Artigo - A Tecnologia da Conexão: Resgatando Vidas e Histórias no Fluxo do Tempo

A tecnologia da comunicação revolucionou a forma como vivemos e nos relacionamos, especialmente em um mundo onde as distâncias geográficas e temporais, que outrora nos separavam, foram drasticamente encurtadas.

Vivemos hoje em uma era onde a troca de mensagens instantâneas e a criação de grupos virtuais nos permitem manter conexões que, há algumas décadas, se perderiam no fluxo natural da vida. Contudo, enquanto essas ferramentas nos aproximam, elas também nos desafiam a lidar com a dinâmica dos reencontros e com as expectativas congeladas no tempo. 

 Em tempos passados, éramos compelidos a aceitar e respeitar as leis do universo que regem os encontros e desencontros da vida. Pessoas vinham e iam de nossa convivência de acordo com as circunstâncias das fases da vida. Amigos de infância, colegas de trabalho, vizinhos e até mesmo familiares muitas vezes desapareciam de nosso horizonte, deixando memórias que guardávamos com carinho. A dinâmica era fluida e imprevisível, mas carregava uma beleza singular. 

A tecnologia, no entanto, mudou essa narrativa. Hoje, plataformas como o WhatsApp nos permitem criar grupos, reviver antigas amizades e planejar reencontros que, em outros tempos, seriam quase impossíveis. O poder de rastrear histórias, reviver conexões e compartilhar experiências é inegavelmente maravilhoso. É como se tivéssemos em mãos uma máquina do tempo, permitindo-nos viajar ao passado e trazer personagens importantes de nossa história para o presente. 

Esses reencontros, porém, também revelam um paradoxo: ao buscarmos pessoas que marcaram nossas vidas décadas atrás, muitas vezes encontramos não os mesmos rostos e personalidades que habitavam nossas memórias, mas indivíduos transformados pelas circunstâncias da vida. Algumas dessas pessoas surgem mais serenas, maduras e realizadas; outras, marcadas por desafios e experiências que lhes deixaram feridas. E, inevitavelmente, percebemos que nós também mudamos. 

Essa constatação pode ser tanto enriquecedora quanto desafiadora. Ao longo de hiatos de 20, 30 ou até 40 anos, congelamos na memória a imagem de quem éramos e de quem eram aqueles que conviviam conosco. Somos, muitas vezes, traídos por expectativas idealizadas que não correspondem à realidade do tempo. Descobrimos, então, que a dinâmica da vida não obedece às nossas vontades, mas sim às suas próprias leis. Assim como a lei da gravidade existia antes de Newton descrevê-la, a lei dos encontros e desencontros sempre governou nossas trajetórias, nos ensinando sobre a importância de aceitar e respeitar a fluidez da vida. 

Contudo, apesar das surpresas e desilusões, o reencontro com essas histórias de vida sempre traz um sabor especial. Afinal, cada pessoa que cruzou nosso caminho, seja por um breve momento ou por longos anos, contribuiu de alguma forma para a construção de quem somos. Essas pessoas, com suas virtudes e imperfeições, ajudaram a moldar nossa identidade e deixaram marcas indeléveis em nosso coração. 

 A vida é, acima de tudo, um fluxo. Ela não para, não se prende ao passado, mas segue em frente, como um rio que busca o oceano. Olhar para trás e reviver histórias é importante, mas é fundamental lembrar que o presente e o futuro nos aguardam com novas experiências. Se fixarmos nossos olhos apenas nos espinhos  que encontramos ao longo do caminho, deixaremos de apreciar a beleza e o perfume das rosas que florescem a cada nova estação. 

Portanto, a tecnologia nos deu o privilégio de revisitar o passado, mas cabe a nós aprender a lidar com suas nuances. Que possamos aproveitar as ferramentas que temos hoje para nos reconectar, ressignificar e continuar construindo pontes que nos impulsionem para frente, sempre conscientes de que a vida é feita de encontros, desencontros e, acima de tudo, aprendizados. 

Porque, no final, o maior presente é poder ouvir as histórias daqueles que, de alguma forma, fizeram parte de nossa jornada, enquanto continuamos escrevendo o roteiro dessa grande peça teatral que é a vida.

Rivelino Liberalino Almeida Rodrigues é um estudante de Direito que , há 30 anos, tenta aprender Direito do Trabalho, reside na pujante e bela Petrolina (corpo) e trabalha na calorosa e festiva Juazeiro( alma)

 

Bel. Rivelino Liberalino OAB/PE 534/B

advogado militante nas áreas cível e trabalhista, pós graduado em Direito Tributário pelo IBPEX- Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão.