ARTIGO – PROCURA-SE UM MÁRTIR...!

A intrigante situação política em que o Brasil se envolveu nos últimos tempos, motivada, principalmente, pela derrocada do projeto político de um partido que não soube administrar de forma competente as suas conquistas e abandonou as principais e inspiradoras lideranças numa troca inconsequente pelo culto ao personalismo de um líder que não foi fiel ao seu discurso e se deixou levar pelo fascínio que o poder oferece, terminou por implantar no seio da sociedade brasileira um crescente sentimento de desprezo pela classe política. Esta tendência foi se consolidando, progressivamente, influenciada pelo despertar de uma triste vocação voltada para tirar vantagens dos cargos públicos através do enriquecimento ilícito por parte de políticos, servidores e empresários inescrupulosos, comportamento que rouba a credibilidade e que sepulta as esperanças do cidadão por um Brasil de trabalho e crescimento honrado perante o mundo.

É difícil para qualquer analista emitir avaliações sobre uma liderança que surgiu das praças e dos movimentos reivindicatórios sindicais, fato bastante relevante, para galgar gradualmente as diversas etapas do crescimento político, ao ponto de ser consagrado pelo voto popular para o maior cargo executivo nacional, que foi a Presidência da República! Os simpatizantes mais radicais do atual sistema político dominante, optam por dirigir a pecha de direitistas, “coxinhas” ou outras coisas mais, a quantos se oponham a tudo isso que se pretende apelidar de esquerda brasileira, num flagrante desrespeito ao livre exercício do direito democrático de manifestação de cada um. Pode surpreender ao leitor, mas num instante de débil encantamento me juntei aos que cantavam o hino “Lulalá”, durante a sua campanha em 1989, época em que fui simpatizante do seu “discurso” e até votei nele...! Pode parecer incrível, mas é a pura verdade.

O seu discurso de operário idealista que chegou ao poder e que iria promover as reformas políticas, tributárias e sociais, não passou de uma grande farsa e ilusão para milhões de brasileiros que nele acreditaram! Durante muito tempo do seu primeiro mandato, o que se viu foi a manutenção do estilo do governo anterior, passando uma sensação óbvia de que “em time que está ganhando, não se mexe”! De imediato, trocou o avião presidencial por um Boeing novo; o Real, como moeda, continuou na sua caminhada vitoriosa; o “Bolsa Escola” apenas mudou de nome para “Bolsa Família”; adversários políticos como Sarney e Fernando Collor foram promovidos a correligionários; as antigas e reacionárias práticas políticas antes condenadas, foram encampadas e, o que é pior, corrompidas a um extremo insuportável!

Apesar de todas as evidências que o condenam, não poderia, jamais, assumir a postura de acusador, quanto ao enriquecimento pessoal e de familiares, porque essa missão está circunscrita às obrigações inerentes à Polícia Federal, ao Ministério Público e aos juízes competentes, e a verdade um dia se revelará ao conhecimento público. Mas, é impossível ficar alheio ao desastre de uma gestão marcada pela inexistência de qualquer parcimônia no trato com o dinheiro público, cujas ações criminosas foram desenvolvidas pelos mais próximos e íntimos assessores diretos e Ministros, que não só se locupletaram de milhões e milhões de reais, como se associaram em quadrilha para destruir a maior e única empresa nacional de prospecção de petróleo do país, a PETROBRÁS, jogando por terra um orgulho nacional! Como consagrou as frases “nada vi” e de “nada me lembro”, no mínimo caberia uma condenação pelo PECADO DE OMISSÃO ou IRRESPONSABILIDADE FISCAL, como Presidente da República.

De repente, não mais se fala dos 39 presos em Curitiba, nem são lembrados nomes como José Dirceu, Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Renato Duque, João Vaccari Neto (Tesoureiro do partido), Luiz Argôlo, Pedro Corrêa, etc., num contundente reconhecimento, pelos demais “companheiros”, de que são mesmo culpados.

A única prioridade atual é livrar a cabeça do líder de tudo isso, que não está preocupado em provar que não tem culpa e nada deve, mas voltado a exibir, publicamente, qual a melhor estratégia que lhe interessa para que toda a sujeira seja esquecida ou jogada debaixo do tapete da história, e ressurgir para o poder: "A partir de agora, se me prenderem, eu VIRO HERÓI. Se me matarem, VIRO MÁRTIR. E, se me deixarem solto, VIRO PRESIDENTE de novo", declarou.

É preciso ter um cuidado todo especial por parte das autoridades para que aconteça o julgamento final de todo o lamaçal que aí está, assegurando ao principal mentor o incontestável direito à defesa, mas evitando o seu endeusamento, pois o Brasil não merece que uma parte tão negativa e vergonhosa da sua história seja reeditada por alguém que, a todo custo, quer virar HERÓI, MÁRTIR, MINISTRO e PRESIDENTE, novamente.

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Da Flórida - EUA).