Com a chegada do fim do ano, é a hora de relembrar todos os momentos difíceis que ocorreram ao longo de 2024. É nessa época que diversos brasileiros fazem promessas, seja a de se tornar uma pessoa melhor, arranjar um novo amor, mudar de profissão e entre outros. Mas talvez o maior desejo ou esperança que as pessoas têm para 2025 é que seja um ano mais leve ou que a ansiedade esteja menos presente seja no trabalho ou nos ambientes sociais.
O Brasil ocupa uma posição alarmante no cenário mundial: é o país com mais casos de ansiedade no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade, representando cerca de 9,3% da população
De acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia, a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58% entre os anos de 2017 e 2021 e a demanda por atendimento psiquiátrico na OMS aumentou exponencialmente. O atendimento médico é o melhor auxílio para o tratamento dessas doenças, entretanto talvez a melhor forma que os brasileiros estão enfrentando essas doenças não seja a partir de um atendimento médico ou de um remédio e sim através da fé.
A religião pode ajudar na melhoria da saúde mental?
Não existe comprovação científica de que, isoladamente, a crença é eficaz, entretanto especialistas em saúde mental concordam que a fé e práticas espirituais possuem seu papel em um tratamento psíquico. Todavia, diversos profissionais ressaltam que é preciso haver um limite, uma vez que os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, observações de cuidado especializado, acompanhamento em longo prazo e, em alguns casos, uso de medicamentos.
Para diversos psicólogos e pesquisadores do campo da sociologia, a prática da fé poderia ser uma forma de assistência para o tratamento da ansiedade. Segundo Mateus Simon, estudioso de psicologia católica na Catholic Psych Institute, a religião e por consequência a fé colabora para dedicarmos nossos pensamentos ao momento presente. “Quando nos dedicamos ao autodomínio e a prática da Presença de Deus, o Espírito Santo nos transforma, pois quando você aprende a fazer silêncio interior e dominar sua atenção, dominar sua imaginação”, diz ele.
De acordo com Edson Rocha, o candomblé auxilia na inclusão da juventude negra e no auxílio do tratamento da depressão. Edson, também conhecido como Pai Ezinho, é babalorixá do terreiro Ilê Axé Ayrá Onydancor em Juazeiro, Bahia.
“A mãe matriz não olha para você por qualidade de cor ou de cabelo mas sim se sua pessoa humana tem que ser resgatada”, diz Pai Ezinho
No terreiro não vemos essas pessoas como drogados,bandidos ou depressivos , e sim como mal auxiliadas, que muitas vezes são pessoas inteligentes que por falta de suporte foram levadas a um mau caminho", complementa ele.
Como a medicina explica o efeito da religião?
A fim de estudar a estudar os efeitos da oração e de outras práticas religiosas no bem-estar mental de seus pacientes, A equipe do neurocientista Andrew Newberg, diretor de pesquisa do Instituto Marcus de Medicina Integrativa da Universidade Thomas Jefferson, nos Estados Unidos, conseguiu identificar ,através de de ressonâncias magnéticas, as áreas do cérebro que são ativadas no momento em que uma pessoa está rezando.
“Quando a pessoa sente que a oração está quase tomando conta dela, por assim dizer, a atividade do lobo frontal realmente diminui. Isso ocorre quando o indivíduo relata sentir que não são eles que estão gerando a experiência, mas que é uma experiência externa que está se passando com ele", disse o pesquisador.
Em depoimento ao UOL, o pesquisador, psiquiatra e autor principal da pesquisa, Bruno Paz Mosqueiro contou que sua equipe descobriu que as pessoas que tinham uma maior religiosidade intrínseca,, possuíam também maior nível de um marcador neurobiológico entendido como um possível indicador de maior neuroplasticidade cerebral. Para ele, o aumento da neuroplasticidade em pessoas com maior religiosidade talvez explique o benefício da crença para a saúde mental, especialmente na depressão.
Porque o aumento nos casos de ansiedade ?
A Organização Mundial da Saúde(OMS) divulgou que no primeiro ano da pandemia do vírus Covid-19 a prevalência da ansiedade no mundo cresceu em 25%. O estresse causado pelo isolamento, por ter que ficar longe de entes queridos, de não estar envolvido com suas comunidades, tudo isso afetou a saúde mental de milhares de pessoas no mundo inteiro. No Brasil o cenário não poderia ser diferente.
Dados do ministério da saúde mostram que 71.293 pessoas procuraram atendimento médico devido a ansiedade em 2019, em 2023 esse número aumentou para 274.682. Segundo o ministério da saúde os transtornos de ansiedade partem de fatores genéticos e também do ambiente. No Brasil, muitas pessoas vivem rotinas caóticas, problemas no trabalho, falta de emprego, problemas familiares, abuso de álcool, diversos tipos de preconceitos, são fatores que dificultam a estabilidade mental dos brasileiros.
Nas entrevistas realizadas para a produção da reportagem, diversos profissionais contaram como a religião os ajudou a passar por momentos difíceis. “Depois que minha mãe morreu durante uma pandemia, eu passei por momentos muito difíceis, mas foi através da fé que eu me senti reconectar com ela, é como se o catolicismo fosse parte da minha família”, diz a agrônoma e professora da Uneb Anna Cristina Passos.
“Eu nunca fui muito ligado à religião, mas eu gosto de ir à Igreja com a família da minha esposa, não porque eu acredito mas porque sinto que lá pelo menos uma vez na semana as pessoas possuem um momento para dar amor ao próximo que elas desconhecem”, diz o designer João Lucas Rios.
Se acreditam ou não, diversos brasileiros encontraram na fé um auxílio para passar os momentos de dificuldades que estão passando.
E em um mundo afetado por mudanças climáticas, governos autoritários e um imediatismo midiático, um simples momento de amor ou de avaliação da natureza e do mundo é o suficiente para enfrentarmos as diversidades do próximo ano. Que venha 2025!
Guilherme Passos, João Paulo Coelho e Jediael dos Santos
Guilherme Passos, João Paulo Coelho e Jediael dos Santos
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