"E nem chove, heim, Mãe Nácia? Já chegou o fim do mês... Nem por você fazer tanta novena..."
Foi assim, com a personagem Conceição queixando-se da seca, que Rachel de Queiroz iniciou o romance "O Quinze", há 95 anos. É difícil não lembrar da frase quando se chega ao município de Quixadá, Ceará.
A REDEGN visitou Quixadá. Este ano, 95 anos depois, ainda vem das páginas de "O Quinze" a melhor descrição que se pode fazer do sertão para o visitante que pisa ali pela primeira vez: "Verde, na monotonia cinzenta da paisagem, só algum juazeiro ainda escapo à devastação da rama; mas em geral as pobres árvores apareciam lamentáveis, mostrando os cotos dos galhos como membros amputados e a casca toda raspada em grandes zonas brancas."
Na década de 1930, diversos livros são lançados trazendo a seca no Nordeste brasileiro como tema. Dentre eles, destacam-se “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, “Menino do Engenho”, de José Lins do Rêgo, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos e “O Quinze”, de Rachel de Queiroz.
Mirhiane Mendes de Abreu, doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e professora de Literatura Brasileira da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), analisa que “O Quinze”, Rachel de Queiroz aborda os horrores da terrível seca de 1915, que viu com seus olhos de menina, quando ainda morava em Fortaleza (CE).
O romance foi publicado em fins dos anos 1930 e alcançou uma inesperada repercussão no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP). De cunho social, o livro traz uma visão profundamente realista na sua dramática descrição da luta contra a miséria e a seca.
Simpatizante do Partido Comunista, Raquel de Queiroz foi presa em 1930, em sua cidade natal, Fortaleza. Na esteira do regionalismo, lançou também João Miguel (1932). Caminho de Pedras (1937) é obra politicamente engajada enquanto As Três Marias (1939) trafega na via do romance psicológico. Para o teatro, escreveu Lampião (1953) e A Beata Maria no Egito (1958).
Tornou-se a primeira mulher a ser eleita para a Academia em 1977. Em 1992, lançou Memorial de Maria Moura, que obteve grande sucesso e foi adaptado para a televisão. Rachel de Queiroz recebeu três grandes prêmios pelo conjunto de obra. Em 2003, morreu.
redegn Foto Ney Vital arquivo redegn
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