A importância dos leitores para o desenvolvimento cognitivo e educacional no Brasil

“A leitura é uma viagem sem limites, a chave para um mundo melhor e a fonte da sabedoria e do conhecimento.” A frase dita pelo escritor norte-americano Louis L’Amour, é uma demonstração de como os aspectos literários moldam a forma em que as pessoas enxergam o mundo. A importância do ato de ler, estimula muitos parâmetros positivos, ampliando os conhecimentos e a capacidade de reflexão das ideias, melhorando a saúde mental e trabalhando as diversas formas de imaginação. No Brasil, no dia 12 de outubro, desde 2009, é celebrado o Dia Nacional da Leitura, instituído pela Lei nº 11.899. A partir da mesma lei, é comemorada na mesma semana do dia 12, a Semana Nacional da Leitura e da Literatura no Brasil. 

Porém, apesar da leitura ser uma importante fonte de informações e de conhecimento, e também por colaborar para o desenvolvimento crítico e escolar daqueles que possuem esse hábito, tal exercício é ignorado por mais da metade da população brasileira: de acordo com a Pesquisa Retratos da Leitura, realizada no ano de 2024 e de abrangência nacional, cerca de 53% dos brasileiros não leem livros. O trabalho realizado a cada quatro anos teve início em 2007, e pela primeira vez, aponta o dado alarmante de que mais da metade do Brasil não lê, sendo a proporção de não-leitores, maior do que a proporção de leitores.

Nessa reportagem, acompanhe como de fato o exercício de ler pode auxiliar no desenvolvimento crítico e educacional dos eleitores, além de questionar o que levou 53% da população brasileira a não realizar o hábito da leitura.

Importância da leitura: Quem nunca fez uma lista de livros ou uma meta de leitura por ano? As diferentes formas de como a leitura pode ser utilizada são bastante amplas, sendo utilizadas para informar, distrair e entreter. O ato de ler livros pode alcançar pessoas de todas as idades, levando sempre em conta os seus gostos e saberes, aprimorando as várias formas de interpretação que estimulam o cérebro. 

Sueli Soares, formada em Biblioteconomia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI), desempenha há 15 anos, o papel de bibliotecária em uma instituição  educacional privada do Vale do São Francisco. Em entrevista a esta reportagem, questionada sobre a valorização do hábito de ler, a profissional comentou:

“[...] Com a leitura se tornando prazerosa, ajudando muitas vezes na vida cotidiana, é muito importante quando a iniciamos na infância”, disse. De acordo com Sueli, a ação de ler, como um hábito, se torna uma importante ferramenta para o desenvolvimento de atividades realizadas no dia a dia.

Segundo um estudo levantado pela Universidade Sussex localizada no Reino Unido, 68% das pessoas que leem frequentemente, possuem um nível de estresse reduzido. Com o hábito diário da leitura, alguns fatores como a redução da frequência cardíaca, e a tensão dos músculos, podem ser diminuídos, o que melhora a saúde corporal e mental entre os leitores, que foram apresentados a essa prática desde cedo pelos pais. 

O trabalho informa como a leitura é um estímulo ao cérebro humano, capaz de exercitar a mente e auxiliar no processo de aprendizagem, imaginação e de mentalização. A ação de ler, dessa maneira, manifesta uma melhor qualidade da saúde mental. 

Leitura como um estímulo ao pensamento crítico: A leitura é um instrumento de grande importância que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do pensamento crítico, e ao criar o hábito de ler, os leitores são expostos a novas ideias e perspectivas diferentes, além de identificar argumentos e investigar a variedade de informações. Segundo o artigo “Os Impactos da Leitura na Cognição e no Desenvolvimento do Pensamento Crítico”, publicado na Revista Educação e Ciências Sociais, quando o leitor digere o conteúdo consumido, ele usa algumas habilidades como imaginação e até mesmo, empatia. 

