Vai em nossa casa pedir voto mas só fica com conversa mole que vai construir isso, aquilo, consertar aqui e acolá e na hora do vamo vê cai fora. Sou besta mais não. Quero saber de obra nada, não sou pedreiro. Eu quero é que pague a minha luz e minha água.

Amigo. Amigo do cão, isso sim. Nunca pagou uma cachaça pra ninguém. Lá em casa já disse pra mulher, se esse ano a gente não ganhar ao menos um bujão, não vamo nem lá na urna no dia da eleição. Os políticos pensa que nós é besta.

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Por Gervásio Lima Jornalista e Historiador