Tenho plena convicção de que ao povo brasileiro não interessa o momento que o país está vivenciando para atravessar essa tormenta política intolerável. Para uma nação jovem o que inspira cada cidadão é o desejo de vê-la dedicada ao crescimento, fortalecendo e consolidando as bases econômicas ativas, representadas pelos seus segmentos industriais, comerciais e agropecuários. Só que o povo não tem a capacidade e não dispõe dos fatores básicos para impulsionar sozinho todo esse processo e, por isso, é dependente da intervenção dos poderes institucionais legitimamente constituídos, para cuidar da parte gestora do manancial dos recursos produzidos e resolver os seus problemas. Assim, elege por determinado período os seus representantes através do voto, outorgando-lhes os poderes para cuidarem da criação das leis que regulamentam e disciplinam o conjunto da obra (Poder Legislativo) e outros para a importante missão de responsáveis pela gestão da estrutura administrativa no âmbito municipal, estadual e nacional (Poder Executivo).
Só que, lamentavelmente, o país está convivendo, nos últimos tempos, com um vergonhoso desvio dos valores morais esperados, em que as palavras não correspondem aos atos, o que era errado, repulsivo ou criminoso no passado, passou a ser visto como normalidade e inserido no contexto como comportamento natural. É perceptível que está em curso por parte de muitos um processo de banalização de algumas excrescências praticadas pelas pessoas no dia a dia, e os que se propõem a censurá-las se expõem à classificação de portadores de um impróprio “grau de pureza e pudor”... coisas do passado!
Se todas essas leves “impurezas” das pessoas ficassem restritas à própria individualidade de cada uma, naturalmente que não estaria a merecer qualquer atenção ou espaço para comentário. Mas, ocorre que quando certos desvios como o desrespeito, a imoralidade, a desonestidade, a falta de ética e a mentira estão impregnados no caráter daqueles que exercem funções públicas, os seus atos de gestão inevitavelmente passam a ser o reflexo de suas qualidades, e logo extrapolam os seus limites pessoais para afetar o direito dos demais, ficando sujeitos ao julgamento do povo prejudicado, sem choro nem vela. Podem espernear como desejarem, mas alguém tem de se indignar contra o fato de que este país se tornou o reduto da falta de respeito, da enganação, da ladroagem e da mentira!
Estive recentemente visitando Orlando, na Flórida-EUA, e dois episódios foram marcantes e causaram um impacto positivo no grupo. A nossa mala não foi embarcada no trecho Miami/Orlando. Feita a reclamação pertinente no Aeroporto, a companhia aérea prometeu que até as 16:00h daquele dia a mala estaria no endereço indicado. Retornamos do passeio pela cidade às 20:00h e ao chegar em casa a mala estava postada sozinha junto à porta...! Outro familiar fez uma compra pela internet com a indicação do mesmo endereço e os Correios deixaram a encomenda junto à porta, porque não havia ninguém em casa. Pelo que vivenciamos em nosso querido Brasil, hoje, estamos há anos-luz desse estágio de civilização.
Mas, se eles americanos chegaram a esse nível, nós, também, poderemos chegar, desde que se dê um basta a essa cultura de tolerância, impunidade e mania de justificar um crime com outro, principalmente, revogando a tal Lei do Gerson de “levar vantagem em tudo”. Chega da concepção vergonhosa de que se os “grandes” mentem e roubam, por que os “pequenos” também não podem mentir e roubar? É preciso dar um rumo diferente aos nossos conceitos de educação e cultura! É preciso que a vergonha seja o nosso maior troféu!
Voltando aos acontecimentos políticos da atualidade, houve um grampo telefônico judicial ao ex-Presidente da República, que responde a investigação por denúncias graves. Por ter sido captado diálogo deste com a atual Presidente da República, logo se consagrou a mentira através de discursos, comunicados a Embaixadas, e a jornais de todo o mundo, de que a Presidente teve o seu telefone grampeado ilegalmente... Uma inverdade explorada conscientemente e o mundo está acreditando que a Presidente foi a grampeada! Vivemos no império da mentira!