Tais atividades cognitivas permitem que os leitores analisem e investiguem diversas perspectivas de uma mesma narrativa, fortalecendo assim, o pensamento crítico. Dessa maneira, a leitura colabora também, para a melhoria de outras habilidades, como a escrita, e age na forma em que o indivíduo se expressa.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2019, através do Instituto Pró-Livro, junto ao Ibope,na Bahia somente 2,45% das pessoas já leram um livro por completo ou possuem o hábito de ler todos os dias. O curioso é que apesar de representar uma porcentagem baixa, a cidade de Salvador, conquistou o 9º lugar entre as dez capitais que mais leem no Brasil. O dado reflete, de certa forma, a falta de incentivo ao hábito de ler para a população soteropolitana, e sinaliza a preocupação de que, com pouca ou nenhuma leitura, ações simples como interpretar e criticar acabam sendo deixadas de lado.

A leitura crítica envolve analisar e avaliar argumentos apresentados em textos, e isso ensina aos leitores a distinguir entre evidências sólidas e falácias, desenvolvendo habilidades essenciais para o pensamento crítico. Além de provocar reflexões sobre valores, crenças e decisões pessoais.  Este processo ajuda a fortalecer a habilidade de formar opiniões bem fundamentadas e argumentos coerentes.

Leitura e desenvolvimento cognitivo:
O hábito da leitura como uma compactuação do desenvolvimento cognitivo, já foi pauta de diversos estudos. Dentre elas, destaca-se uma pesquisa realizada pela Unidade de Neuroimagiologia Cognitiva do Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm/Comissão de Energia Atômica e de Energias). Segundo o estudo, o ato de ler de fato serve como um estímulo ao cérebro humano, e tem como resultado, uma maior compreensão de conteúdos, além de uma melhora nas habilidades de concentração e foco.

A leitura age como uma ferramenta capaz de ajudar em vários aspectos, sendo eles: aumento de palavras no vocabulário do leitor, melhora significativa na escrita e o desenvolvimento da criatividade. Esse auxílio surge porque, durante a leitura de um livro, gibi, jornal ou outro, é necessário uma série de estímulos, como compreender o contexto do assunto lido, decifrar e sintetizar palavras e frases. Tais atividades, de acordo com o Ministério da Educação (MEC), são capazes de colaborar para uma melhora no desenvolvimento do ser humano, especificamente o cérebro. 

Leitura no âmbito escolar:
Através da melhora cognitiva do ser humano por meio do exercício da leitura, citada anteriormente, a compreensão dos conteúdos de forma mais proveitosa, atinge também, os leitores em idade estudantil. A leitura influencia o processo de ensino-aprendizagem, a partir do momento em que ler colabora para a sintetização de conteúdos. Assim, o estudante pode entender melhor assuntos abordados em sala de aula. 

De acordo com uma pesquisa realizada no ano de 2023, pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (IEDE), em parceria com a plataforma de leitura Árvore, estudantes com melhores níveis de aprendizagem de conteúdos escolares, possuem o hábito de ler. 

No entanto, a mesma pesquisa aponta o alarmante dado de que cerca de 66,3% dos estudantes brasileiros com idade entre 15 e 16 anos, não leem textos com mais de dez páginas. Revela também, de forma específica, que alunos com baixos índices de leitura, possuíram uma queda no desempenho de algumas disciplinas, como matemática e ciências. O estudo indica a necessidade da leitura para a evolução de bons resultados educacionais. 

Em paralelo ao trabalho realizado pelo IEDE ainda em entrevista, a profissional da educação Sueli, quando questionada sobre as diferenças no ritmo de leitura entre crianças e adolescentes na instituição em que atua, comentou que os mais jovens leem mais: “As leituras são diferentes e o ritmo também. Como as leituras são diferentes, posso dizer que o maior número de alunos leem no fundamental 1 até o quinto ano”, afirmou ela. “Eles leem em média um livro por semana - tivemos muitos alunos que leram mais de 50 livros esse ano”, concluiu Sueli. 

