¨Como a força dos padrinhos criou desigualdades entre Juazeiro e Petrolina¨.
Com esse título, uma reportagem da colunista do UOL, a jornalista Natália Portinari, que visitou a região a convite da CODEVASF, fez um diagnóstico que pode ser considerado raso e pobre de bons indicadores e evidências que podem realmente retratar a paridade na pujança econômica das duas cidades, independente da disparidade gritante no desenvolvimento urbano de ambas, que mostra uma Petrolina com feições de metrópole e uma Juazeiro com aspectos de província.
A reportagem buscou dar destaque ao poderio da oligarquia dos Coelho, o clã familiar que domina a política da vizinha cidade desde meados da segunda metade do século passado e que, com muita competência, ocupa espaços importantes nas esferas estadual e federal. O poder deles de articulação e de reivindicação com grandes projetos são preponderantes na captação de verbas públicas que transformam o município num interminável canteiro de obras.
A discrepância nos investimentos do governo federal em Juazeiro e em Petrolina, conforme divulgada na reportagem próxima de oitenta por cento em desfavor do município baiano, mostra o preço que se tem pagado pela sua desorganização política e social ao longo de décadas. Se a cada processo eleitoral revelamos maus gestores e numa demonstração de indiferença, conivência, fisiologismo e outras práticas descabidas, a sociedade civil chancela a continuidade desse modelo falido. Este continuará sendo o calcanhar de Aquiles para se buscar junto aos poderes constituídos um tratamento - diríamos - proporcionalmente isonômico. É importante afirmar que Juazeiro precisa voltar a ser cidadã.
Se o PIB da cidade pernambucana representa uma vez e meia o de Juazeiro, a renda per capita na cidade baiana é maior. As matrizes econômicas de ambos os municípios estão consolidadas pela irrigação e pela fruticultura e em condições de paridade tanto nos perímetros público e privados já implantados como nas condições para ampliação em novas áreas de produção. O dipolo Juazeiro/Petrolina lidera a região que contribui com o abastecimento do mercado nacional e com metade das exportações brasileiras de frutas frescas.
É também da irrigação e da atividade agrícola que saem os insumos para o desenvolvimento do setor secundário. São empresas como a AGROVELE e a ICOFORTE que dão a Juazeiro a liderança industrial e as condições de ampliar essa vocação com a consolidação do sonhado Núcleo Oeste do Distrito Industrial do São Francisco (DISF).
Foi no crescimento urbano planejado e estruturado que Petrolina assumiu a liderança no setor terciário, principalmente no comércio varejista, na hotelaria, na gastronomia e nos serviços em geral. Essas condições também lhe asseguram a liderança no turismo de negócios e de entretenimento com o seu centro de convenções, aeroporto internacional e um terminal rodoviário com operação interestadual.
Entretanto, o comércio de atacados tem se consolidado com mais força em Juazeiro, e não só pelas grandes marcas atacadistas, pois o melhor exemplo é o MERCADO DO PRODUTOR, um equipamento público que se consolidou como o terceiro entreposto mais importante do país na comercialização de hortifrutis, apesar da sua estrutura física superada e de gestões às vezes não profissionalizadas.
Por conta da nossa localização geográfica, estamos inseridos no semiárido brasileiro, compondo o polígono da seca, porém com privilégio de estarmos às margens do Rio São Francisco, com água abundante, boa insolação e terras de excelente qualidade. É importante dizer que, além das riquezas naturais, possuímos um conjunto de insumos que servem de atrativos ao desenvolvimento econômico em qualquer lugar do planeta.
Com a construção da Hidrelétrica de Sobradinho, entramos no seleto mapa dos municípios distribuidores de energia elétrica. Com o desenvolvimento das novas tecnologias para a geração de energia limpa, Juazeiro assumiu no Nordeste uma posição de liderança com a implantação de mais de duas dezenas de usinas solares, com investimentos até aqui de R$ 2,2 bilhões, e que possuem uma capacidade instalada para a produção de 2GW/ano.