Já comentei aqui a minha discordância com o “impeachment” exclusivo da Presidente, uma vez que a chapa eleita foi única e a responsabilidade pela crise deve ser solidária. Significa dizer que a situação envolve, também, o Vice-Presidente Michel Temer, evitando-se trocar SEIS POR MEIA DÚZIA. Por “pedaladas”, entendo que também não ficariam no cargo Prefeitos, Governadores, e até os ex-Presidentes anteriores, em cujas bicicletas todos pedalam. É prática consagrada.
Melhor seria a aprovação de uma PEC-Projeto de Emenda Constitucional, que criasse o REFERENDO REVOGATÓRIO ou o “Recall”, prática adotada em outros países como Venezuela, Alemanha e Suíça, em que o povo insatisfeito com os desvios, as mentiras e as ineficiências do governo - índice atual de desaprovação de 82%! –, determina o afastamento do cargo por consulta popular e realização de nova eleição. Conclui-se, de tudo isso, que o Brasil precisa reencontrar, urgentemente, a sua verdade!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador - BA).
5 comentários
03 de Apr / 2016 às 23h05
Confesso Grande Agenor, que esse exemplo da bagagem e da encomenda, me deixou sem palavras... Não sei se sinto admiração ou vergonha, em comparação a esse mundinho que vivemos, onde uma turista que acaba de descer do navio num Porto de uma capital do Nordeste é recebida com facada no pescoço... É melhor eu ficar por aqui para não ter que discorrer sobre as vergonhas de quem recebe um mandato para cuidar do Povo e termina metendo a mão em nosso bolso de forma explicita, ilícita, e ainda diz que não sabe de nada...
03 de Apr / 2016 às 23h17
Lindo texto! A verdade a ser encontrada transformará, não só o país, mas trará à luz da consciência o poder pessoal que cada indivíduo tem de mudar a si e consequentemente tudo que está à sua volta. Uma grande transformação para melhor está acontecendo no cenário político do nosso país. Acredito!
04 de Apr / 2016 às 05h03
- Você matou a pau essa turma de políticos e politiqueiros de plantão. Concordo em gênero, número e grau. Pena que falte óleo de peroba para lustrar a cara de pau de tantos colegas (e outros) que tanto defendem essa turma do pt. - O inferno esta cheio de gente de boa intenção. Essas desculpas... Itapema (SC).
04 de Apr / 2016 às 08h25
Este texto produz em nós a sensação de impotência, pois analisa de uma forma prática e pontual as mazelas do povo brasileiro. E revela as nossas fraquezas como sociedade que ainda não conseguiu obter o status de desenvolvimento que outras nações obtiveram. E lembro de um dado que a história nos revela: no início do século 20 o Brasil encontrava-se em condições semelhantes a dos Estados Unidos, no tocante ao desenvolvimento. De lá para cá, sabemos o que aconteceu. Mas muitos acham que fomos vítimas de exploração. Uma tentativa de esconder nossa incapacidade política que buscou soluções empíricas e questionáveis, como o socialismo irresponsável e até mesmo o comunismo derrocado. Que acabou nos levando ao regime militar.Tudo que obtivemos foi o patrimonialismo inconsequente e oportunista. Na verdade, somos o produto da nossa própria incompetência. E sua análise perfeita demonstra isto, Agenor. Perdemos o bonde do desenvolvimento mais uma vez no início do século 21. Para repetir o século passado. Mas o que nos salva são brasileiros que atuam na indústria e agricultura, chamados de "elites", que ainda rebocam este barco Brasil. A revelia dos políticos. Que como voce disse, " é trocar 6 por meia dúzia". FOZ DO IGUAÇU-PR
04 de Apr / 2016 às 16h17
Concordo plenamente com as suas palavras prof. Agenor Santos. O instituto do RECALL seria neste momento de crise política que o nosso País está atravessando a melhor saída. O Vice Presidente da República não deveria assumir o cargo de Presidente, pois ele e os seus companheiros estão envolvido nessa situação investigatória, não vejo credibilidade nele, penso dessa forma, uma nova eleição seria a melhor saída para a crise, desde que seja uma eleição ouvindo a Nação, e não uma eleição dentro do Congresso Nacional, pois, a meu ver, o Congresso Nacional Brasileiro está contaminado, existe mais joio do que trigo, não merece confiança da Nação.