Quais são os meios que podem estimular a leitura?
Segundo a pesquisa feita pela Associação Internacional para a Avaliação de Conquistas Educacionais, o Brasil é o 6° pior país no ranking de habilidade de leitura, onde se encontra na 52° posição, ficando abaixo da média estipulada de 500 pontos e alcançando somente 419. Como pode ser visto, poucos brasileiros leem, e o principal responsável são os avanços tecnológicos e o acesso à internet, usado nas plataformas digitais, como facebook, instagram e o tiktok. A cada dia que passa jovens e crianças acabam deixando o hábito da leitura de lado. 

Porém, existem algumas estratégias para que esses não leitores, passem a ler e venham desenvolver o pensamento crítico. Participar de clubes de leitura pode ser uma ótima maneira de motivar e discutir livros com outros. Ouvir audiolivros pode ajudar especialmente para quem tem dificuldade em encontrar tempo para ler. Outras recomendações são incluem: acompanhar blogs, podcasts ou canais de YouTube com resenhas ou críticas literárias para descobrir novos títulos. Ler livros de gêneros que interessam, como romance, ficção científica ou mistério. 

Questionada sobre como criar o hábito da leitura, a bibliotecária Sueli Soares responde que é necessária uma rotina consistente e diária, com o texto adequado à habilidade psíquica de cada um, e com a motivação de buscar o encantamento pela leitura. “Pois, dessa forma, cria-se um porto seguro para o crescimento do leitor”, afirmou a profissional.

De modo prático, para desenvolver o hábito da leitura, os indivíduos podem reservar um momento do dia para ler o que desejam. É recomendável iniciar com textos ou livros pequenos e de poucas páginas, como poemas ou contos, e aumentar aos poucos o consumo de livros mais longos. É importante escolher obras com temáticas que sejam interessantes, a partir de uma escolha pessoal. 

O Brasil é um país onde o percentual e a implementação da leitura é bem escassa, as pessoas acabam destinando o seu tempo para outros aspectos como estar conectado nas redes sociais, assistir ou até mesmo ficar sem fazer nada. Segundo a bibliotecária Sueli Soares: “Temos problemas de mão de obra qualificada e a falta de cidadãos críticos”, disse. “O processo educacional vai se tornando complexo ao longo do tempo, e para acompanhá-lo é necessário o desenvolvimento das habilidades de leitura”, completou a profissional da educação.

Os brasileiros sofrem com muitos aspectos em relação à leitura, a falta de tempo, a perda da paciência ao ler um livro, a ausência de dinheiro, os valores que são estipulados nas livrarias, ou por não gostarem de ler. Esses são alguns dos fatores mais relatados entre as pessoas. Uma pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro mostrou que durante o ano de 2024, a média básica de leitores no Brasil é de 7,6%. E para os não leitores é de 5,3%, com uma base de leitura de 6 livros por ano. 

A escritora norte-americana Barbara W. Tuchman, relata que “Sem livros, a história é silenciosa, a literatura é muda, a ciência é paralítica e o pensamento se fossiliza.” A leitura, além de ser uma ótima ferramenta para o desenvolvimento educacional e cognitivo, é também um estímulo à criticidade. 

De acordo com o estudo da Pesquisa Retratos da Leitura, publicado em 2024, mais da metade do Brasil, não lê. Sobre o assunto, Sueli Soares comentou: “[...] vivemos num mundo complexo que exige capacidade de entendimento de um cenário amplo, diverso e com diferentes níveis de profundidade [...]”, disse. “Sem políticas públicas à altura, não conseguiremos transformar essa realidade tão desafiadora. Seremos uma sociedade sem capacidade e habilidade de compreender e transformar o mundo”, finalizou a bibliotecária.

Texto: Maria Luiza Martins, Samuel Oliveira e Debora Barros-alunos de Jornalismo em Multimeios da Uneb-Campus Juazeiro Bahia


 

Samuel Oliveira, Debora Barros e Maria Luiza Martis-Estudantes Jornalismo em Multimeios da Uneb-Juaz