ARTIGO – A SÍNDROME DOS APRESSADOS

Aprecio muito encontrar lições na sabedoria popular ou em algumas frases e ditados pitorescos da cultura portuguesa, pelo quanto de ensinamentos e reflexões nos oferecem. Por exemplo, gostaria de recomendar à análise do Vice-Presidente Michel Temer, e a quantos o acompanham vorazes por um naco de poder, a releitura do conhecido ditado português: “A CAUTELA É COMO CALDO DE GALINHA, NÃO FAZ MAL A NINGUÉM”. E ainda uma frase muito repetida pelo meu amigo Coronel Jerônimo Ribeiro, de Uauá (in memoriam): “O APRESSADO COME CRÚ”. Certamente que o leitor experiente e ponderado já entendeu o sentido das frases sugeridas e o objetivo que pretendo atingir.

Essa preliminar tem por finalidade chegar a uma reflexão sobre o momento nacional, que apenas acrescenta algo mais ao meu pensamento quanto ao desenrolar do processo político atual, já objeto de abordagem em crônicas anteriores, com foco específico no fato de que mudar o “status quo” atual do país não pode ser apenas uma pretensão que satisfaça aos interesses político-partidários, mas uma necessidade imperiosa de recomeçar o Brasil. Assim, entendo que mudar uma presidente que leiloa cargos na estrutura administrativa por outro que já começa fazendo o mesmo entre os partidos, não soluciona a gravíssima crise a que o país está submetido.

Além do mais, como se não bastasse o país estar com dois governos atuando em paralelo, um de direito e outro de fato – DILMA e LULA -, e a substituição só ocorrerá SE concretizado o impeachment, embora a terceira etapa do “golpe constitucional” já tenha sido cumprida pelo Congresso na última sexta-feira, o Vice Michel Temer já instalou o terceiro governo no Palácio Jaburu, de onde entram e saem os prováveis novos ministros, o que se constitui numa demonstração de precipitação e imprudência. Irão me contrapor argumentando que ele precisa montar previamente um governo – no que até poderia concordar -, mas por que não ocorrer de maneira mais discreta e menos acintosa? Esqueceram-se do episódio ocorrido com Fernando Henrique Cardoso (vide ilustração), que foi submetido pelos jornalistas à vergonha de sentar na cadeira de Prefeito de São Paulo um dia antes da eleição de 15/11/1985, fotografado com ar sorridente e vencedor, e foi derrotado no pleito pelo adversário Jânio Quadros? O prefeito eleito após tomar posse, declarou: “gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”. Pelo visto, a lição não foi suficiente...

Vale notar que na composição inicial do provável novo governo muitos são os nomes que transitaram pelos governos de DILMA/LULA/FHC, como ministros ou não: Geddel Vieira Lima, Henrique Alves, Romero Jucá, Gilberto Kassab, Henrique Meireles, Nelson Jobim, José Serra, Roberto Brant, Sérgio Amaral, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Ricardo Paes de Barros, e outros mais virão. Respeito a capacidade dos nomes pré-selecionados, mas será que este país não dispõe de notáveis em todas as áreas que possam, pelo menos por agora, dispensar esses penduricalhos de todos os governos e iniciar com independência um novo tempo? Pelo andar da carruagem nada vai mudar, uma vez que a maioria dos membros já anunciados para composição da nova equipe são ex-integrantes do governo que aí está conduzindo o país ao caos total, além do que a base partidária que dará sustentação política ao novo governo corresponde aos mesmos partidos que abandonaram o barco em pleno naufrágio.

Chegamos a um tão baixo nível de motivação e confiança, e mergulhamos tão profundamente no poço das incertezas, que nada que venha desse atual governo inspira a credibilidade de que algo vai dar certo. A única coisa que pode reativar o sorriso na face de milhões de desempregados, foi adotada esta semana pela Presidente Dilma ao dar um cala boca através do aumentozinho ao “Bolsa Família”, cujo excedente do custo financeiro não foi dito de onde vai tirar, se estamos com grande rombo nas contas públicas.

O desencanto conduz ao convencimento geral de que só um novo pleito poderá permitir um recomeço ao país, o que deveria encontrar abrigo na tese de “ELEIÇÕES GERAIS JÁ”, pois estão todos, e em todos os níveis, com o sangue corrompido, do Executivo ao Legislativo. A renovação somente seria concreta e exequível se a legislação impedisse, através de uma PEC-Projeto de Emenda Constitucional, qualquer político ou gestor sob investigação de se candidatar nessas eleições, ficando vetado ao Judiciário de conceder qualquer liminar procrastinadora. Só assim permitiria a moralização desse atual sistema político e evitaria o que se ouve nas esquinas: “estão saindo os sujos e entrando os mal lavados...”!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador - BA).