Outro vetor de desenvolvimento que precisa ser enxergado e trabalhado é o privilégio da equidistância aos grandes centros consumidores da região Nordeste. Já que a Hidrovia do São Francisco assim como a ferrovia tornaram-se inoperantes, a malha rodoviária existente assegura condições excepcionais para operar como um grande HUB em diversos segmentos.
Ao se debruçar sobre esse cenário macroeconômico regional e as potencialidades conquistadas pela própria vocação natural de Juazeiro, é fácil enxergar que o crescimento econômico e social do município depende exclusivamente da inteligência e da maturidade do seu povo e dos seus governantes.
Precisamos superar décadas de atraso provocado pelas sucessivas gestões municipais que se revelaram descasadas da necessidade de planejar e executar projetos importantes que assegurassem o desenvolvimento do quinto maior município em população da Bahia, uma das vintes maiores economias do estado, e com um crescimento socioeconômico exponencial e acima da média nacional.
A última eleição municipal revelou um gestor novo ao eleitorado e que, talvez, por estar descontaminado dos velhos vícios da política, possa já nesse momento fazer a diferença. A sua gestão está ainda começando e mesmo por parte da oposição merece receber a confiança ou a cautela, pois irá governar para todos nos próximos quatro anos.
Os serviços públicos essenciais, carentes em muitos setores, precisam e devem ser melhorados, porém já são obrigações naturais de qualquer governo. O mais importante é o desafio de chegar a 2028 com resultados concretos que espelhem grandes e reais mudanças no dia a dia de todo o município e de seus habitantes.
Mais uma vez a cidade é provocada e exposta nacionalmente de forma negativa e pejorativa. Rever o passado, lamber as feridas, refletir, mudar atitudes, decidir e cobrar responsabilidades dos nossos governantes é mais uma alternativa para devolver Juazeiro à posição de importância e de respeito aos corações de seus filhos e aos olhos de quem nos visita.
O amor a Juazeiro não é impeditivo para admirar, reconhecer e exaltar Petrolina como um exemplo a ser seguido. Muito pelo contrário, são irmãs e se completam. Não é mais possível perder tempo e fazer da escolha dos legítimos representantes verdadeiros laboratórios para a geração e multiplicação de governantes desconectados com os anseios da população. Caso contrário, o futuro está traçado para ser uma extensão daquela que outrora foi humildemente chamada de sua “passagem”.
Por Herbet de Moraes Café um juazeirense raiz
4 comentários
04 de Apr / 2025 às 18h58
Juazeirinho cachorro
04 de Apr / 2025 às 20h52
Aproveitando Herbet, por que aquele seu empreendimento foi fechado? Não deixo de falar, sempre quando tenho oportunidade que nas duas cidades não tinha um local igual...para todos os gostos, todas as idades e de muita beleza e leveza. Mesmo em Petrolina Não tinha, Nem tem...
05 de Apr / 2025 às 07h58
Parabéns, Herbert, pelo excelente texto! Não há como negar a ascenção populacional, econômica e estética da cidade de Petrolina nas últimas décadas. Contudo, devemos deixar de lado o "complexo de vira-latas" e não crer que somente lá as coisas dão certo. Basta ver o rol de exemplos exitosos que você elencou. O desenvolvimento de uma cidade depende muito mais da capacidade criativa de seu povo, que acredita e investe na sua cidade - há muitos empresários que "ganham dinheiro aqui" e "gastam do outro lado rio", inclusive com domicílio residencial lá - do que de políticos oportunistas.
05 de Apr / 2025 às 17h41
O maior problema de Juazeiro é político que ao invés de governar para o povo e o desenvolvimento da cidade trabalho para melhorar o bolso deles. Tenho muita fé que agora com o governo do prefeito Andrei, Juazeiro possa mudar essa realidade. Outro fator que é alguns Juazeirenses que não ajudam e ainda e tem a síndrome do viralatissmo. Eu nasci em petrolina, mas não troco meu Juazeiro por outro lugar.